quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Saravá!



Feito um pé de senrigueira em meio a ventania eram seus movimentos, um dançar leve com sinuosos movimentos cadenciados pelo próprio e solo cantar, um cântico de fantástica afinação, vocês tinham que ver e ouvir o fino movimento no instante do refrão, aquilo certamente era de nascimento, de nascença, de pulsar o coração. 

E aquela que não dançou, mas cantou, foi Layla, ou Help talvez, soprou o canto, cruzou o oceano e agora canta em outros cantos.

Mais quente que o quente abraço entre os corpos, do que a laçada, foram os gritos de adeus, daquela distância iluminada por pomares e estátuas, os braços movimentavam-se em ritmo de despedida, as pernas partiam guiadas pelos calcanhares até o horizonte enfim tragá-la. 

Pior do que o horizonte que leva é o vento que trás, levada tão "infarenta" e pequena, trazida altiva e serena, com claros olhos que julgam e sentenciam, sem canto, sem dança, sem despedida, apenas um curto sorriso magneto.

O caso é andar por este país e por aqueles países e torcer por reencontro, se é samba que elas querem aqui tem, é ser tinhoso e não ficar de fora na dança do cossaco, acertar as umbigadas, sem horror, com terror, seja de salgueiro a Bodocó, de Itabóca à Rancharia, tantos são os destinos, onde ir depende do formato da arte e da forma do artesão, por enquanto lhes mando um abraço daqui minhas meninas, da terra do frio.  

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Além do que se vê



O ausente texas blues motivou a decepção, decepção essa superada pela convincente e triste justificativa de sua ausência, tal justificativa envergonhou-me pois as razões eram  fortes, não bastasse a decepção precedida pela vergonha, surge uma nova notícia, a notícia produtora de nova vergonha e tristeza, notícia em pleno domingo ensolarado que escureceu-se pela chama que se apagou, se apagou precocemente revelando a eminente fragilidade do corpo em vida, vida que partiu subitamente, arrebatada pelo nada, apenas se extinguiu, essa atividade natural mostra a irrelevância dos atos e fatos, pois até fatos estão a mercê da extinção, assim, não há razão para medir dimensões, a vida por ser tão fugaz quanto a paixão que governa o coração humano coloca todos os anseios e diversidades no mesmo grau de futilidade, é meio fatalista e cruel mas talvez seja aí onde resida a beleza, a graça de desenvolver uma realidade paralela á realidade dominante, imperceptivelmente todos criam mundos paralelos diante das adversidades diárias. 

Adversidades que parecem não existir no Pelô baiano, pelo menos não sob a ótica turista, pois o turismo ali praticado trilhado aos batuques é sentido intensamente por almas forasteiras, pois inconscientemente sabem que tanto o universo astral quanto o universo subjetivo ali criado possuem o mesmo valor quântico, incapazes de serem calculados.

Não conheço a luz de Frankfurt e suas lendárias cervejas, assim como a loira do lado de lá não conhece a escuridão de São Paulo e seus lendários alambiques, contudo,  ela assim como eu personificamos o chão, o teto, as paredes, personalizamos a mobilia, ajustamos o ar para assim simularmos a graça do imaginário, ela conhece o esplendor de Munique e seus sofisticados banners luminosos que antagonizam harmonicamente com a tombada estrutura clássica, mas ainda assim não terá tempo para desbravar Marte, eu de cá conheço os pólos quentes da maravilhosa mãe Brasil mas não terei tempo para me congelar nos iglus e ser contemplado com a curiosa recepção esquimó. 

Os picos solares explodem enquanto aplausos estouram em prol do universo que eclodiu naquele infinito palco renascentista, onde novamente o imaginário se fez valer como realidade, não foi ilusão, não foi magia, mas sim a construção de um cenário quântico e mensurável, admirável, que em meio ao caos e mesmo simulando o caos produz entretenimento  em dias difíceis.

Não há esconderijo para alma, cedo ou tarde ela será capturada, seja num domingo ensolarado em meio ao riso, ou num escuro domingo sangrento em meio ao rancor, a alma não se afugenta, enquanto ela aguenta, sobrevive e inventa, essa capacidade a torna onipresente no espaço e no tempo, ainda que espaço e tempo sejam curtos, esse poder de invenção da fugaz alma humana reúne os cinco elementos da natureza e produz seu próprio universo, universo repleto de sombra e luz, onde vento, fogo, terra, água se misturam e originam ambientes, criam ondas que dão forma e ritmo, ondas que determinam instantes, pois definir vida é tarefa falha, afinal é isso que ela é, falha, a vida é instantes, isso tudo justifica o poder da ficção, pois é isso que  fazem os gênios, eles tornam a realidade em uma bela e alegórica ficção, onde essa maravilhosa criação assim como a vida dura apenas instantes, isso equilibra o real e o imaginário, é isso que iguala a vida à uma maldita e prazerosa ficção.