segunda-feira, 31 de maio de 2010

Song of rain


Por volta de cinco anos atrás vesti uma capa hipermeável que me deu a compreensão da mistificação inerente à chuva, a chuva tem o poder estético de embelezar e inspirar segmentos artísticos de todas as vertentes, um fenômeno natural que ilustra o pranto da natureza em aversão a deteriorização do meio ambiente, essa precipitação atmosférica formada por gotas de água possui a beleza física glorificada em valiosas obras plásticas, ela em sua forma superlativa toma proporções tempestuosas, temida e de diversas configurações literárias, as conotações referentes à chuva carregam consigo o teor da ternura de um romance à dois e representa o terror do fim da cumplicidade de um romance, chuva inspiradora, reflexiva e é claro, ela também é dançante, um clássico do cinema.

Suponho também que a chuva seja uma boa expectadora, há quem concorde comigo que pizza e jazz não foram feitos para consumo à luz do sol, por isso imagino que durante o show de Dianne Reeves a chuva se apresentou para climatizar o jazz diurno da norte americana em São Paulo, diria até que nesse dia a chuva foi tempestivamente generosa ao nos privar do sol escaldante enquanto aguardávamos por Buddy Guy.

Nesse dia fomos banhados pelo Jazz, pelo Blues e por fim pela energia dos longos cabelos molhados da Lady Caroline, cabelos que se moviam pesados e com a leveza natural dessa que nos banhou com seu dois oceanos verdes-palestrino, portanto afirmo que a essência da chuva não é uma ilusão e minha próxima canção será uma song of rain.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

C.O.P.A


Quisera mesmo estar na África do sul sob a unção da Cultura.Organização.Política.Arte (C.O.P.A).

Cultuaria a cozinha local e se acaso os chefes me dessem a oportunidade lhes ensinaria o tempero de Dona Raimunda. Cultuaria o futebol de rua e nessa oportunidade lhes ensinaria a ginga de Reginaldo Correia. Culturia os batuques em terreiro africano e nesse ritmo lhes apresentaria o Xaxado de Gonzagão.

Organizaria confraternizações multi étnicas em oposição a xenofobia, me organizaria para melhor assimilar a organização do maior evento esportivo.

Testemunharia a força política através da arte, a bela arte de campo esquadrinhada, observada e muito provavelmente pré-articulada para os fins da ordem mundial.

Livre estaria dos tentáculos que me submergem e é por conta deles que não irei para o continente da copa, contemplaria os movimentos artísticos em praças sul africanas e mesmo nesse consumo guloso preparado por saborosos ingredientes, sentiria saudades do Brasil, das sextas-frias de Jazz em São Paulo, dos sambas que nunca aconteceram, das aulas de gaita que não ministrei, no entanto está tudo bem, daqui a quatro anos presenciarei um formato mais desenvolvido da C.O.P.A aqui, aqui no país do futebol.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Eleven long years.

Quase caindo de sono guiado pelo consertino de percussão da sinfônica de São Paulo, ouço me chamarem na casa do vizinho, levanto-me do sofá e da micro varanda de minha casa vejo um camarada que cursou o ensino fundamental estadual comigo em 1999 procurando por um tal de Ronaldo, procurando por mim, da varanda gritei:

- Féla da puta! É aqui que eu moro, esqueceu? Suba!
- E ae Kengo! Faz mais de onze anos que não venho aqui, que porra de barba é essa?

Nessa surpreendente visita foram rememorados episódios peculiares, vergonhosos e honrosos, mas a real aparição de Emerson Velozo foi para se vingar de meus deleites sobre o seu então frágil tricolor paulista que hoje é o time mais vitorioso do Brasil, no período de 1994 a 2000 o meu alviverde atropelava todos os rivais com enorme imponência, porém, os dias atuais não reluzem de modo verde e branco, por tais circunstâncias ele veio discutir futebol nos dias de hoje, veio também confirmar a profecia que ele proferiu a si mesmo de se tornar preparador físico de goleiro, hoje ele é formado em educação física e treina goleiros de categoria mirim numa filial da Portuguesa de desportos, essa realização nunca foi incentivada por mim, admirava muito a determinação que o mesmo tinha em tocar contra-baixo e isso me fazia sugerir que ele trilhasse o caminho da música, sempre expus a ele meu lamento por não possuir tal talento, meu talento era puramente esportivo, até hoje muitos não compreendem o porquê da minha não profissionalização no futebol, antes que a lógica se confirmasse a ironia prevaleceu, pois ao longo desses curtos onze anos percebi aquilo que se tem de bom no viver, dizem que isso é um dom, descobri o trajeto pseudo-profissional-musical que irei escrever pelos cantos por onde andarei, nos campos acadêmicos e nos campos de gramado meu amigo treinador aprendeu os caminhos de sua profissão realizada com prazer, nos prazeres vividos sem hipocrisia aprendi o caminho da realização intelectual na absorção dos ensinamentos existentes na condução da música e suas concessões, esse conceito concebido por ambos foi confuso em virtude do paradoxo residente nas tendências de cada um na fase infantil.

No dia dessa visita eu estava a espera de duas amigas naturais do município de São José que conheci no show da Little Joy, elas se hospedariam no hotel Boulevard Augusta, assim portanto, fomos ao encontro dessa moças eu e esse meu amigo que a tempos não via, já no boteco confraternizando com as amigas interioranas, notei que Emerson não perdeu suas inibições diante de belas moças, contudo, o episódio mais cômico que ocorreu foi na manhã seguinte (segunda-feira), porpus a ele que fôssemos ao colégio onde estudávamos a fim de reencontrar a coordenadora pedagógica que nos perseguia com métodos severos de disciplina, ao nos ver a educadora não nos reconheceu, afinal, foram onze anos que se passaram, nesse encontro foram remoídos momentos de constrangimentos e contentamentos, foi também creditado a ela o nosso atual sucesso, sucesso esse que só foi possível graças às sucessivas repreensões dela para conosco, eram dois meninos que a temiam e tinham-na como adversária, hoje são dois homens barbados que assumem a condição de fãs, o sentimento de gratidão e que a enxergam como mulher, tanto que marquei um jantar com ela seguido por um clássico uísque, esse reencontro com nossa ex-coordenadora pedagógica superou as expectativas, isso possibilitou que ela aceitasse meu amigável convite, mas o principal episódio nessa reinteração entre eu e esse antigo camarada foi na noite da mesma segunda-feira onde ele acompanhou meu primeiro ensaio com minha nova banda de Chicago Blues, banda composta por músicos experientes com faixa etária de 40 a 43 anos, esse primeiro ensaio foi tão harmônico e expressivo que parecia que tocávamos a tempos, tal sintonia é justificada pela habilidade desses músicos e principalmente pelo comprometimento que eles têm pelo Blues, por priorizarem a semente do Hoochie Coochie, isso mostrou a autenticidade nas interpretações de grandes clássicos.

Para Emerson, testemunhar esse momento de efusão musical foi como resgatar sua raiz na música que fora perdida por conta de afazeres prioritários, todavia, depois desse dia ele recolocou a música perto do topo de sua lista, a partir de então passará a experenciar tamanho "feeling", ele reativará seu lado instrumentista graças a poderosa influência do Chicago Blues.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Perdas!

A ausência de Tio Nonato na virada cultural seria tão sentida quanto a falta de Paulo Henrique Ganso ma World Cup South Africa, felizmente não fui tão tolo quanto o técnico Dunga e convoquei Raimundo Nonato para compor o grupo que iria curtir o baile do Simonal e algumas manifestações paralelas, afinal um artista espirituoso de valioso quilate não poderia deixar de compor o maior movimento cultural da cidade, destaco que sua participação foi de grande contribuição, pois nesse ano os movimentos culturais foram de profundeza inferior aos anos antecedentes e a presença de Tio Nonato nas diminutas duas horas em que prestigiamos tais eventos supriu a carência da programação desse ano.

Nesse ritmo cultural nasceu a tristeza ao visualizar a falta da arte elegante de Paulo H. Ganso na copa do mundo de 2010, os deuses do futebol lamentarão tamanha ausência justamente num ano de carência de grandes craques, a copa do continente do batuque será castigada pela "coerência" do nosso amado capitão Dunga ( campeão do mundo em 1994), por deixar o menino Ganso de fora da seleção brasileira.

Bem sentida também será a perda de Ronnie James Dio, Dio morreu na noite antecedente a de ontem de câncer no estômago, de fato uma grande perda, ver Dio regendo o exército das black shirts em terras brasileiras ministrando seu poderoso vocal tornou mais difícil de conformar-se com sua ida para o "heaven" ou "Hell", presumo eu que ele passeará por ambos, pois se trata de DIO, pois é! Quem disse que Deus não morre?