segunda-feira, 27 de junho de 2011

Rock n' Roll Train


Soteropolitanos têm santos padroeiros poderosos que os amparam na descida, os moradores do bairro da liberdade se confortam com ensinamentos ministrados em reuniões sobre as teorias de Buda, orientais barbados sonham com centenas de virgens que lhes serão entregues em haréns celestiais, a harmonia de lares de famílias ortodoxas advêm de estatuetas que enfeitam a mobília lhes concedendo proteção divina; em qualquer dos casos, a cor da pele ou o idioma falado não fará diferença diante do regente desse magnífico jogo de xadrez, ao visualizar esse jogo vejo uma partida composta por um único jogador, um jogador onisciente capaz de antever o vitorioso desse jogo disputado entre ele e ele mesmo, minha mãe certa vez disse-me um dia que os expectadores de um determinado jogo dispõem de melhor visão analítica acerca do jogo disputado do que os componentes do mesmo, em outras palavras, “quem está de fora enxerga melhor do que quem está dentro”, eu como um bom expectador mesmo na maldita condição de componente desse infinito tabuleiro, funcionando como uma mera peça nesse jogo difuso e interminável, percebi que o tabuleiro que comporta as peças movimentadas pelo todo poderoso jogador funciona como uma veloz locomotiva, onde as peças nele sobrepostas assumem a função de passageiros aprisionados a bordo de um trem fora dos trilhos a ponto de colidir no muro das lamentações, enquanto a Maria Fumaça progride feroz e velozmente, passeio por vagões e vagões, contemplo o vagão do cachorro quente, o vagão do caldo de cana, nele flerto com a mocinha da banquinha do pastel paulistano, leio os anúncios-notícias anexados em paredes e tetos, hora sentado, hora em pé, em dias quente de verão tenho predileção por vagões temáticos, piscinas, ondas artificiais, já no inverno canto o coco e bebo a Brahma para nunca mais ter sede, aprendo com a velha guarda em harmonia com alegria e com os mirins de inocência fenomenal, nas terças aprecio alegorias, fantasias, em sextas noturnas evito vagões iluminados por neons, prefiro os antigos salões esfumaçados onde crimes e paixões são discutidos, no sagrado domingo com as unhas roídas no vagão contaminado por palavras de baixo calão eu grito gol abraçado com meus irmãos, já na segunda-fria um forte uísque sempre cai bem, esquenta e apaga a perturbadora imagem colorida, depois volta tudo novamente, volta o cão arrependido com suas orelhas tão fartas de ouvir clichês e falsos moralistas, filmes, oscilações na tabela, enchentes, filmes novamente, musicais, dinheiro no bolso, bolso vazio, terça, quarta, quinta, sexta, sábado, domingo e a funesta segunda causadora da terrível imagem colorida.
Aí eu me pergunto: - Pra que tanta perna meu deus?

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Saudosa fragrância

Saudade é quando existe a agradável lembrança de um ser ou de algo ausente, dizer que saudade é um sentimento agradável soa de modo confuso, pois o principal sintoma do saudoso é o pranto contido e o lamento pela sentida ausência, no campo poético percebemos a tragédia sentimental causada por personagens morenas, as morenas em sua grande maioria protagonizam os principais contos poéticos, configuram as mais belas canções onde o termo “morena” na maioria das vezes vem acompanhado de tom saudosista, esclareço no entanto, que não estou tirando os méritos da beleza loura, tenham como exemplo Pattie Boyd, loura mulher considerada o símbolo mais devastador da história da música, inspiradora de grandes clássicos do rock, mesmo reconhecendo a primazia ligada ao perturbador encanto da loura Pattie, a beleza da moça morena, o charme da mulher de cabelos negros possui poderes inestimáveis quando postos de frente às alvas loirinhas, esse conceito de superioridade das morenas é histórico, se buscarmos em manuscritos sagrados, cartas de imperadores épicos, até mesmo nos subterrâneos do Vaticano, encontraremos nesses documentos ditos e referências a dor causada por belas e impiedosas morenas, elas são as principais causadoras das admiráveis composições que falam de saudade.

Se saudade é uma grata lembrança de uma pessoa ausente, recomendo a indústria de perfumes dobrar o investimento em seus produtos, ora, cosméticos é um termo que deriva de cosmos, cosmos conota universo, simboliza a bela comunicação entre o homem e o divino inspirado e intermediado pela posição de milhares de astros e galáxias, portanto, não podemos desprezar a importância desses produtos que embelezam nossas amáveis loiras e malditas morenas, ao longo dos meus 288 meses de vida me deparei com diversos cenários que foram captados e fixados em minha memória fotográfica, grandes hits e reefs estabelecidos em minha memória auditiva, contudo, não há memória que supere a memória olfativa, e é por tal razão que recomendo aos grandes fabricantes de perfumes investirem mais no processo de fabricação de seus produtos, digo isso porque fui fortemente atormentado quando ouvi pela primeira vez “Ten years gone” de Led Zeppelin, esse som martelou em minha mente profundamente; a primeira vez em que senti através do meu poderoso tato todo o fulgor da big legged woman me tornei incapaz de deletar isso de minha memória, porém, não houve impacto mais marcante do que quando inalei a agradável fragrância proveniente do sinuoso corpo da cheirosa morena de cabelos negros, isso tudo me fez olhar pra trás e relembrar de seu memorável sorriso, me fez sentir saudades.