quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Blues Escarlate



Desembainho o meu punhal de dois gumes e aponto pro norte, parto sem sorte, o costume de pescar em mares com peixes grandes é insuficiente qualificação para tamanha missão, a encomenda descrita na cartilha exigirá qualidade de um excelente desbravador, será uma árdua expedição, espero não ter que enfrentar o escaldante sol de Caxemira, sei da perdição reservada a conquistadores, John the conqueroot que o diga, foi um dos que sentiu o amargo sabor da navalha na carne, as trilhas que levam aos anciões de raça gentil são severamente barrentas, obstruídas por minerais ásperos, uma estrada perigosa que protege valiosos conselhos, é sábio então seguir por um caminho mais brando, considerar atalhos e não ignorar a hora do repouso, as despedidas são sempre tristes no instante do agradecimento, tantos foram os agradecimentos pelas agradáveis estadias, todavia, cedo ou tarde sempre chega a hora de partir, o cheiro da chuva nas tardes de outono e as tantas embarcações produziam enorme desânimo pela dificuldade da busca, como se fosse uma busca vã, no porto dos lírios foram muitos os boatos acerca da presença da tão procurada personagem, contudo, foram apenas boatos, na ilha do frade a sorte também passou longe, as tantas cidadelas mostraram briosas personagens, algumas com belas cabeleiras, muitas de elegante caminhar, outras com altivez no olhar, outras de puerilidade no ar, mesmo contudo, tais qualidades eram insuficientes. 

A cada aterrissagem a chama da fé diminuía, a bordo de um sofrido zepelim era possível avistar babilônias, contemplava a imensidão territorial e pensava por onde ela poderia estar, tentava ouvir as melodias de suas cantigas através do vento, nas trilhas a pé divagava atento, nas janelas de adeus por cima dos trilhos imagina qual seria seu paradeiro, as inanimadas figuras eclesiásticas presentes na sala do trono zombavam de mim com sorrisos estáticos, tal fenômeno me inspirou a abortar a missão, motivou a renúncia à busca pela menina mulher, aquela que vestiria a sacra veste, logo assim, o referido manto sagrado permanece imaculado nos subterrâneos do sub céu, à espera daquela que irá profaná-lo, permanece à espera daquela que irá envergá-lo em prol do deleitoso féu blues escarlate.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Indivíduo.



Elementos abstratos e concretos, sob uma  noção abrangente, no sentido de valores no geral, são quem identificam o homem,  essas identificações são quem o protegem, protegem da grandeza do todo, do concorrente universo de possibilidades, diante de tantas alternativas o homem se agarra à essas identificações em busca de refúgio  e justifica através delas a grandeza que corre na contra mão das alternativas que não o identificam, com isso, é extremamente angustiante quando essas identificações que qualifica o homem são classificadas de modo inferior, pois a perda dessas identificações o lançam fora da zona de conforto na qual ele repousava, com isso, com a intenção de  voltar ao confortável refúgio o homem busca uma nova fortaleza e contribuiu com a inferiorização das identificações que outrora lhe abrigava, se opõe a si mesmo a fim de ocultar o passado feliz, porém agora vergonhoso, esse ciclo contínuo de cuspir no prato no qual se comia em função de novos banquetes que continuamente surgem, decorre das sedutoras novas alternativas, boas alternativas que substituem as anteriores, entretanto, o ato de condenar o passado vivido também nasce da incapacidade de assumir a singularidade, não é só fruto da constante evolução, isso também provém da incapacidade de se responsabilizar pelas próprias aptidões e interesses, onde a própria identidade é suprimida, ocorre a renúncia do próprio prazer em prol de um movimento coletivo padrão, liderado por regras cultas entendidas como boas referências a serem seguidas, ora, esses padrões coletivos possivelmente e certamente dispõem de boas alternativas para o um, contudo, por serem padronizados, apreciados de modo maciço e por não garantirem os anseios de todos os adeptos, carregam o risco de divergirem com a essência da singularidade de parte dos seres que os seguem, sob essa ótica, é fundamental que o homem priorize a sua singularidade  a fim de evitar arrependimentos, isso evitaria perdas, a perda do tempo, evitaria a lamentação pelos cuspidos pratos.

Mirem e priorizem a singularidade, se inventem através dela, a partir dela, pois essa singularidade é que trará as reais identificações que lhe alienará com verdadeiro prazer.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Santo Pecado




Conforme o cristianismo a definição da palavra pecado  é, "violação de preceitos religiosos", pecar significa "errar o alvo", segundo esses preceitos a essência humana é naturalmente pecaminosa, antes mesmo da fundação do mundo e da existência do homem, todos os seres que viriam a povoar a terra já estavam fadados a viver pecaminosamente, por assim ser, o potencial particular de cada ser, sejam eles talentosos ou débeis é o que determinará o tamanho da transgressão, a humanidade é instintivamente apta a cometer erros, homens e mulheres foram projetados para violar regras independentemente do embasamento religioso, a condição racional do homem o torna uma criatura maleável de modo a desenvolver suas próprias leis e razões, sendo assim, ao passo que o ser humano é naturalmente transgressor, é importante  medir e avaliar o estilo de pecado que cada ser de baixo do sol pode cometer, essa avaliação não tem o intento de fazer juízo de valor ou de divagar sobre questões morais, mas sim diferenciar através de exemplos mostrados por essa avaliação o potencial artístico entre os seres, calcular seus delitos e através deles considerar o valor que os distingue de acordo com a beleza do crime, conforme a criatividade do pecado e  níveis de infrações no geral.

Seja na pré história ou na história contemporânea, na mitologia grega ou em contos de fábulas infantis, em ficções científicas ou no alto escalão da ciência em si, os grandes personagens e personalidades que protagonizaram e se destacaram foram perfeitos transgressores, as grandes figuras públicas que ascenderam  ao governo de um estado ou de uma nação, burlaram regras para sobreviverem à pecaminosa estrada trilhada até  a conquista de seus ideais, os principais militantes da história, tendo com exemplo, Tiradentes,  Bento Gonçalves, Che Guevara,  tiveram que driblar a ética e passear por um caminho torto a fim de garantir o sucesso da causa pela qual lutavam. 

Considerando a arte, grandes mitos abençoaram o mundo com maravilhosas obras, nesse meio dificilmente  a santidade servirá de inspiração para esses astutos gênios, na arte plástica regras são violadas a fim de ilustrarem a plenitude intrínseca ao espírito da obra, nas artes cênicas os componentes  são escravizados pelo viciante poder da imagem, na música crimes são discutidos, paixões são diluídas e toda a dor oriunda da lascívia humana é expurgada no canto e no toque, são todos guiados pelo toque carnal que produz e conduz a composição do egoísta amor, do amor bem e mal correspondido, certamente a tão mencionada elegância de Nelson Cavaquinho não era guiada por hipocrisia e castidade, a poderosa guitarra de Hendrix carregava um tenebroso fardo de males vividos e personificados na emissão de suas notas, o canto da rainha contemplado por seus súditos no samba da vela promovia a embriaguês já pelo amanhecer, Elvis não assumiria o fajuto título de rei do rock se não tivesse afanado as canções de Dixon, Berry, Morganfield e Cia.

Virgulino Ferreira da Silva foi contemplado por Sinhô Pereira capitão do bando do qual Virgulino fazia parte a ter seu próprio bando e levar adiante o legado que eles defendiam, Virgulino se dissociava dos demais soldados cangaceiros, era criador das próprias regras, possuía força e liderança, posteriormente viria a se tornar o maior cangaceiro da história, conhecido como Lampião, o rei do cangaço, amado e temido por todas as extensões do nordeste, seus marcantes feitos ecoaram por boa parte da imprensa internacional,  tal mito não teria nascido não fosse a grandeza de sua ousadia, pois ainda menino já ambicionava grandes caminhos e se sobrepunha aos mais velhos movido por seu olhar agudo, Lampião é apenas um exemplo que mostra que as grandes personalidades e personagens em destaque na história, seja na música, no mundo dos negócios, na vida pública, ou em qualquer área da vida, são aqueles que não se diminuem diante da oportunidade de transgredir, veja, não se trata de uma apologia à transgressão, mas sim da busca pela cura do doentio hábito do "politicamente correto", pois os seres que ascendem para além do imaginado, são aqueles que misturam juízo e carnaval, que sabem mesclar o lado bom do  mal. Amém!

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Saravá!



Feito um pé de senrigueira em meio a ventania eram seus movimentos, um dançar leve com sinuosos movimentos cadenciados pelo próprio e solo cantar, um cântico de fantástica afinação, vocês tinham que ver e ouvir o fino movimento no instante do refrão, aquilo certamente era de nascimento, de nascença, de pulsar o coração. 

E aquela que não dançou, mas cantou, foi Layla, ou Help talvez, soprou o canto, cruzou o oceano e agora canta em outros cantos.

Mais quente que o quente abraço entre os corpos, do que a laçada, foram os gritos de adeus, daquela distância iluminada por pomares e estátuas, os braços movimentavam-se em ritmo de despedida, as pernas partiam guiadas pelos calcanhares até o horizonte enfim tragá-la. 

Pior do que o horizonte que leva é o vento que trás, levada tão "infarenta" e pequena, trazida altiva e serena, com claros olhos que julgam e sentenciam, sem canto, sem dança, sem despedida, apenas um curto sorriso magneto.

O caso é andar por este país e por aqueles países e torcer por reencontro, se é samba que elas querem aqui tem, é ser tinhoso e não ficar de fora na dança do cossaco, acertar as umbigadas, sem horror, com terror, seja de salgueiro a Bodocó, de Itabóca à Rancharia, tantos são os destinos, onde ir depende do formato da arte e da forma do artesão, por enquanto lhes mando um abraço daqui minhas meninas, da terra do frio.  

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Além do que se vê



O ausente texas blues motivou a decepção, decepção essa superada pela convincente e triste justificativa de sua ausência, tal justificativa envergonhou-me pois as razões eram  fortes, não bastasse a decepção precedida pela vergonha, surge uma nova notícia, a notícia produtora de nova vergonha e tristeza, notícia em pleno domingo ensolarado que escureceu-se pela chama que se apagou, se apagou precocemente revelando a eminente fragilidade do corpo em vida, vida que partiu subitamente, arrebatada pelo nada, apenas se extinguiu, essa atividade natural mostra a irrelevância dos atos e fatos, pois até fatos estão a mercê da extinção, assim, não há razão para medir dimensões, a vida por ser tão fugaz quanto a paixão que governa o coração humano coloca todos os anseios e diversidades no mesmo grau de futilidade, é meio fatalista e cruel mas talvez seja aí onde resida a beleza, a graça de desenvolver uma realidade paralela á realidade dominante, imperceptivelmente todos criam mundos paralelos diante das adversidades diárias. 

Adversidades que parecem não existir no Pelô baiano, pelo menos não sob a ótica turista, pois o turismo ali praticado trilhado aos batuques é sentido intensamente por almas forasteiras, pois inconscientemente sabem que tanto o universo astral quanto o universo subjetivo ali criado possuem o mesmo valor quântico, incapazes de serem calculados.

Não conheço a luz de Frankfurt e suas lendárias cervejas, assim como a loira do lado de lá não conhece a escuridão de São Paulo e seus lendários alambiques, contudo,  ela assim como eu personificamos o chão, o teto, as paredes, personalizamos a mobilia, ajustamos o ar para assim simularmos a graça do imaginário, ela conhece o esplendor de Munique e seus sofisticados banners luminosos que antagonizam harmonicamente com a tombada estrutura clássica, mas ainda assim não terá tempo para desbravar Marte, eu de cá conheço os pólos quentes da maravilhosa mãe Brasil mas não terei tempo para me congelar nos iglus e ser contemplado com a curiosa recepção esquimó. 

Os picos solares explodem enquanto aplausos estouram em prol do universo que eclodiu naquele infinito palco renascentista, onde novamente o imaginário se fez valer como realidade, não foi ilusão, não foi magia, mas sim a construção de um cenário quântico e mensurável, admirável, que em meio ao caos e mesmo simulando o caos produz entretenimento  em dias difíceis.

Não há esconderijo para alma, cedo ou tarde ela será capturada, seja num domingo ensolarado em meio ao riso, ou num escuro domingo sangrento em meio ao rancor, a alma não se afugenta, enquanto ela aguenta, sobrevive e inventa, essa capacidade a torna onipresente no espaço e no tempo, ainda que espaço e tempo sejam curtos, esse poder de invenção da fugaz alma humana reúne os cinco elementos da natureza e produz seu próprio universo, universo repleto de sombra e luz, onde vento, fogo, terra, água se misturam e originam ambientes, criam ondas que dão forma e ritmo, ondas que determinam instantes, pois definir vida é tarefa falha, afinal é isso que ela é, falha, a vida é instantes, isso tudo justifica o poder da ficção, pois é isso que  fazem os gênios, eles tornam a realidade em uma bela e alegórica ficção, onde essa maravilhosa criação assim como a vida dura apenas instantes, isso equilibra o real e o imaginário, é isso que iguala a vida à uma maldita e prazerosa ficção.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Energia volátil


O monstro da bateria Neil Peart líder e poeta da progressiva banda canadense experimentou o doloroso instante da morte, experenciou a perda de sua filha, viveu uma desastrosa calamidade, foi submergido assim a intensa dor, tais circunstâncias propôs a Neil o caminho da busca, lançou-lhe à Odisséia, lhe pôs na estrada rumo ao incerto, essa fuga trilhada nas gélidas e briosas estradas do hemisfério norte ao norte do Canadá fez de Neil um ser anonimo, sem nome, sem identidade, ele e sua venenosa Harley que cortava ventos e folhas, montado em sua moto feito um cavaleiro sem sela e sem camisa, um cavaleiro que cavalga por entre as estações em busca de respostas, o pranto de Neil causado pela casualidade que levou-lhe o amor de sua filha foi quem roubou Neil de seus fãs durante esse longo período de encontro consigo mesmo, mas ele voltou, voltou forte, a dor sangrou, cicatrizado, foi medicado por distintas atmosferas respiradas pelos cantos e barrancos por onde sua motocicleta esteve, o bom baterista não se manteve estático, partiu em busca da cura, mirou a cura e foi curado pela diversidade alquimista, pela simplória espirituosidade, pelo amor, pela quente paixão de cidadelas que ardem sob  chamas lunares, curado, voltou para retomar o Rush que o aguardou pacientemente, esse retorno revelou um poeta mais firme, um percussionista mais leve, as escolhas e adesões de Neil por onde esteve lhe deram nova identidade, esse caminho de liberdade, de livres escolhas, lhe embelezou, a mesma beleza adquirida apenas em lugares onde se chega de barco, talvez nas circunstâncias do século XV o tempo de cura para Neil teria sido maior ou talvez poderia não ter encontrado essa conquistada paz, pois não haveria motor para transladá-lo sobre  rodas em velocidade sonora, certamente o artista do século XV em cima de seu cavalo no ato da fuga  dispunha de obstáculos distintos aos de hoje, porém dispunha da mesma liberdade existencial que lhe permite escolher o que é proposto pelo meio externo a ele, escolhas ruins e boas que no acúmulo vão dando forma ao caráter do personagem, opções lançadas, opções soberanas e independentes à existência do ser ao qual são propostas, opções que caracterizam continuamente a mutante identidade do artista, poderia então o personagem se mover por trilhos a bordo de uma fúnebre maria fumaça ou voar com classe em um fino jato, compete a ele decidir o meio de locomoção de acordo com  seu propósito durante a viagem,  se trata do passageiro que hora opta pela nave, hora opta pela locomotiva, em momentos se entrega à paixão, em momentos se condena ao rancor, nesse caso o único fenômeno arbitrário é não poder escapar dos tantos encontros que a superfície e suas casualidades lhe submete, encontros que lhe apresentam novos modelos e novas formas, novas opções a serem assimiladas e novamente reformular a identidade em constante e infinita mutação, com isso, a força circunstancial de eventos que ocorrem das mais variadas formas, sejam elas catastróficas ou prósperas, é o que determinará o tom da beleza, a velocidade da motocicleta, se será barco a remo ou à vela, é o que formará a identidade do ser, seja ele gênio ou bobo, pois se hoje ela se foi, amanhã Neil partirá, mas se hoje ele for fogo, amanhã se apagará.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Musa Magnética






O ácido riff de guitarra timbrado com sombria sutileza, marcado por fluentes ondas pesadas justifica o porquê da guitarra ser o instrumento que conota, denota e simboliza a força do Rock and Roll.


O terno clássico do Jazz é composto por piano, baixo e bateria, contudo, o agudo ataque do trompete de  tão penetrante na sensação e na mensagem proposta pelo jazz tornou o trompete o símbolo que traz o jazz à memória, há quem pense que seja o saxofone pelo seu formato similar ao da letra "jota" cuja a qual se inicia a escrita da palavra jazz, no entanto, basta sentir o estrago que as notas entoadas a partir do trompete causam na acústica do sofisticado ambiente no qual ele impera.

O samba é memorável pela geniosa percussão que lhe torna peculiar, logo, o pandeiro é subentendido como o responsável pela ilustração que leva a mensagem do samba, mas o samba não é apenas uma magnífica batucada, ele é simpaticamente trivial, poderosamente difuso na aliteração rimada aos devaneios da paixão, é necessário portanto harmonia, um instrumento com o poder de harmonizar, assumir a melodia e ritmar percussivamente, essa exigência é perfeitamente notada nos arpejos do cavaco, do bom e necessário cavaquinho.

O rap tem em si infindos elementos para sua peculiar sonoplastia, samplers, elementos eletrônicos que simulam efeitos audiovisuais indispensáveis na transmissão da sua mensagem que é seu maior instrumento, recado esse levado pelo poder da palavra, da rima, da voz, da boca, basta então um microfone para ter o perfeito rap, pois essa boca, essa voz que leva a palavra inserida no rap também é capaz de simular pick-ups, melodias de contra baixo e até a alegórica bateria, desse ponto, aponto o microfone com principal simbolo do rap.

O Blues distingue-se dos demais por ser o mais elementar, o mais traumático, o que originou todos os gêneros citados aqui, seu papel no rock é estrutural, no rap basta ouvirem o álbum Electric Mud e entenderão as palavras do líder do Public Enimy ditas no documentário de Martin Scorsese (Godfathers and Sons) da série "Nothing but the Blues; no jazz e no samba o blues está emaranhado a eles por possuírem as mesmas raízes, mas é o blues o consolidador, pela sua particular intromissão onipresente em tudo que se vê e se ouve nos dias atuais, o poder de sua falsa modéstia escolheu o seu menor instrumento pra representá-lo, escolheu a harmônica, a gaita, conhecida também como gaita blues, quanto ao porquê, é melhor não dizer.

Os gêneros citados a cima de tão ricos, são capazes de disporem de qualquer instrumento musical, por mais improvável que seja não há limite para a experimentação, porém eles têm em particular um instrumento que melhor os representa e expurgam suas sensações.

Os gêneros musicais citados também se particularizam  através de suas musas. O samba é comumente inspirado por robustas morenas, morenas altivas no swingado sorriso em comunhão com a ginga do desejado corpo.

O rap tem em suas musas a inspiração calcada na rebeldia do ideal, seja ele vão ou efetivo, a inspiradora do rap não tem a estética como sua principal arma, mas sim a adesão da causa.


O jazz por mais contemporâneo que seja, não perdeu o sentido elegante que retrata suas musas, dos anos vinte aos anos quarenta e até aos dias de hoje, o luxo  de seus ambientes, seja em prostíbulos do século passado, em salões undergrounds que embaçam corpos bêbados, ou em casas de shows da atualidade, a vaidade ostentada em finos adornos e a delicadeza vista apenas nas componentes do clima jazzeiro é o que motiva o estalar dos trombones

O blues dispõe de um padrão menos rigoroso, onde sua musa é posta em um grandioso pedestal, a musa é personificada divinamente sem uma razão que justifique isso, logo, definir um rótulo para a inspiradora do blues não faria muito sentido pelos tantos sentidos representativos que a musa do blues tem para seus músicos.

Quanto a musa do rock and roll, o papel assumido por ela é simplesmente esmagador, pois para que ela assuma o posto de musa ela terá que dispor de adjetivos raramente encontrados no padrão feminino, esses requisitos exigem consistência revolucionária, é necessário que haja frieza na sensualidade, calor e principalmente altivez em sua beleza estética, onde o músico é submetido diante da fina beleza que o reduz, que o seduz e assim produz a necessária centelha que irá inspirar clássicos e mais clássicos.

Por vivermos em uma época carente de boas obras musicais, onde não se cria mais nada de grande valor, sugiro aos herdeiros que legaram a missão de dar continuidade à música, que desenvolvam um novo gênero  com enfoque na guitarra, cavaco, trompete, gaita e que sejam afiados no recado dado, que se atentem nas musas que irão lhes inspirar, pois as musas de hoje em dia deixam muito a desejar, basta olharmos para o atual cenário, sendo assim, pelo o bem da música que virá, busquem musas cruéis e blindadas à chulas tendências, que disponham de fina beleza, pois assim motivarão futuros clássicos através da sutil sensualidade essencial para inspirar a criação de boas obras musicais.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Os subterrâneos do Subbar.



O êxtase e o frenético ritmo do alto pico traz consigo o consequente cansaço mesmo aos eletrificados, o sossego da monotonia e a calmaria  produz mesmo nos pacatos gana  e excitação, mundos opostos, mundos de faz de conta, no silêncio ou no estrondo o intenso ataque desferido no coração é frio e curto, a dureza do golpe é dilaceradora, o terror mira metrópoles, o horror mira vilarejos, a violência política extermina o sonho cidadão, a investida maligna invade o sonho do plebeu, naturalmente o mau que pratica o mal ronda as ruas da cidade,  sobrenaturalmente o mal invocado pelos maus flutuam pelos  ares da vila, existem corajosos militantes que combatem o abuso de poder, terminam portanto inanimados em homenagens póstumas, existem corajosos guerreiros que duelam contra a escuridão, terminam portanto forjados no fogo.

A civilização testemunha a Direta que governa legalmente à luz do sol e a Esquerda que impera ilegalmente à luz da lua, pois a Direita à noite pratica ilegalidades e a Esquerda ao dia simula a legalidade, no mesmo tom a plebe contempla os males causados pelo alto escalão do bem que é antagonizado por revolucionários do mal em busca do bem maior, quer seja sob às luzes da cidade luminosa ou sob às candeias do bucólico vilarejo, saibam que o bem também pode ser mal e o mal tão mal pode ser bem, tal princípio se aplica também ao demoníaco e ao divino, ambos os lados têm propósitos que justificam suas práticas e intentos.

Há quem milite por altruísmo, há quem lute em egoísmo, opositores do bem e partidários do mal, isso tudo é comum, o diferencial está na unificação entre o ódio e o amor, a coragem está naqueles que mesclam mal e bem, divino e maligno, a verdadeira coragem está naqueles que trarão êxtase e agitação à monotonia campestre, naqueles que levarão paz à violência metropolitana, o grande feito não é tomar partido, mas sim atenuar o cansativo rush e agitar o sonolento tédio, essa utópica busca inexiste por ser fantasiosa, contudo, tal concepção não inibirá a audácia do terrorismo do blues, não intimidará o fervor da dança do frevo, existem alguns cientistas atrevidos que pretendem criar esse choque, será um choque de épocas, de verdades, de culturas, o resultado chocante de tal experiência se mostrará em um cínico e místico cenário britânico, onde o tempo não corre, clássico e eclesiástico, levaremos pra lá o glamour de Chicago e o ardente tempero do agitado nordeste brasileiro, corações bons serão corrompidos diante do horror,  corações cruéis serão submetidos ao amor, a beleza alegrará a tristeza, a alegria entristecerá a beleza , um hostil e confortável ambiente indissolúvel que de tão arriscado necessitará da força dos cinco elementos, de mentes sábias para manipular o poder que será gerado e concedido por tamanha experiência. 

Assim, brotará desse lascivo sub mundo legiões que levarão o poderoso legado do tenebroso Baião do Mississipi. 

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Natureza noturna



Aquele estreito carrega marcas, manchas que denunciam o injusto holocausto que nos concedeu o feliz caminho hoje percorrido, houve ali a queda do tolo, do tolo absolutista ufanista da violência, violento que sacia sua imperfeição com deliberada crueldade, houve ali a ruína do inocente, do ingênuo submetido a uma causa que lhe é alheia e que portanto causadora de profunda amargura, houve também quem se regojizasse com a pintura do solo em tom escarlate, vermelhidão proveniente do sacrifício que legou o triunfo dos indignos vindouros, a eminente carnificina estimulou a arte dos partidários da morbidez, estimulo esse que impeliu-lhes ao caminho da canção pintada com rubro líquido promotor da atual bem sucedida máquina orçamentária. 

Disso nasce o grito, o brado, o poderoso e irônico simbolismo corporal dos lesados e descontentes, nasce a fúria de falsos tímidos de pensamento grandioso, surge a iminência do ataque letal da usuária de véu tênue, é o fim da plenitude da alma e o começo da triste lucidez.

 Assim toda a concepção da presente e ativa crueldade revela a grandiosidade da única e comprovada entidade, cujo o nome é conhecido por Natureza, insensível Natureza que de tão difusa mostra-se autêntica apenas nos sonhos, Ela movimenta-se de modo alegórico, concede livremente todos os desejos de seus componentes, impõe também o tormento em suas ilusões que por tal ação otimiza o verdadeiro caráter da arte após o despertar de sua ludibriada vítima.  

Movido pelas concessões de reais experiências subconscientes, o mero membro que compõe a essência e os predicados da unidade da Natureza percebe que o sobre natural existe e se revela através de um fenômeno natural (o sonho pelo qual a Natureza se revela) e que por isso perde suas características de "super" e toma forma cognoscível.

Essa noção que comprova o sobre natural inserido no natural nos dá a liberdade de divagar, de investigar, de divagar e de permanecer a investigar o "todo",  todavia, causa também em corações mansos a revelação, o efeito apocalíptico de que o refúgio está apenas na própria habilidade de distinguir o prazer da dor, o rancor do amor, a luz das trevas, pois em tal conceito o termo "certo" bem como o termo "errado" está apenas para aqueles que ainda estão sob a venda dessa enganosa Natureza.

Então meu bem, não culpe essa necessária bebida narcotizante que qualifica a sátira do sábio, pois não há mácula, há apenas desejo, muito desejo, há apenas vaidade, há muita verdade.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Convêm



Nasce então o Baião, surge súbito, otimizado pela lamúria gonzaguista, pela euforia gonzaguiana, pela safadeza e sobretudo pela saudade, antes mesmo do samba o fluente e presente baião decide então contaminar os ouvidos dos bons meninos que viriam posteriormente desenvolver a corpulenta e difusa música popular brasileira.

Já esse Baião aqui, esse forró difuso em palavras torpes, teve primeiramente no seio de seu criador o samba como primeiro agente hipnótico, entrelaçado no coercivo samba da colina ocorre o concebimento do batuque de mentes saudáveis e da poesia de tantãs, em meio a tamanha primazia, o Blues se sobrepõe de modo elegante e aponta o caminho, por possuir estrutura vertebral mui semelhante a do Baião, eles decidem então se fundirem e se tornarem apenas um, nasce portanto o "Baião do Mississipi Blues da Barriguda", tal fusão é fruto da emergência, foi necessário que ambos unissem forças para resistir ao inédito golpe sofrido de modo inesperado, tal ataque fora desferido violentamente precisando assim de um poderoso reforço para um contra-ataque de poderio equivalente. 

Esse forte que abriga cantos, encantos e sobretudo a luz que conduz ao desencanto, permanece forte e inabalável, vivo, transparece nas chamas que o cercam o resultado dos dias vividos, a fumaça nele sobreposta revela o teor das paixões, os ventos dele oriundos carregam o cheiro que notificam as bençãos e males que estão por vir.

 Instaurado e intacto ao longo desses anos, receio que seja a hora de baixar as portas e convidar a adversidade responsável por sua edificação, convidá-la para adentrar  e propor um acordo diplomático, criar uma nova linguagem que dê fim a essa comunicação falha, não mais gastar munições em vão e a exemplo do Blues e do Baião, unir forças para melhor enfrentar os tantos reveses e glórias que  virão.

Assim, será selado o lado do bom do mal e a calmaria surgirá em meio a magnífica confusão.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Algures em Gomorra.


As ruínas de Gomorra não deixaram vestígios de promiscuidade, o fogo mandado deu fim ao festejo, pobre Ló, nunca mais aquele petisco apimentado encontrado apenas na tenda do Seu Arão, oh Gomorra, cidade envolta por flamejantes lamparinas noturnas, rodas de danças que alegravam as noites no centro da cidade, oh balada violenta de trombetas e trompas à beira do alvorecer, quanto rigor meu caro criador, lá também havia beleza interior, a bela era má, bem como o bom feio, já a boa feia era tão bela quanto o mau, certeza  apenas de que feiura exterior é algo ainda presente na existência, de nada valeu aniquilar com a boa preguiça cultivada aos arredores de Sodoma, foi em vão perder o refrão do paranauê fatalmente suprimido e substituído por teco tereco tereco teco e desritmado por tcha tcha tchas, não valeu extinguir com a transpiração, apagar a fulgente paixão intrínseca na pele, dizimar com o brilho da juventude, não valeu o sacrifício por um bem maior, pois nem a pacificação hindu e nem a necessária castidade foi capaz de acalmar planos malignos elaborados em balcões, de barrar a vingança que dará fim ao nobre filho de maria, que sufocará o invejado filho de joana, sacrifício incapaz de incentivar o amor, de dar fim ao pavor, cabe então rememorar os bons dias em solo Gomorrense, talvez um garimpo arqueológico mais minucioso desvende as tendências desse extinto povo, para assim  se juntar os cacos e profanar novos pólos, edificar novos pilares, fundar assembléias longe da percepção divina libertando assim novas Madalenas, dar incentivo a eunucos sem castração, julgar o tolo herói pelo heroísmo e condenar o sábio traidor como tolo, expurgar a impureza sanguínea e compactuar novos acordos de sangue, a tolerância será irmã íntima da intolerância, nesse caso a compreensão será a força da nova Gomorra, fortificação que nascerá a partir da aniquilação da pieguice, o mal assim terá seu espaço reservado, será um aliado  necessário para assim sim prevalecer o "bem maior", já o bem por fim se resguardará da piega bondade que faz do bem o pior dos males, por assim ser, ambos (bem e mal) serão anulados, surgirão então os tribunais democraticamente ambulantes que darão vida ao caos, com isso, novo enxofre cairá dos céus e portanto a Neo Gomorra também desaparecerá. 

Respeitemos então esse ciclo, ciclo sem regras, sem leis,  que se equilibra na incerteza de que tudo isso é certo.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Mátria Amada!



 Aqui do Pernambuco, Raimundo Nonato medita em alto rio são Francisco em como levar sua pequena primogênita de volta para a terra da garoa, ele a quer próximo do maior centro de medicina da América latina, usufruir ao lado de sua pequenina da diversidade gastronômica, levá-la nos maiores eventos, shows e atrações mundiais possíveis apenas na maior metrópole da América do sul, mas também quer que ela sinta o sabor do oxigênio, o fulgor do sol atenuado por fortes rajadas de refrescantes ventanias, pescarias matinais, cavalgadas rumo ao por do sol, olhos famintos por horizonte e qualidade de vida vividos apenas na natureza da manhã, reside então o grande impasse entre a beleza no artifício da cidade e seus valores culturais e o apaixonante calor do nordeste que aquece o sangue, dúvida entre o cancerígeno trânsito de São Paulo e a desordem da violenta Petrolina, dúvida entre as corpulentas nordestinas e as elegantes paulistas miscigenadas.


 Ele decide então ficar, sente pois então saudades do fervoroso caldeirão saopaulino em  partidas dominicais no bairro do Morumbi, parte para São Paulo, sente Saudades pois então dos terapêuticos mergulhos noturnos em vias fluviais, volta para o norte e sofre com a amplificação de suas cáries por não confiar nos dentistas locais, volta para Sampa e percebe que rede combina apenas com pomares, volta ao calor do sertão e lamenta por não poder usar aquele belo sobretudo italiano, parte então pra Itália e percebe que a pizza a exemplo do futebol que naturalizou-se brasileiro pediu junto ao consulado cidadania paulistana, de volta à São Paulo se lembra com bom grado do espírito milenar inerente ao velho continente, foge novamente para o nordeste e toma um chá quente ao lado de um magrelo negro homossexual que o ridiculariza ao ingerir uma forte dose de conhaque Dreher, envergonhado volta a residir em Higienópolis e é seriamente ferido por altivos nazistas skin reds (pseudos europeus), temeroso se refugia na Bahia e é esfaqueado pelo "upa neguinho!" na ladeira da preguiça, pede abrigo para Bárbara Oliveira em Londres e percebe que lá não tem coco, nem salsa, nem Zeca, nem pé de moleque e nem tampouco baleiro, decide então encarar  a violência por possuir braços fortes e se encanta com a bela menina que ofusca o corcovado em plena cidade maravilhosa, mas o "fainque" lá ouvido lhe afugenta novamente à São Paulo onde ele adquire o vício por mangás e karaoquês com seus amigos da academia de karatê no bairro da liberdade, tal convivência nos tatames lhe apresentou um matuto louro que o convenceu a viver no extremo sul do país, lá viu analfabetos e doutores afanados por Maradona, por ser fã de Pelé partiu para Santos e aos  poucos foi subindo até chegar no litoral norte, já nos mares azuis conheceu a Má Lila que partiu seu coração o fazendo novamente voltar ao norte onde foi chifrado por um boi bravo e assim voltou à São Paulo para se tratar no hospital das clínicas, religioso como é, atribuiu sua cura a força da alquimia praticada pela feiticeira que conheceu no avião, torna-se então discípulo de Alister Crawley e compra uma guitarra Les paul para se envenenar no heavy metal, aprende alguns acordes e abandona a guitarra para enfim buscar sua filhinha, mas dessa vez não para trazê-la de volta para São Paulo e sim para que ela o acompanhe em suas expedições mundo afora, ou melhor, para acompanhá-lo em suas expedições Brasil adentro, pois o Brasil pode ser considerado um continente por conta de sua extensão territorial e talvez até um planeta por conta de sua diversidade, quer seja ela na fauna ou na flora, no samba ou no futsal, pois na flora temos hortelã e eucalipto, na fauna temos Lapicho e Tatu, no Samba Reginho e Cartola e no futsal falcão e até gavião, violentos gaviões da fiel que mancham nossos jovens do futebol de modo independente, nesse vai e vem eterno ele desenvolve seu linguajar brasileiro de poesia crua e percebe que a pronúncia alemã e o tom nasalado do mandarim não motivariam e nem inspirariam o brado expressivo de Elis.

 Lhe exorto meu caro Raimundo Nonato! Não há para onde fugir, em Votuporanga ou em Juazeiro seus cabelos permanecerão crespos e emaranhados, no Maranhão ou no Japão seu tom permanecerá desafinado, não seja desatinado, pois "não importa onde se nasce ou onde se busca refúgio, o que importa é o pensamento", ainda que queiras enfim residir eternamente na Nova Jerusalém, lhe recomendo ficar aqui no Planeta Brasil , pois nas bodas do cordeiro temos apenas "hosana, hosana, hosana nas alturas"! havemos de convir que isso é muito chato, entediante, não tem a menor graça, não tem o mínimo tempero, diga-se de passagem que o termo "tempero" combina muito bem com os coloridos filhos desse solo, dessa mátria odiada Brasil.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Deleites.


 Suponho que os neurônios sejam as células mais ativas no organismo animal por deterem a responsabilidade de receberem e transmitirem sensações e estímulos do meio interno e externo ao corpo, essa variante de sensações percebidas pelo sistema sensorial propõe ao organismo responder à essas sensações a fim de manter o equilíbrio mantendo assim o corpo em constante manutenção.

 Os órgãos componentes do sistema sensorial duelam entre si pra definirem qual desses causa mais irritação ou sensação de prazer ao corpo.  

 Comecemos pelos ouvidos, detentores do sentido da audição, eles são capazes de submergirem o corpo a uma profunda irritação por serem capazes de captarem as frequências sonoras provenientes dos morros cariocas, causam uma enorme intoxicação no corpo e na mente ao receberem esses ruídos de “poesia” obscena, recitada por vozes desafinadas de aborrecível dicção que inflamam perdidas multidões, entretanto, esses mesmos ouvidos promotores do desconforto, são os mesmos ouvidos que lhe tranquilizam no momento da adversidade, que lhe trazem o tênue solo de Ritchie Blackmore, o necessário shuffle da harmônica de Little Walter, ouvidos que lhe desintoxicam ao captarem o sutil ruído do leve sopro da loira de natureza bucólica.

 Considere agora o nariz, órgão detentor do sentido do olfato, recebe e regula as substâncias voláteis, elementos químicos que se vaporizam para a forma gasosa, que podem causar grande mal através da intoxicação, não obstante aos odores, contudo, graças ao olfato, é possível se contaminar com o agradável cheiro dos dourados cabelos da menina em movimento, é possível se deleitar com o confortante aroma transmitido pela bela pele enrubescida após o longo abraço do reencontro.

 O paladar é o sentido da língua, através das papilas gustativas a língua percebe os sabores, a língua é o grande carrasco da criançada ao lhes mostrar o amargor na hora de ingerir  medicamentos, maltrata turistas que subestimam o tempero picante do acarajé baiano, porém, é a língua que estimula o prazer durante a ingestão de um saboroso salmão ao forno, que traduz o peculiar sabor da língua cor de rosa da menina de lábios rosados.

 A pele é o órgão guardião protetor do corpo, ela impede a passagem de micro-organismos, substâncias químicas e agentes físicos nocivos para o interior do organismo bem como regula a temperatura interna, também é a responsável pelo sentido do tato, o tato capta informações dos corpos físicos, desde textura, grau de rigidez e temperatura, com isso, é o órgão que mais capta sensações dolorosas, é castigado por altas e baixas temperaturas e agressões físicas sofridas pelo corpo, no entanto, é a pele que possibilita o prazer de sentir a maciez e o calor da menina de leve coloração.

 Por fim, a visão, que se manifesta através do olhos, olhos que identificam as formas e as cores de tudo o que é concreto, talvez os olhos sejam os receptores sensoriais que menos causam danos ao corpo, pois no instante da contemplação de uma imagem aborrecível, basta fechar ou desviar os olhos que o incomodo é cessado, bendito seja o dom da visão, ora, os olhos mostram a sinuosidade do corpo da moça harmonizado com os elementos que compõem a natureza revelados pela luz, através dos olhos nasce o desejo pelo que é revelado em perfeita imagem, o desejo de se comprazer com o que é visto em perturbadora contemplação.

 Ao considerar a função de cada sentido, audição, paladar, olfato, tato e visão, percebemos que eles desempenham papéis de deleite, bem como de tortura, notamos a proximidade que existe entre o prazer e a dor, portanto surge a questão: Qual é o tamanho de sua dor? Qual é o tamanho do seu prazer?

 A resposta para tais perguntas são extremamente difusas por sabermos que dor e prazer são possíveis também sem a ação dos cinco sentidos do corpo humano, notamos então um agente do prazer mais poderoso que os cinco sentidos, talvez seja por isso que a dor física dói e a não física destrói, na mesma tônica o prazer físico compraz e o não físico traz paz.

Então pobres mortais, sugiro um brinde a todo o prazer do mundo! Amém!

quinta-feira, 29 de março de 2012

On the wall


O rei Salomão filho de Davi, emblemado por profunda sabedoria exortava seu povo acerca da lamentação, da inevitável lamentação consequente de ações passadas, a eminente sabedoria personificada em Salomão iluminava os rastros deixados por seu passos, desvendava a verdade ligada a erros e males, veja, essa luz que capacitava os olhos de Salomão em perceber a verdade em meio ao nebuloso e de encontrar o equilíbrio em meio às trevas era a mesma luz que submergia seu coração à tristeza, essa visão esclarecedora sobre si mesmo e sobre acontecimentos embaraçosos tornou Salomão em um verdadeiro lamentador, pois assim, ele aprendeu a olhar para trás consciente do processo de semeadura que justificava o sucesso da colheita, haja visto, que um de seus principais provérbios recomenda que se atente nos dias de juventude para que nos dias da velhice não surjam descontentamentos, ao considerar esse estilo peculiar do rei Salomão, percebemos que dentre todas suas faculdades, aptidões, provérbios e ensinamentos, Salomão pouco dissertava acerca do futuro, ele pouco vislumbrava sobre as possibilidades de dádivas ou desgraças que poderiam recair sobre si, não repousava em hipóteses.

De certo modo compreendo essa hesitação por parte do filho de Davi em evitar se confrontar com o futuro, afinal, o ato de sonhar com o futuro é tão prazeroso quanto perturbador, a capacidade de enxergar o que está do outro lado do muro produz angustiante ansiedade, já a incapacidade de ver o que está por detrás do muro produz ociosa angústia, é sempre uma tristeza alegre ou uma alegria triste, por assim ser, o que traria mais conforto ou desconforto, a cegueira ou olhar biônico? 

A compreensão acerca de erros passados causa  males fortificados pela lamentação, a visão sobre o que está por vir causa males alimentados pela ansiedade, a incapacidade de perceber erros passados gera males pela impossibilidade de correção e a falta de expectativas futuras abastece a improdutiva estagnação. 

São sinuosas linhas circulares que aprisionam todos nós filhos do sol, pois os olhos apagados encarcerados na escuridão estão imunes aos perigos da bela, afinal a cegueira não permite que eles contemplem seu deleitoso fel, todavia, os olhos acesos, livres  da escuridão estão suscetíveis ao veneno da bela carcereira.

Queira ou não queira, tolos e sábios, altivos e simplórios, somos todos nós vítimas de nossas próprias vaidades.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Peregrino


Hoochie Coochie Man em seu difuso percurso possuiu a trilha de John o Conquistador, os sons emitidos por sua garganta ecoaram por ondas difusoras que leniam corações aflitos em tempos difícieis, envergou com maestria o esplendor da telecaster, desfilou em posse de cintilantes Cadillacs, mostrou aos novos prodígios a essência dos palcos, conduziu gentis e hostis à profunda reflexão dos deleites e demônios de cada dia, ora, este sábio bom vivant também conheceu a penúria dos campos de algodão, experenciou o ardor e a fúria do escaldante sol em meio à colheita, sentiu a escravidão esculpida em seu dorso em tempos modernos, contudo, a força de seu corpo e a expressão de seus arpejos sugeriram imigração para terras mais férteis, seguiu seus instintos e partiu em busca de um propósito maior, já no exílio, aborreceu-se por ter os bolsos vazios, entristeceu-se pela silenciada guitarra apagada em meio aos ruídos da cidade, deparou-se com a malícia e os perigos da cidade grande, foi submetido à condições inferiores à sua real altivez e assentou-se à roda dos escarnecedores.

E hoje? Onde ele está hoje? talvez no céu, talvez no inferno, não se sabe onde ele está, o que se sabe é que Ele eletrificou o blues, motivou o rock, chamado de buda negro soube orientar seus descendentes, seus filhos de música, Ele inflamou jovens britânicos realizadores de um valioso patrimônio da música, é a fonte que cedeu inspiração aos dinossauros do classic rock, por muitos chamados de pai, por outros tantos de irmão.

Chicago estava submergida em um mar de escuridão, Ele surgiu em seu modesto barco de madeira e a resgatou para a luz, deu novamente aos cidadãos de Chicago e ao mundo o prazer de se ter o amanhecer, não satisfeito seguiu excursionando em missão para levar a diante seu maravilhoso legado, por muitos chamados de mestre, por outros tantos chamado de Hoochie Coochie Man!

quarta-feira, 14 de março de 2012

Retirante


Menino ambicioso é do norte preguiçoso
Dorme tarde acorda cedo do seu lado a Caribé
Lá no seu roque vira e mexe na zabumba
Rock de doer cacunda como tiro de bodoque

Todo jeitoso mostra a gaita pra menina
Copulou é sua sina mostra todo seu bordão

Muito calango caviar é uma besteira
Bebe uísque o malandro
Improvisa por inteiro Buddy Guy e Gonzagão

Vai seu moço
faz a vida melhorar
compra logo esse bilhete
pra em São Paulo se arranjar

Vai seu moço
faz a vida melhorar
compra logo esse bilhete
pra em São Paulo se arranjar

Já em São Paulo Caribé não é pileque
Cabra bom cabra da peste
Mescla o blues com seu baião

Casa alugada em São Paulo a madrugada
B.B.King é guitarra Januário acordeom

Todo jeitoso pois o blues é sua sina
O baião é sua artéria
Lampião é Sonny Boy

Muito calango caviar é uma besteira
Bebe uísque o malandro
Improvisa por inteiro Buddy Guy e Gonzagão

Vai seu moço
Faz a vida melhorar
Compra logo esse bilhete
Pra em São Paulo se arranjar

Vai seu moço
Faz a vida melhorar
Compra logo esse bilhete
Pra em São Paulo se arranjar.

Letra e música: Correia Bluesman

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O sabor do Brasil

Em fevereiro tem carnaval, é tempo de saborear, de explorar os receptores sensoriais do paladar, muita energia é gasta nos blocos em molde de micareta nos quarteirões e esquinões de Santa Catarina, energia reposta por saborosas iguarias marinhas temperadas por especiarias indígenas, o desgaste físico é compensado pela consistente polenta que enfeita os apetitosos pedaços de suínos ao molho picante, energia renovada, inicia-se novamente o ciclo carnavalesco divido entre danças e loiras, cervejas extra e mesa farta.

Nesse período as células gustativas pedem férias, sobretudo em São Paulo, a capital mundial da gastronomia, em sampa é possível ver o samba amanhecer, pelas tradicionais quadras, altivas mulatas personificam o desgastante prazer no ato da contemplação, tanto que pela manhã um cuz-cuz recheado antecederia muito bem uma leve moqueca, a leve moqueca que prepararia o corpo para o forte ritmo das arquibancadas do Anhambi, já na Marquês de Sapucaí, na cidade maravilhosa, a maratona das arquibancadas é bem mais intensa, os foliões adentram nela empanturrados por uma deleitosa feijoada completa, transpirando os apetitosos caldos que dão energia em contribuição a exaustiva lascívia dos bastidores.

Em Minas Gerais, o sentido da visão divide com o paladar o pesado fardo da degustação em dias de carnaval, os pratos mineiros concedem à visão o direito de saboreá-los, verdadeiras obras plásticas que arrebatam o sabor por conta da beleza estética, costeletas ao forno, frutas empanadas e saladas fotográficas dão ânimo aos foliões que comem quietos por se calarem diante do eplendoroso roteiro gastronômico mineiro, já no nordeste o paladar se confronta com a verdadeira concepção de sabor, lá a sanfona canta mais vibrante, o sapateado é descalço, os bonecos são gigantes, os blocos mirabolantes, é o lugar do festival da carne, da carne seca, o delicioso mocotó de boi abastece toda a combustão do corpo nordestino que canta o frevo e dança o coco durante o cântico do galo.

Intrigante mesmo são os festivos no norte, no estado do Pará os blocos carregam a essência tupi, a alquimia de seus pratos desprovidos de influência européia se harmonizam com a particularidade de suas folias de beleza guarani, de beleza carnavalesca, de ritmo viril, beleza brasileira com o sabor do Brasil.



terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Gypsy

Por detrás das cortinas membros do alto escalão da sinagoga discutem o efeito promovido pela herege cor de jambo, aquela que desfilou por entre os muros da babilônia com seu curto manto rouge carmim, aquela que aqueceu e perturbou a ordem nos subterrâneos do Vaticano conduzindo o clero a debater no concílio novos modelos de fé, anciões de raça gentil com enorme sabedoria refletiram sobre a pele de cor homogênea contemplada em meio aos sagazes escarnecedores, contemplada também em meio à obtusa nobreza, rubor que se tornou conhecido nas mais remotas províncias, nos mais distantes vilarejos, a intrigante pele que inspirou dedilhados em alaúdes, que motivou a afinação de retirantes menestréis, a cor que coloriu de sangue guerreiros defensores de seitas criadas a partir de sua aparição.

Tantos acontecimentos originados por aquela que supostamente trouxe a chuva à regiões castigadas pela seca, a bela pele iluminada pelo sol que supostamente fez florescer a primavera a beira do rio, aquela que motivou a fúria do mar enquanto se bronzeava em alto mar a bordo de um bote ralé, e que no mesmo instante fez as ondas se acalmarem com um leve sorriso maquinal, líderes buscam desvendar os segredos ligados àquela poetisa poeticamente calada, ninguém sabe a natureza de sua poética coloração, as respostas foram buscadas nas chamas noturnas, garimpadas no estrelado e nada foi respondido, animais foram sacrificados e não houve resposta, a ausência da ciência que elucidaria as apaixonadas e perturbadas mentes motivou o desconhecido surgimento do termo "pecado", um termo que se tornou muito famoso, que passou a ser usado para definir o deleitoso efeito promovido pela bela de pele vermelha, contudo, tantas foram as expedições e ainda assim a verdade sobre a bela de cabelos negros permanece oculta, com isso, o velho ditado se faz valer em meio a esse mistério: "As coisas reveladas são para os homens, as encobertas não".

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Santa carabina.


O beato em nirvana a mercê da lâmina do executor aguardaria a sentença serenamente sem contestação, a madre Tereza de Calcutá clamaria por misericórdia, Edmundo por outro lado simularia rendição e no primeiro ato de descuido por parte do executor ele desembainharia seu enferrujado punhal e destramente aniquilaria a jugular do impiedoso carrasco, sábio cangaceiro, venceria a morte e viveria para liderar e proteger seu bando dos perigos encontrados em suas expedições nordeste a dentro, numa tônica similar o mesmo beato em nirvana se manteria em profundo silêncio em oposição ao embriagante bálsamo de Maria Madalena,  a madre Tereza faria um reza de exorcismo à Pomba-gira, Edmundo por outro lado mergulharia no cangote de Mariazinha, sábio cangaceiro, teria sua alma refrigerada pelos encantos  de Mary, nos dois casos não houve atitude do beato diante de circunstâncias excepcionais, no caso da santa houve ação teórica, no caso do bon vivant houve ação prática e bem sucedida, contudo, Edmundo coleciona inúmeras cicatrizes provenientes de sua ativa impetuosidade, foi atingido por um tiro certeiro no coração, não contente com o ataque letal, a bendita pistoleira desferiu suas afiadas unhas na enorme chaga no peito do agonizante Edmundo, em tom tênue sussurrou nos ouvidos do moribundo palavras tão letais quanto aquele tiro a sangue frio, desarmado, o sábio animal utilizou de sua principal e única arma disponível naquele instante adverso, utilizou da pouca força que lhe restava e proferiu as secretas palavras guardadas para sua carrasca, nesse instante houve resignação por parte da arrependida assassina, o mesmo fino trato utilizado na tentativa de matá-lo foi utilizado na tentativa de curá-lo, curado foi, Edmundo vive, prossegue com suas expedições, corpo ativo abastecido por carnes nobres cultivadas pelo rei sol, por bebidas de fino engenho, seu fluxo sanguíneo não é purificado pelas abençoadas águas ingeridas pelos monges de Santana, nem tampouco possui um corpo vigorante como os dos santos herbívoros,  porém seu contaminado corpo em forma é governado por uma saudável mente que lhe ensina a escapar da morte, a continuidade da vida é confiada à suas velozes pernas fortes, ao seu ardente punho, está na ponta de sua carabina, uma vida distinta da vida vivida pelos santos que vivem em morte.


domingo, 29 de janeiro de 2012

Caos e borboletas.


Lá perto da ribeira do Piauí o menino não vai à mata por medo, medo do Boitatá, medo da Caipora, eita menino medroso! Pior pra ele, enquanto seus amigos e amigas brincam na mata de médico caipira, ele na sala é pego pelo Saci-curupira, mais pra baixo na grande São Paulo a hoje bela moça ontem menina feia, perdoou o hoje feio homem ontem belo menino pelos seus deslizes, melhor pra ela, melhor pra ele, hoje eles rodopiam e deslizam pelas madrugadas, ignoram o despertador e continuam a deslizar em um deleitoso vai e vem, mais pra frente no coração da capital o cúmulo da comoção rodeia as margens plácidas, crianças apelam, idosos clamam, clamam por pão e misericórdia, tanto clamor e no instante da concessão um filhote de quero-quero surge, as miseráveis moedas são esquecidas e a nobre ave é capturada e abatida, pobre ave, servirá de alimento aos selvagens urbanos mirins, ora pois, azar do pássaro que surgiu em um momento tão infortúnio, em outra porção de terra bem mais a cima, o Jorge interno do AA entorna seu conhaque, enquanto George fita o olho no óleo do Iraque, afugentá-los por quê?  Jorginho vive a hipocrisia para agradar mamãe e Georginho cria a mentira para agradar papai, em meio à essa conexão do passado com o presente é anunciado a abertura de uma sindicância, a colisão de dois trens despertou a atenção da investigação, mas ora, tal colisão estava prevista antes mesmo da fundação do mundo, investigar o que pois então? Investigar a força da casualidade? Agora pouco duas borboletas em sincronia com o findar da aurora se colidiram e nada foi feito em prol de tamanho acontecimento, talvez essa indiferença pelo choque das borboletas tenha sido desencadeado pela psicopatia de Nero, ou pelo último suspiro de Aquiles com uma flecha cravada em seu calcanhar, ou quem sabe pelo embriagante bálsamo de Maria Madalena que perverteu grande fatia do movimento cristão instituindo a impureza no senado, a verdade é que os tantos acontecimentos que originaram e que originarão grandes personagens foram causados pela queda daquele primeiro dominó lá no início, hoje já perto do fim cuide para não repetir os erros cometidos por esses cavaleiros do passado e do presente, pois um cavaleiro de ouro nunca cai duas vezes no mesmo golpe.


quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Apocalipse nosso de cada dia.



Desvendar as leis químicas e físicas que permitem a manipulação plena da matéria possibilitaria a desmaterialização do corpo e sua perfeita rematerialização, uma reconstrução livre de anomalias, a dissolução dos bolos cancerígenos emaranhados no frágil organismo animal seria dentre os benefícios provenientes de tal descoberta o menor, uma metralhadora alemã seria transportada com a mesma facilidade de um punhal persa, seria possível acordar a noite no celeiro ao lado da loira de natureza bucólica no hemisfério sul e terminar a noite de sono no quarto do pequeno caçula no hemisfério norte, frágeis olhos à luz do sol viveriam em eternas noites, frias noites orientais, quentes noites tropicais, salas de bate papo virtual e redes sociais cairiam em desuso, usuários de Skype escapariam para proibidos braços, os obsoletos veículos automotivos já extintos liberariam as ruas para a mocinha desfilar e mover seus longos cabelos, a branca negra brasileira destilaria sua peculiar sinuosidade pelos confins da terra. 

A bola chutada no beco do rato carioca pousará nas engaroadas traves metropolitanas, os cães que por aqui uivam, gorjearão também por lá, os guardiões de fronteiras cansar-se-ão em suas incessantes blitz, pés terão asas, nesse "vai e vem" contínuo ocorrerão recorrentes epifanias, o termo liberdade terá sentido concreto e prático, liberdade falsamente praticada, liberdade pseudamente criptografada em artes plásticas e verdadeira na metafísica do trovador; sem esquecer dos maus dias, eles também lá estarão, fugas e perseguições exigirão habilidade excepcional por parte do perseguidor, o movimento do corpo do fugitivo transcenderá o surreal, seu sangue vermelho se regenerará em segundos a quilômetros de distância tão escarlate quanto o destilado que o aguarda na mesa posta que o espera, o hábil fugitivo beberá nobremente ultrajado, saciado partirá novamente para o deleite ao lado da moça campestre que o aguarda nas térmicas em plena efusão com o aroma pecaminoso que circunda o armado cenário lascivo em comemoração as cotidianas revelações de cada dia, Amém!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Hello my friend.


Tributos póstumos são celebrados quando queridos entes encerram o misterioso ciclo à base de oxigênio, são homenagens que desconhecem o limite da criatividade artística, o esforço do curador da celebração é equivalente ao tamanho da saudade, imperativa saudade dosadora de temperamento e humor, o riso e a satisfação nos instantes da homenagem não substituem a contida  tristeza dando lugar a verdadeira e simulada alegria em prol do culto ao amado ausente, se tratam de encantadoras homenagens de valor vazio, ora, o bendito privilegiado com honrarias e menestréis não usufrui da felicidade promovida em seu nome, privilegiado mesmo é o grandioso São Marcos, esse foi capaz de morrer e usufruir dos festejos em lamentação a sua morte, esse foi capaz de dizer adeus e ter a glória de chorar ao lado dos seus, de se alegrar e testemunhar sua merecida beatificação, todo encanto das tantas homenagens que foram prestadas aos marcos do santo Marcos mostra a beleza de reconhecer os valores dos queridos que ainda residem na superfície da vida, o prazer de louvar admiráveis seres dignos de reconhecimento, congratulo portanto, todos os envolvidos nas milhares de manifestações de homenagens ao eterno camisa 12 que por muito tempo mostrou ao mundo o fulgor do verde imponente.

Nesse reconhecimento dos grandes guerreiros que conheci, guerreiros dignos de homenagens, tenho que colocar  Mr. Mitch Henry Snake perto do topo desta lista, isso porque ele é um exímio conhecedor das entrelinhas do "From the Cradle'', um pleno admirador do ''Riding With the King", reconhecedor da importância do "slide blues" executado na guitarra delta, um forte representante do Texas Blues e um curioso em desvendar a mística e a mítica inerentes ao texano S.R.V, quer seja para Hendrix ou para Buddy guy, ele ali estará, ele ali estará, não duvido de sua onipresença, pois seus bons olhos e seus bends estão em todos os lugares, saibam pois, que todos os que são alcançados por sua misericórdia e amizade não apenas se divertem com seu virtuosismo, não apenas se comprazem com suas expressões, mas também aprendem um pouco sobre a machucada sinceridade, desenvolvem a quase extinta compreensão e avançam rumo ao altruísmo, rumam ao esquecido altruísmo que a muito se perdeu por aí. 

Então Senhor Michel, já que tu estás bem vivo, dê a eles um pouco de Baião texano pois é disso que estamos todos precisando.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Evil or Divine


Elementos químicos reagindo entre si fortalecem a rigidez de corpos bem como diluem a massa fortificada por uma reação anterior, o alto grau de rigidez da matéria palpável não a priva da destruição, afinal, todo corpo sólido é solúvel, aquele quadro pintado com linhas sinuosas em tons escuros que sombrearam suas negras gengivas desprendeu-se da parede espatifando-se no chão sob ordem do violento vento, os ardentes raios de Apolo derreteram a fresca tinta do retrato recentemente retratado, o corrente derretimento conotava incerta metamorfose, como se fosse uma premonição subliminar, talvez pro bem evolutivamente ou talvez pro mal regressivamente, os cachos pincelados no retrato liquidificavam-se e se tornavam lisos colorindo assim os cacos de vidro que ao se escurecerem ocultavam o brilho dos olhos já apagados, tal contemplação ilustrou genuinamente a presente vã fé, a esperança vazia,  mártires lutaram batalhas frívolas, defenderam causas nobres com o próprio sangue, tiveram o sangue sugado, os cabelos arrancados, mesmo  com cérebro lavado mantiveram-se firmes, não houve reação química capaz de dissolver a natureza da ação mentalizada, a ação mentalizada por si só dispõe de corpo insolúvel, portanto invencível.

A verdade sobre o que é sentido e mentalizado está oculta em um preponderante vulcão encontrado no universo matriz das realidades paralelas, guardada em uma indestrutível caixa no epicentro do voluptuoso tornado de lavas, acorrentada por grilhões de prata forjados aos relâmpagos oriundos de negras nuvens carregadas de chuva ácida, amor e rancor. 

Entretanto, houve um lendário guerreiro que supostamente conseguiu adentrar no turbilhão do vulcão e desmembrar as correntes que resguardam a verdade sobre a verdade; Pobre Tolo! Descobriu que nada é real.