quinta-feira, 29 de março de 2012

On the wall


O rei Salomão filho de Davi, emblemado por profunda sabedoria exortava seu povo acerca da lamentação, da inevitável lamentação consequente de ações passadas, a eminente sabedoria personificada em Salomão iluminava os rastros deixados por seu passos, desvendava a verdade ligada a erros e males, veja, essa luz que capacitava os olhos de Salomão em perceber a verdade em meio ao nebuloso e de encontrar o equilíbrio em meio às trevas era a mesma luz que submergia seu coração à tristeza, essa visão esclarecedora sobre si mesmo e sobre acontecimentos embaraçosos tornou Salomão em um verdadeiro lamentador, pois assim, ele aprendeu a olhar para trás consciente do processo de semeadura que justificava o sucesso da colheita, haja visto, que um de seus principais provérbios recomenda que se atente nos dias de juventude para que nos dias da velhice não surjam descontentamentos, ao considerar esse estilo peculiar do rei Salomão, percebemos que dentre todas suas faculdades, aptidões, provérbios e ensinamentos, Salomão pouco dissertava acerca do futuro, ele pouco vislumbrava sobre as possibilidades de dádivas ou desgraças que poderiam recair sobre si, não repousava em hipóteses.

De certo modo compreendo essa hesitação por parte do filho de Davi em evitar se confrontar com o futuro, afinal, o ato de sonhar com o futuro é tão prazeroso quanto perturbador, a capacidade de enxergar o que está do outro lado do muro produz angustiante ansiedade, já a incapacidade de ver o que está por detrás do muro produz ociosa angústia, é sempre uma tristeza alegre ou uma alegria triste, por assim ser, o que traria mais conforto ou desconforto, a cegueira ou olhar biônico? 

A compreensão acerca de erros passados causa  males fortificados pela lamentação, a visão sobre o que está por vir causa males alimentados pela ansiedade, a incapacidade de perceber erros passados gera males pela impossibilidade de correção e a falta de expectativas futuras abastece a improdutiva estagnação. 

São sinuosas linhas circulares que aprisionam todos nós filhos do sol, pois os olhos apagados encarcerados na escuridão estão imunes aos perigos da bela, afinal a cegueira não permite que eles contemplem seu deleitoso fel, todavia, os olhos acesos, livres  da escuridão estão suscetíveis ao veneno da bela carcereira.

Queira ou não queira, tolos e sábios, altivos e simplórios, somos todos nós vítimas de nossas próprias vaidades.

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