quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Ramble On


O que produzirá mais preguiça, encarar o corcovado de trem ou de van? Snowboard é mais honroso do que trenó nas quentes dunas do Maranhão, as águas do Amazonas de certo não substituirão a viciante hidro do nosso novo quarto meu pequeno irmão, migremos então para Maceió que está mais perto de casa, mais perto de Rebeca e de Maria Lúcia, springtimes dirão a próxima parada, que não seja tão infortuna quanto aquela da triste Porto Alegre, de lá quase desembocamos no Uruguai, que os deuses me livrem de Montevideu, me abisma pensar em rever o sorridente Pablo e a sinistra Bárbara, não esquecerei daquela amarga cerveja premium que me fez engasgar eternos segundos sob o escárnio dos hermanos provincianos, foi divertido e belo, já a desforra será digna de um cavalo lento que arrasta uma putrefata carroça de rodas quadradas; possivelmente não contribuiremos com a indústria de cartões postais, a extinta Polaroid no pescoço do rafinha suprirá a demanda, ora pois, temos que deixar mamãe atualizada acerca dos raios que bronzeiam a pele de seus meninos, a verdade dos puros olhos do rafinha me desmentirá diante da digna mesa que nos será posta e sequentemente lançada sobre nós, sairemos vivos diante de um novo argumento e agraciados com pedidos de desculpas em grosso castelhano mexicano, a um passo de El Paso e com dificuldades de ter Chigaco faremos um caminho mais longo e lícito com sabor de vinho português, ouviremos a boa Elis na capital ao lado de nossas colonizadoras de sotaque insuportável, muito provavelmente estarei sem voz, o cuidado de rafinha arrebatará de minhas mãos as canecas de chope gelado que irei reivindicar da argentina Karol, canecas que conquistei  em um jogo de bilhar ainda aqui no país do futebol, seria prudente ficar longe de ilhas, ilhas sempre dão boas histórias de terror, necessitam de barcos para serem alcançadas, barcos balaçam e acionam o meu refluxo e me remetem à imagens ilusórias que já foram apagadas através de silenciadores remates, mas se o caso for, em ilhas poderemos encontrar tesouros, dizem que elas conectam arco-íris, imagino que barris de ofuscação dourada faz tão bem aos olhos quanto ao bolso, entre umas e outras irei considerar a prostituição capitalista que silencia os modestos negando-lhes esse maravilhoso mundo, antes também nos fora negado, mas bravamente driblamos as convenções institucionais e quebramos os grilhões que prendiam a simplicidade de nossas mentes, nos agarramos à ilimitada ficção e a vendemos para senhores de fino trato, conseguimos portanto a carta de alforria que nos levará diretamente as vísceras da Africa, o suingue do pé e o repique da mão serão entendidos, ainda sob aprendizagem retornarei ao norte, a morte superará toda essa sorte, assim meu caro irmão, me conforta saber que e esses bons momentos insanos serão herdados pelo seu sobrinho de nome profano. 

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Transgressão à gravitação.

Mas veja o que sobrou, resignação por um refrão de amor, a rigorosos dois graus centígrados, um gelo eterno, em combate ao gélido nevoeiro serrano a fervorosa água do enferrujado chuveiro cai por mais de duas horas sobre a congelada careca, o lado de fora da choupana é castigado pelos granizos pontiagudos que batucam pelas telhas de zinco, as ruas de paralelepípedos são enfeitadas por musgos escorregadios, bem vivos são os ruídos dos ventos, ventania soberana por entre as cabanas e por sobre os riachos que descem montanha a baixo, o distúrbio harmônico composto pelos fenômenos naturais resguardam desentoados raios solares que escapam por finas brechas, o lado de dentro também é assombrado, assombrado pela cama vazia, pelos chiados do micro rádio, pelo aterrorizante cenário abstrato imerso no quadro torto, pela televisão queimada, pelo celular fora de área, pela imprópria nudez ao cair da toalha que é prontamente substituída pelo edredom à frente que também é rapidamente trocado pelo cantil de alambique mineiro, o ato da ingestão revigorante aquece a preguiçosa mente e a resfriada pele, os ponteiros apontam apenas três horas de descanso, um necessário repouso que antecederá a consagração do sacramento, que precederá a passagem para o submundo que será construído concretamente de modo intangível nas entranhas do Subbar, o almejado descanso é abençoado por uma gigantesca cama e pela trilha da leve percussão chuvosa que assume o comando no lugar das estrondosas pedras de gelo enviadas pelos céus, o feixe de luz alaranjado que invade o quarto pela minúscula rachadura da porta anuncia o fim da tarde e o início da peculiar solenidade das trevas, é a deixa para o fechar dos olhos com destino ao prometido sonho bom que não foi guardado, então o trilhado “caminho só” pelas maravilhosas estradas do subconsciente expõe os vestígios das solas forjadas nos asfaltos e marcadas nas areias, para cada marca de chinelo um sapato diferente, para cada sapato uma história, para cada história uma sandália, sandálias elegantes condizentes com o esplendor dos monumentos que configuram o indeciso cenário, hora pelas ruas de São Paulo, hora pelas ladeiras de Osasco, a capacidade de viver o imaginário iguala o real ao irreal, por assim ser, os deleites possíveis apenas no irreal são vividos no real, bem como a busca vã no real se repete nos passeios irreais; em meio a essa árdua caça à presa que está presa, o despertar acontece por intervenção do moderno aparelho celular que é tudo menos telefone, os olhos se abrem e os ouvidos se trancam pra “Juke”, o período de três horas expirou, é hora de encarar as reais prometidas sete horas que dará acesso ao único e verdadeiro livre arbítrio, onde patrões, presidentes, reis e principalmente deuses são despedidos e depostos dando enfim lugar aos miseráveis e mal aproveitados setenta e três anos concedidos mesquinhamente aos samaritanos magnetizados na gravidade da terra, ora, é tudo muito rápido, muito feliz. É Grave! 

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Maldição de Novembro


                                   
Se buscarmos nas estatísticas criminais em uma avaliação de retrospecto, provavelmente o mês de Novembro será o mês com maior índice de ocorrências, ai ai Novembro! O mês que antecede o verão, que antecede as festividades de final de ano, é exatamente em Novembro que muitos caem na reflexão do que foi construído ao longo do ano letivo, onde ocorre a computação do tesouro acumulado, dos amores mal vividos, dos ensinamentos apreendidos, quando são nomeados os campeões de torneios e competições, quando se iniciam as promessas e projetos a serem cumpridas no ano seguinte, é em Novembro que é percebido os desacertos e por extensão arrependimentos, em Novembro portanto, é preciso ter os olhos bem abertos, o perigo está por todos os lados, enquanto o cavaco arpeja, balas de vingança zunem próximo aos ouvidos dos amigos dos inimigos da liberdade condicional, engodos luzem a lua da romântica pescaria noturna, os famintos por horizonte partem rumo ao campo, horizonte que revela a egoísta concessão do amor vitimando assim o mal correspondido, a distância melhor sentida nessa época é diminuída por fotografias desgastadas, a tensa elasticidade que compõe o oxigênio novembrino incita decisões impensadas, contratos mal celebrados, renúncias precipitadas, desapegos e apegos levianos quase sempre fatais, esse saboroso mal sopra por entre os ventos de Novembro, o mês do sol vermelho e do mar azul, nessa tônica muitos se arrumam nessa confusão, muitos se perdem, é o período do perdão e da condenação, o céu de Novembro torna as palavras nele escritas reais, Ave Marias, Namiorrorenguekio's e Aleluias são entoados apelativamente, muitos se prostam com rosto em terra sedentos por milagre divino,  buscam se proteger da escuridão, de estranhos, de flores venenosas, de mestres, da raiva, da dor, buscam fugir da insânia, pois é, eis aí os elementos que configuram a magia do deleitoso Novembro.   Run way, Run way, go!


sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Preso ao meio.


Não existe defesa absoluta, considerem o índice de assaltos a carros-fortes que aumenta espantosamente, sistemas de segurança geniais são dissolvidos por enlouquecidas mentes criminosas, de baixo do sol somos todos presas vulneráveis às famintas garras de predadores, a mercê de hábeis caçadores que desconhecem barreiras e fortalezas intransponíveis, considerem a destra lebre que foge com dribles esplendorosos e que no final é alcançada por afiados dentes de um mamífero maior, tenham também o cervo do campo que salta levemente e corre com bela velocidade, contudo no final é capturado pelas unhas da rainha da selva, pobre então do coração humano que não tem pernas para fugir e nem tampouco armadura de proteção, coração passivo, atacado e portanto ferido, em constante agonia, que bombeia e simultaneamente sangra, tivesse ele pernas certamente correria a fim de retardar a dor, tivesse ele armadura certamente a usaria para privar-se de agudas incisões, na verdade de nada valeria as pernas e armaduras, pois ainda assim o coração continuaria a ter olhos, malditos olhos que o vulnerabiliza diante do belo, que o reduz diante do esplendor o tornando novamente presa fácil paralisado sob a ilusão da perturbadora beleza, a beleza que descompassa batidas inflamadas, a mesma beleza que surge desvanecida por entre as chamas e conduzida por uma força quântica; não se pode mensurar a força física de universos metafísicos, nem tampouco calcular o espaço sobrenatural, assim, não podemos desenvolver fortalezas que resistam aos ataques transcendentais provenientes de tais mundos, contudo, ainda que a força de invasão disponha de poderes superiores, a rendição está fora de cogitação, não deixe que a lúdica moça lhe consuma o juízo, enfrente os efeitos de seu sorriso ludibriante, talvez lá esteja a chave que abre caminhos, não há mestre de armas que possa enfrentar tamanho adversário, afinal, a imagem é sedutora, não se pode vencer a imagem, imagem que emite substâncias que lhe fazem perder a cabeça.

A solução é agir feito um perfeito estranho, mudar e confundir, e então combatê-la com uma tênue canção, canção que infiltra na mente e que conduz a loucura, se trata da única arma apropriada para combater esse deleitoso mal, o poderoso mal da imagem escravizadora que se reduz apenas sob as embriagantes linhas melódicas do slow blues, afinal, o blues se confunde com a ruína e com o triunfo, triunfo e ruína irmãos gêmeos, ambos sem a menor importância, então baby, venha com seu maldito sorriso que eu vou com meu baião.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Juízo e Carnaval

A verdadeira faceta do feriado do segundo dia do mês de novembro me foi apresentada no ano de 1999 em pleno cemitério, o dia dedicado a homenagear os mortos era o dia em que eu ajudava meu irmão no comércio de arranjos de flores, o caloroso sol no apogeu da primavera anunciava um dia de júbilo e sorrisos, todavia, o sorridente sol que brilhava sobre a Bela Cintra no dia dois de novembro não raiava com o mesmo fulgor no majestoso cemitério do bairro da Consolação, a lamúria esculpida nos olhos inanimados de gigantescas estátuas emanava um flutuante ar de agonia cercado por sacros muros e símbolos eclesiásticos, sob esse clima nefasto o contido pranto alheio me mostrava a profunda lamentação pela perda contemplada diante de esplendorosas lápides, mausoléus refugiavam recordações, alegrias, tristezas, tal avaliação evidenciou a verdade sobre a existência da felicidade, veja, a mirrada idosa que sorria para a foto de seu filho sobre seu jazigo provavelmente se deleitava na prazerosa lembrança da dor do parto que deu vida ao seu finado primogênito, na mesma tônica o trio de irmãos que deixou um par de chuteiras sobre o sepulcro do saudoso caçula homenageou o golaço do  falecido irmãozinho na final do campeonato inter escolas que lhes encheu de orgulho, viúvos e viúvas em risos e choros com olhares que projetavam momentos de regozijo, centenas de projeções que revelavam instantes de felicidade em meio a um dia funesto, tais olhares também despontavam angústias causadas pela impossibilidade de reviver momentos compartilhados com os amados finados, por assim ser, o lamento oriundo da perdida felicidade é a personificação da queixa irremediável, isso traduz o advento da morte e o impacto devastador ligado a ela, afinal a morte sentencia o fim de prazeres possíveis apenas sob o comando daquele que jaz, o fim de contentamentos possíveis apenas na presença daqueles que se foram, em contrapartida, a morte concede aos atormentados por ela a conformidade, pois essa é a única alternativa diante de seu encanto irrevogável e intransponível.

Terrível mesmo são as bobagens que regem o espírito inflexível, cruel mesmo é a irredutível convicção da aborrecível intelectualidade, é bárbaro pensar em prioridades e relevâncias em meio ao efêmero, pois então, é bom se manter lúcido nos instantes em que soam as trombetas de suave melodia, ser bem aventurado nos dias de fartura e bom vinho, no inverno se aquecer no forró, na primavera árabe colher flores e capturar borboletas, no outono se expurgar da contagiante e contaminada pureza, no verão se libertar da pseuda humanidade e em dias de calor e sede mergulhar no violento mar mesmo sem saber nadar.

É espantoso perceber que ainda exista fidelidade a solidão, a solidão é digna de respeito pois os mansos de coração não ousam traí-la, mansos mártires que se flagelam com insuficiente amor, de certo, tudo é insuficiente, a insuficiência da vida dá vida à morte, bem como a insuficiência do convite de mão estendida dá vida a um eloquente não, a justificativa atribuída à tais insuficiências são insuficientes e que portanto dão vida à dúvida,  com isso  é possível dizer  que a dúvida é soberana, promotora de escravidão.

Duvido muito que escravos rebeldes não afrontam a soberana coroa cintilante ornada por fulgentes pérolas douradas em forma de pontos de interrogação, eles a cultuam bem como se rebelam, aos obedientes resta apenas o açoite enquanto os rebeldes em plena primavera gritam:

- Independência ou morte! Porém, o grito por si só nunca é suficiente.



quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Risco


Não há arranha céu que resista a fortes ventos sem uma forte e consistente fundação, os pilares de sustentação devem estar preparados para as inesperadas e improváveis cargas de ventos que possam surgir, tenham como base a parábola do insensato homem que edificou sua casa sobre a areia, casa essa que desmoronou no dia da forte tempestade, ora, pouco vale um belo corpo moldado sobre um esqueleto “osteoporóseo”, afinal, muito em breve a formosa película externa sucumbirá juntamente com a frágil estrutura óssea, de tais princípios nasceram inúmeros provérbios referentes à importância de se ter uma boa “estrutura”, de se ter os pés bem firmados no chão para evitar quedas, por mais coerente que soe essa filosofia calcada na reflexão sobre a cautela, é notável também os efeitos restritivos inerentes a ela, onde a razão prevalece sobre a paixão, onde o racional vence o imaginário, onde o temor se torna soberano diante da ousadia, de tal modo, surge um impasse residente nessa dupla face de efeitos provenientes dos provérbios acima, uma vez que tais valores dão margem à importância da precaução e simultaneamente incitam a covardia, assim, unicamente pelo simples fato de existir a possibilidade de ser contaminado pelo medo e pela covardia, é saudável fechar os ouvidos para tais dizeres, pois não existe aventura sem ventura, não existe voo sem decolagem, a grandeza do risco corresponde ao sucesso da ceifa, ao partir desse ponto o equívoco abandona a posição de vilão e assume o cargo de consultor, desse ponto não existe retrocesso, existe sim a força da paixão, do fogo de saudade que leva a compreensão da importância da necessária e consoladora libertinagem que substitui os negados dias gentis, suba no palco e improvise o difícil jazz que poucos se atrevem, de lá será possível enxergar o tamanho da evolução dos tantos blues que derrubaram queixos, de lá virão lembranças de dias de imprudências durante a infância, daquele dia em que a inconsequente criança de bicicleta cruzava uma longa estrada para casa numa antiga trilha que hoje comporta a grandiosa rodovia rodoanel, uma estrada pedrosa rodeada por uma gigantesca mata e de gente que mata, aos dez anos de idade com pernas fortes que eram impulsionadas pelo medo da proibida aventura ali vivida no horário da aula de geografia da professora Cláudia, criança que oportunamente descobria a geofísica de uma admirável paisagem hoje extinta, certamente esse momento cinematográfico seria trilhado por “The Next Time Around”, recordações dessa natureza são dignas de trilhas sonoras, em suma, a vida de quem teme a mudança é fixada no chão assim como seus pés, indigna de belas lembranças a serem rodadas na mais poderosa placa de vídeo de alta resolução conhecida por imaginação, por outro lado toda bela imagem é digna de uma bela trilha que configure um bom filme para ser assistido juntinhos, sem caber de imaginar, quanto ao fim, o fim virá, raiará, para onde a sorte te levará?

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Outra dimensão!

O Vício é o majoritário detentor do voto minerva diante da escolha entre o sim e o não, ele supera a força dos instintos naturais, ele é o soberano oponente da precaução, se tratarem o conceito de vício sem peso pejorativo ele ainda assim terá poder escravizador, por tal razão os preceitos bíblicos recomendam a castidade antes do casamento a fim de preservar a harmonia conjugal obstante aos maus costumes da vida solteira, tenho enorme dificuldade em tocar “walking blues” no modo “open” por conta de maus hábitos e vícios equivocados adquiridos no meu aprendizado em tocar violão, corrigir maus hábitos é sempre penoso, reformular e reeducar valores culturais impregnados em um meio social demanda muito tempo, diante de uma bela e fugaz vida urgente não há mais tempo a perder, a solução então é a dissolução completa de todas as grandes estruturas e monumentos artificiais que existem no mundo, erradicar o sistema de trânsito em todo o globo terrestre, entender que os meios de transporte existentes são obsoletos e repensar em novas maneiras de locomoção, após tais ações revolucionárias onde a consciência coletiva governará, será o início do recomeço, uniremos os melhores sociólogos, arquitetos e pedreiros e redesenharemos um novo modelo de trânsito adequado e submisso a imponência do verde da natureza, teremos portanto uma grandiosa infraestrutura híbrida e fluente, os recursos naturais por sua vez serão consumidos de modo contrabalançado pois a justa distribuição possibilitará o garimpo e a colheita sem desperdício, tal equilíbrio refrescará o sol e aquecerá a lua promovendo assim o equilíbrio estável, por agora percebo a vergonha da noite, do sol, eles observam o mal incurável dos entulhos que interditam calçadas, entulhos recolhidos, mas sobe sol, desce lua e novos pedregulhos dificultam a transição da menina do portão, sinto a vergonha, que vergonha noite, que vergonha dos lixos poluentes e do feliz rock no rio, rio poluído em Pinheiros e também em Madureira, a solução então é fugir para baixo, para o submundo como um arco-íris na escuridão, nas profundezas longe das luzes da cidade, escondidos e envergonhados como os últimos da fila, fazer o caminho inverso e percorrer a sangrenta estrada sem volta ciente de que a emoção da penúria compensa a dor, onde a recompensa se dará durante as lembranças produtoras de prazer ao contar os contos reais, ao dizer com ufanismo acerca dos deleites, ao dizer com descontrolada emoção das dolorosas e perturbadoras emoções, e mesmo na velhice lembrar do cansado deus de mãos lentas dono da “key to the highway” de Bill Broonzy, lembrar das doces figurantes que hoje se preparam para a saga Baião do Mississipi, dos duelos ao lado de guerreiros profanos e eclesiásticos, dos cascudos em pivetes que herdarão o esmagador encargo, quanto a isso, é válido dizer que a emoção do ardor realmente vale a dor, portanto sei, e não é preciso que digam, “a chama ainda queima”.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Política da boa vizinhança.


Às vinte e três horas da noite de ontem faltou orégano, o principal ingrediente pro molho do tempero do meu lanche a base de salame e queijo prato, nesse instante pensei na política da boa vizinhança, vizinho algum poderia negar uma xícara de sal ou açúcar, a mesma regra vale pra uma colher de orégano, porém, pensei no final de semana passado quando infectei as roupas do vizinho ao lado com fumaça de churrasco promovido na calçada de minha casa, lembrei da intolerância manifesta pela vizinha da frente por conta das longas horas em que ouvíamos a discografia de Billie Holiday e Gatemouth Brown, no caso do vizinho de baixo a intolerância partiria de mim pelo simples fato dele usar camisetas do Luan Santana com as lindas letras de suas músicas na parte oposta da camiseta, nessa reflexão sobre meus vizinhos invejei os moradores do extinto Solar da Fossa, a pensão carioca que abrigava cultura, construída no século 18 e transformada em um conjunto de apartamentos localizados nos limites do bairro do Botafogo e Copacabana, era um conjunto habitacional conhecido por atrair jovens talentos no epicentro dos anos sessenta e início dos anos setenta, dentre esses, Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil, Naná Vasconcelos, Paulinho da Viola, Marieta Severo, dentre outros, o Solar da Fossa trazia em seu cotidiano histórias espetaculares, ora, um local recheado de gênios não poderia carregar nada menos que episódios extraordinários, local peculiar capaz de atender quaisquer que fossem as emergências, tanto as possíveis quantos as impossíveis, afinal, não se pode duvidar do malandro, do artista de circo, da menina bonita bordada de flor, do trovador, do batuqueiro, do violinista e muito menos do morador que devia quatorze meses de aluguel.
As minhas emergências são chulas, mas se Zeca Baleiro morasse na frente de minha casa provavelmente ele teria uma gravata específica para me emprestar pra um show de última hora, pediria auxílio ao vizinho Chico Buarque na composição do cenário do meu primeiro longa metragem, nas madrugadas de bossa teria cordas pro meu banjo e orégano pro meu lanche concedido por Hermeto Paschoal, se Pixinguinha morasse na rua de traz estaria a um passo de uma Jam de choro na garagem de Yamandu Costa que seria meu inquilino da casa de baixo, convidaria o mago Valdívia para o samba de sábado e tentaria entender sua cadência atemporal, em dias de stress e cansaço iria na casa número 17 propor a May Castle um sessão de musicais da Broadway e clássicos dos jazz anos vintes ao ritmo de seu sorriso, em dias de pinga colocaria o forró do Cardozo e brindaria com Simone Conforto, assistiria na casa de Fernando Mendes programas de astronomia da Discovery Channel e certamente nunca ficaria na mão diante dos imprevistos que pudessem ocorrer, pois estaria a mercê de artistas que desconhecem a definição da palavra limite, tamanhas influências certamente me tornaria um cientista mais sagaz menos exato e mais safado.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Canção de inverno.

A característica cristalina da água embeleza o asfalto molhado durante a condução da luz refletida em seu corpo espelhado, esse movimento da luz lunar de cima para baixo e consequentemente de baixo para cima é melhor observado em noites de inverno quando as ruas ficam desertas, a chuva por si só espanta e entoca os humanos feitos de barro, reúna a chuva que comumente se apresenta no verão a ventos de baixa temperatura, ao nebuloso céu de inverno noturno e terá um cenário sombrio, edifícios, árvores e estátuas, seres desprovidos de ânimo ganham vida e movimentos autônomos, relevos se personificam e se revelam diante da ausência humana, durante esse instante inicia-se o espetáculo do estático artifício e da inanimada natureza, nesse espetáculo as danças são intimidadoras, árvores rebolando ao ritmo de ventos ressonantes, duetos de belas estruturas arquitetônicas abrolham vales por onde desfilam folhas secas, o ar regente desse concerto marcial sintoniza os componentes do show, o tom intimidador põe o único e corajoso observador presente na condição de observado, em pleno apogeu a fugaz exibição se desfaz e quebra a real ilusão, ilusão causada pelo advento do inverno, inverno promotor de reflexão, inverno de lições, inverno de inspirações, para alguns de chocolate quente e cafunés, para outros de expedições, para tantos de emoções, para o samba de inverno um caldo de feijão, para o inverno a base de rumba uma sopa apimentada, para o blues qualquer coisa serve, seja feijão, seja sopa, afinal o fracasso e o sucesso são irmãos aliados materializados contudo inexistentes, esse dinheiro no meu bolso vale um aquecedor, uma garrafa de uísque irlandês, duas fichas de sinuca, vale o corpo dessas lindas strippers que agora me olham, mas não paga e não traz talento para a canção a seguir que me foi confiada no presente palco à minha frente, não paga o respeito e a admiração que Mr Slow Saluotto e Mr Crawley Mitch Snake compartilham reciprocamente com seu fiel público, um público fiel que lhes afasta do fracasso e lhes vacina do enganoso sucesso, Dona Florinda aplaude com enorme ufania o poema recitado por Kiko, notem que seus solitários aplausos são mais calorosos e intensos do que os aplausos de toda a vizinhança, o solitário aplauso da fidelidade, o aplauso da verdade, e foi aí que assimilei a justiça das palavras repreensivas do sabido Michel - “Verdadeiros bluesmen, não se preocupam com a voz, eles simplesmente cantam, portanto, cante e chega de conversa!” - agora pois, pois já ingeri a forte lição que me foi dada, irei tocar a trigésima canção, a canção perdida, esquecida, canção que nunca teve um público fiel, teve público algum, então que ela surja quente nesse inverno e que tudo mais vá para o inferno.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Guerra fria



As algemas sociais forjadas em nossos punhos me obriga absolver os hipócritas fariseus, os impiedosos soldados cruzados e até corintianos de seus pecados dolosos, também me faz retirar o galardão concedido aos atinados agnósticos, aos benevolentes beatificados e aos genuínos palestrinos, é cheio de sentido o ditado que recomenda ensinar a criança em qual caminho andar, pois quando crescer muito dificilmente se desviará do caminho ensinado, em outras palavras, os adultos de hoje são as crianças doutrinadas de ontem, isso talvez justifique diversos episódios de revelações surpreendentes, é comum adolescentes “virarem a casaca” após a maior idade por não mais estarem submetidos à coerção de preceitos familiares, poucos se desviam dos conceitos culturais instituídos por seu meio social, é mais comum a maioria manter com orgulho as tradições adquiridas pelo meio social no qual foram inseridos, ao partir desse princípio não se pode condenar hábitos e práticas alheias aos valores “politicamente corretos”, afinal toda a realidade social é alheia e arbitrária, as crianças francesas não têm culpa de falarem o idioma francês, bem como os pequenos chineses não podem serem ridicularizados pela pouca habilidade no futebol, não tive a chance de escolher a cor da roupa no meu primeiro dia de vida, antes mesmo que eu adentrasse no ventre de minha mãe aquela peça de roupa já existia nas vitrines.

Por considerar que os fatos sociais são externos ao ser, venho publicamente perdoar meus contemporâneos amigos corintianos por esse desvio de conduta, por alimentarem sentimentos de apreço e torcerem pelo Esporte Clube Corinthians Paulista, de certa maneira eles não tiveram culpa nessa infortuna escolha imposta na fase infantil, quero também redimir a culpa das infelizes inquisidoras da contemporaneidade que buscam crucificar mulheres suspeitas de possuírem divindade (semi-deusas), por tal razão peço a compreensão das belas morenas brasileiras que reúnem em si a fina flor da beleza universal do nosso país tropical multirracial, rogo às admiráveis moças orientais, às moças de clássica beleza europeia e à todas mulheres abençoadas com o dom da beleza que se esquivem da maldita guerra estética milenar travada entre vocês, que se livrem da maldita hipocrisia injetada em vossos corações ao longo dos séculos criadora da incapacidade de reconhecer a eminência estética alheia, essa maldita praga tem a única função de destruir a bela imagem que apenas vocês podem exibir, mas enquanto esse conceito não for assimilado, compete as moças vítimas da própria beleza se adequarem a vida social diante da bárbara infantaria composta por “soldadas” cruéis e angustiadas, essas militantes do mal visam destruir a beleza do místico sorriso encontrado apenas em moças munidas de nobre empatia, impiedosas guerrilheiras que buscam apagar o brio dos hipnóticos olhares dispostos apenas em mulheres armadas com o veneno da sensualidade, essas meras peãs dessa infeliz guerra cessarão apenas quando ingerirem o doce sangue dessas admiráveis musas do alto escalão da beleza feminina, contudo, compreendo a oposição por parte das inquisidoras modernas, esse despeito vem passado de geração em geração, um vírus clássico que as aprisiona ferrenhamente, temos que conviver com essa infecção, pois ainda não existe cura para esse vírus.

No jogo de xadrez a rainha é a peça mais temida por ser a peça mais completa em movimentos, com isso, sugiro a dama de cabelos dourados por ser detentora de diversos privilégios estéticos e completa em sua plenitude feminina que reforce a guarda real, que esteja sempre alerta, que se mantenha atenta aos ataques inimigos, pois se realmente essa hipotética guerra existir certamente ela estará entre as mulheres mais procuradas do planeta.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Diz que sim!

Garibaldi parafraseia Guimarães, Alexandre Lennon, Felipe Coelho, Mário de Assis e Juliane Mano Brown, Reginho simula Ronaldo, Zidane e Robinho, Correia Ricer Miller, Walter Jacobs e Walter Horton, Raimunda vive os atos dos onze apóstolos fieis e os herdeiros refletem os antecessores.

Como posso julgar tamanha doçura do menino frágil que clama por justiça e pede falta por uma bola dividida de modo ríspido? Poderia exigir da rude russa que cante com exigida dicção os raps de Nelson Triunfo? Ou ao senhor Miagui que gingue o zun zun zun da capoeira?

Nem tampouco posso cobrar do meu pai que compreenda o que é o amor!

Agora pois, já posso pedir a minha mãe em casamento! Livre, solteira, solta, leve, sádica, engraçada, religiosa, levita, cantora, dançarina, nadadora, doida, barulhenta, sabida, sábia, benevolente, valente.

Eu até que sou um bom partido, irei fazer uma proposta irrecusável, de joelhos, com flores, ao som de Riley B. King, depois do sim, iremos passear de Cadillac e tomar uísque escocês.

Espero que ela aceite. Porém, o nome Correia que foi riscado de sua identidade será reescrito, só que agora com letra maiúscula para simbolizar a nova fase de prosperidade.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Rock n' Roll Train


Soteropolitanos têm santos padroeiros poderosos que os amparam na descida, os moradores do bairro da liberdade se confortam com ensinamentos ministrados em reuniões sobre as teorias de Buda, orientais barbados sonham com centenas de virgens que lhes serão entregues em haréns celestiais, a harmonia de lares de famílias ortodoxas advêm de estatuetas que enfeitam a mobília lhes concedendo proteção divina; em qualquer dos casos, a cor da pele ou o idioma falado não fará diferença diante do regente desse magnífico jogo de xadrez, ao visualizar esse jogo vejo uma partida composta por um único jogador, um jogador onisciente capaz de antever o vitorioso desse jogo disputado entre ele e ele mesmo, minha mãe certa vez disse-me um dia que os expectadores de um determinado jogo dispõem de melhor visão analítica acerca do jogo disputado do que os componentes do mesmo, em outras palavras, “quem está de fora enxerga melhor do que quem está dentro”, eu como um bom expectador mesmo na maldita condição de componente desse infinito tabuleiro, funcionando como uma mera peça nesse jogo difuso e interminável, percebi que o tabuleiro que comporta as peças movimentadas pelo todo poderoso jogador funciona como uma veloz locomotiva, onde as peças nele sobrepostas assumem a função de passageiros aprisionados a bordo de um trem fora dos trilhos a ponto de colidir no muro das lamentações, enquanto a Maria Fumaça progride feroz e velozmente, passeio por vagões e vagões, contemplo o vagão do cachorro quente, o vagão do caldo de cana, nele flerto com a mocinha da banquinha do pastel paulistano, leio os anúncios-notícias anexados em paredes e tetos, hora sentado, hora em pé, em dias quente de verão tenho predileção por vagões temáticos, piscinas, ondas artificiais, já no inverno canto o coco e bebo a Brahma para nunca mais ter sede, aprendo com a velha guarda em harmonia com alegria e com os mirins de inocência fenomenal, nas terças aprecio alegorias, fantasias, em sextas noturnas evito vagões iluminados por neons, prefiro os antigos salões esfumaçados onde crimes e paixões são discutidos, no sagrado domingo com as unhas roídas no vagão contaminado por palavras de baixo calão eu grito gol abraçado com meus irmãos, já na segunda-fria um forte uísque sempre cai bem, esquenta e apaga a perturbadora imagem colorida, depois volta tudo novamente, volta o cão arrependido com suas orelhas tão fartas de ouvir clichês e falsos moralistas, filmes, oscilações na tabela, enchentes, filmes novamente, musicais, dinheiro no bolso, bolso vazio, terça, quarta, quinta, sexta, sábado, domingo e a funesta segunda causadora da terrível imagem colorida.
Aí eu me pergunto: - Pra que tanta perna meu deus?

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Saudosa fragrância

Saudade é quando existe a agradável lembrança de um ser ou de algo ausente, dizer que saudade é um sentimento agradável soa de modo confuso, pois o principal sintoma do saudoso é o pranto contido e o lamento pela sentida ausência, no campo poético percebemos a tragédia sentimental causada por personagens morenas, as morenas em sua grande maioria protagonizam os principais contos poéticos, configuram as mais belas canções onde o termo “morena” na maioria das vezes vem acompanhado de tom saudosista, esclareço no entanto, que não estou tirando os méritos da beleza loura, tenham como exemplo Pattie Boyd, loura mulher considerada o símbolo mais devastador da história da música, inspiradora de grandes clássicos do rock, mesmo reconhecendo a primazia ligada ao perturbador encanto da loura Pattie, a beleza da moça morena, o charme da mulher de cabelos negros possui poderes inestimáveis quando postos de frente às alvas loirinhas, esse conceito de superioridade das morenas é histórico, se buscarmos em manuscritos sagrados, cartas de imperadores épicos, até mesmo nos subterrâneos do Vaticano, encontraremos nesses documentos ditos e referências a dor causada por belas e impiedosas morenas, elas são as principais causadoras das admiráveis composições que falam de saudade.

Se saudade é uma grata lembrança de uma pessoa ausente, recomendo a indústria de perfumes dobrar o investimento em seus produtos, ora, cosméticos é um termo que deriva de cosmos, cosmos conota universo, simboliza a bela comunicação entre o homem e o divino inspirado e intermediado pela posição de milhares de astros e galáxias, portanto, não podemos desprezar a importância desses produtos que embelezam nossas amáveis loiras e malditas morenas, ao longo dos meus 288 meses de vida me deparei com diversos cenários que foram captados e fixados em minha memória fotográfica, grandes hits e reefs estabelecidos em minha memória auditiva, contudo, não há memória que supere a memória olfativa, e é por tal razão que recomendo aos grandes fabricantes de perfumes investirem mais no processo de fabricação de seus produtos, digo isso porque fui fortemente atormentado quando ouvi pela primeira vez “Ten years gone” de Led Zeppelin, esse som martelou em minha mente profundamente; a primeira vez em que senti através do meu poderoso tato todo o fulgor da big legged woman me tornei incapaz de deletar isso de minha memória, porém, não houve impacto mais marcante do que quando inalei a agradável fragrância proveniente do sinuoso corpo da cheirosa morena de cabelos negros, isso tudo me fez olhar pra trás e relembrar de seu memorável sorriso, me fez sentir saudades.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Cozinha do inferno

O principal ponto de divergência entre eu e minha mãe reside nos conceitos gastronômicos, decidi então desafiá-la a um duelo, o vencedor do duelo será determinado por um júri imparcial de diferentes faixas etárias proveniente da região do respectivo prato a ser avaliado, esse desafio será disputado em sete dias, terá seu início em uma segunda-feira e o seu fim no seguinte domingo, onde em cada dia prepararemos pratos específicos das seguintes cozinhas - italiana, árabe, portuguesa, alemã, mineira, nordestina e lanches baseados em fast food norte americano - ambos irão dispor de ferramentas equivalentes necessárias para o bom preparo e de ingredientes nobres que irão garantir a qualidade do produto final.

Determinado em derrotar minha mãe e dar fim às nossas eternas discussões de cozinha, fui ao mercado municipal de São Paulo selecionar ervas para tempero e adorno, busquei também algumas especiarias peculiares que certamente desequilibrará o embate em meu favor, nessa busca por ingredientes especiais entendi porque São Paulo é a capital mundial da gastronomia, esse título é reconhecido mundialmente pela multiplicidade de cozinhas que se encontram representadas nos restaurantes e bares de São Paulo, hoje são mais de cinquenta capitais representadas gastronomicamente em São Paulo: Brasil, Alemanha, Angola, Argentina, Armênia, Austrália, Áustria, Bélgica, Bulgária, Cabo Verde, Canadá, Chile, China, Coréia, Cuba, Caribe, Dinamarca, Egito, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grã-Bretanha, Grécia, Holanda, Hungria, índia, Indonésia, Irlanda, Israel, Itália, Japão, Líbano, Marrocos, México, Noruega, Paraguai, Peru, Polônia, Portugal, República Tcheca, Romênia, Rússia, Sérvia (Croácia), Síria, Suécia, Suíça, Tailândia, Uruguai, Venezuela, Vietnã, com isso, esse título concedido à São Paulo é de grandeza equivalente à essa metrópole superlativa.

O que determina a boa qualidade de um prato é a positiva aceitação do paladar do apreciador, assim portanto, vale dizer que a melhor culinária do mundo se encontra no Haiti, o título de capital mundial da gastronomia deveria ser transferido para Porto Príncipe, veja, na Alemanha eles se empanturram com boa cerveja, deleitam-se no agradável sabor de carneiro na mostarda, saladas de maçã e aves com cogumelo, no Japão é saboreado um bom caldo de brócolis seguido por um omelete com camarão e um clássico gohan adocicado que é antecedido por uma água ardente de arroz, na Espanha um pato ao creme é sempre bem vindo diante de uma boa sangria e uma saborosa batata assada, em Portugal não há quem resista a um bacalhau ao vinho e de sobremesa um arroz doce português, os típicos apreciadores de tais pratos se deliciam ao saborearem seus bons ingredientes preparados sob fantásticas receitas de orgulhosa tradição de cunho artístico, entretanto, eles não saboreiam seus apetitosos e tradicionais pratos com prazer superior em comparação a um haitiano no momento de suas refeições, tenho como exemplo os emblemáticos e principais restaurantes encontrados nos principais centros de gastronomia de todo o mundo, nesses respeitáveis e luxuosos restaurantes conseguimos encontrar clientes apreciadores descontentes com o serviço prestado, há quem reclame da temperatura do vinho, há quem critique a maturação e fritura da carne, há quem recrimine a configuração estética do prato, há quem rejeite a composição do molho, por mais que o chefe cozinheiro se dedique no preparo dos pratos, sempre haverá alguém descontente com um determinado ponto de desequilíbrio em seu pedido, essa imperfeição inerente a todos os restaurantes, bares e lancheterias de todos os cantos do mundo não é encontrada na Cozinha do inferno, principal restaurante situado em Porto Príncipe capital do Haiti.

Na Cozinha do inferno encontramos ingredientes descartados pelo mundo inteiro, os chefes de cozinha da Cozinha do inferno são verdadeiros gênios da gastronomia, eles dispõem dos piores ingredientes do mundo e de maneira inexplicável seus clientes estão sempre satisfeitos, um fenômeno não conquistado pelos principais chefes europeus que mesmo dispondo de ingredientes nobres de excelente qualidade não conseguem a plena satisfação de sua clientela, os frequentadores da Cozinha do inferno têm a disposição um cardápio vasto com diversas opções, nesse cardápio também tem opções de sabores destinados aos porcos que de modo doméstico dividem do mesmo ambiente desse estabelecimento com os clientes humanos, nesse gigantesco restaurante vemos crianças, gatos, cachorros disputando seu café da manhã na lateral da cozinha, receio que essa enorme procura e disputa seja fruto da primorosa condição dos alimentos encontrados na Cozinha do inferno, um restaurante sempre cheio, com alto pico de movimento, fluxo contínuo, não há restaurante no mundo que supere a alta procura da Cozinha do inferno, não existe carta de bebidas nesse restaurante, na Alemanha existem milhares de sabores e tipos de cervejas, em Portugal os melhores vinhos, já em Porto Príncipe eles misturam uma secreta composição química às sagradas águas dos poluídos córregos haitianos, dessa fusão surge uma bebida extremamente saborosa, de acordo com o paladar haitiano não há bebida no mundo mais saciante do que a água benta da Cozinha do inferno, considerando todos os atributos dessa fenomenal culinária de Porto Príncipe é possível dizer que na capital haitiana existe o melhor restaurante do planeta, pois a Cozinha do Inferno é o único restaurante do mundo onde não existe reclamação e todos os consumidores estão sempre felizes.

Caso eu venha a ser derrotado pela minha mãe nesse duelo diante dos fogões, eu irei fazer um estágio no Haiti para entender um pouco mais de alimentação e assim derrotar minha mãe em um novo embate gastronômico.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Sorriso de Elis.


Mckinley Morganfield diante de Faraó teria negociado a libertação dos judeus com eficiência diplomática superior a de Moisés o príncipe do Egito, a petição de Mckinley seria calcada na misericórdia, de alguma maneira ele teria conquistado a liberdade do povo judeu sem a necessidade das dez pragas, aquilo foi um exagero, rios convertidos em sangue, tempestade de gafanhotos, chuvas em chamas ácidas, chagas flamejantes, um verdadeiro genocídio.

Se concebermos grandes fenômenos de tragédia histórica perceberemos a limitação argumentativa de grandes governantes da história, se trata de seres de visão arbitrária e estreita, podemos citar como exemplo Nabucodonosor imperador do período babilônico, esse é um modelo clássico de incapacidade argumentativa, incapaz de refletir sob um tema que foge de sua órbita de governo, Daniel, Sadraque, Mesaque e Abedenego não seriam lançados na fornalha não fosse o imponente ego do imperador babilônico, mencionar exemplos de nossa realidade revelará que o terrorismo habita na inflexibilidade racional de nossa monarquia democrática, o terrorista por opção é um perigo à vida, no entanto, o conceito de terrorismo abrange uma pauta maior do que imaginado, sobretudo quando atos terroristas advém da fonte de proteção, dos legisladores da ordem e da paz, nesse caso não há com escapar, pois esses executivos do bem não se escondem em pseudas mansões ou em montanhas, se revelam em santinhos em período eleitoral, terroristas apoiados pelo clero protestante e milionário, a esses, Nelson Cavaquinho seria uma grande ameaça, seria uma ameaça a filosofia nazista, de boteco em boteco ele seduziria as moças de pele branca e de sangue nobre, seria uma afronta a estatura de Adolf, Nelson Cavaquinho seria uma injúria a qualquer república absolutista, seu samba desmancha grilhões, um perigo, talvez sua elegância fosse uma poderosa arma militar anti-terrorismo.

Já ouvi falar sobre armas atômicas que dizimam extensões territoriais incalculáveis, também ouvi e vi o sorriso de Elis, veja, quando especulam acerca de prováveis desastres nucleares, ou até mesmo em catástrofes ambientais, há quem repouse ou reflita em explicações e proteções de cunho religioso ou divino, digo que esse refúgio religioso é o menos confortante, pois os clientes das grandes instituições religiosas são conquistados ou persuadidos através de ameaças apocalípticas e de tortura após a morte, em outras palavras a busca por refúgio se torna mais complexa e dolorosa, há quem confie na nova ordem de governo mundial, mas basta olharmos nos olhos de nossos governantes que enxergaremos pedofilia e abuso de poder, em meio a tanta crueldade de cima pra baixo e em meio a forçada crueldade de baixo pra cima, escolho repousar no sorriso de Elis.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Badge

Não é verdade dizer que tatuagens são marcas para o resto da vida, em determinado versículo bíblico dizem que a palavra nunca volta vazia, a fixação da palavra mal proferida é mais marcante do que uma tatuagem, pois, basta uma cirurgia a laser que a tatuagem desaparecerá, se o caso for, basta remover a tira de couro onde a tatuagem foi forjada que a nova pele se regenerará sem a indesejada marca, se consideramos a conseqüência do que é dito perceberemos que a palavra é mais poderosa do que documentos impressos, pois a queima de arquivos em matéria concreta ocultará a informação proibida, porém os acordantes sempre saberão entre si o que foi estabelecido no acordo; assim, é importante nos atentarmos ao que publicamos na internet, tudo que é publicado em redes sociais fica registrado para sempre, imagens, vídeos e pensamentos compartilhados de modo público serão patrimônios de todos, é um caminho sem volta, pois em um único clique a informação compartilhada se multiplica em bilhões de cópias no mundo inteiro em questão de segundos, é como subir no alto de um edifício e derramar um enorme saco carregado de penas, por mais que tentem, as penas derramadas jamais serão resgatadas por completo, portanto meus irmãos, voz exorto quanto aos maus sentimentos que são expressos nas redes, saibam que eles jamais se apagarão, sempre estarão em algum espaço guardado em algum HD em algum canto do mundo, e ainda que tais informações indesejadas sejam deletadas por completo, saibam que essas mesmas informações estarão eternamente gravadas na memória daqueles que viram, portanto, sejam sábios e ponderem aquilo que é exposto.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Me versus Eu

É Possível sim resgatar elementos eliminados pelo tempo, me refiro a elementos úteis, inúteis em situações passadas, mas que teriam valiosa serventia se dispostos em futura situação, onde tais elementos se enquadrariam com os requisitos exigidos pela situação nova, afinal, no arquivo da subconsciência não existe “delete”, lá tudo está, arquivos bem armazenados e protegidos por selos violáveis, vale então dizer que os desejáveis elementos outrora dispensáveis, na verdade não foram eliminados pelo tempo, mas sim selados e protegidos pelo subconsciente a fim de protegê-los de usuários ainda incapazes de manipulá-los, portanto, os selos de proteção postos sobre os poderosos “cofres da lembrança” serão abertos apenas quando o invasor dispor de condições para derrotar o sábio guardião dos cofres submersos nas profundezas do subconsciente.

A forte musculatura combinada com a eficiência do aparelho respiratório que abastecia velozes pulmões aliados ao sísmico sistema cardiovascular que impulsionava um perfeito fluxo sanguíneo, dava um belo rubor a branca pele da tímida menina, na mesma condição jovial, essa sincronia do organismo adolescente dava um excelente brilho aos meus antigos cabelos lisos e negros, todo esse vigor estético próprio da jovialidade alimentava minha perfeita visão de águia, com ela eu visualizava o sorriso da menina, uma visão tão poderosa que me permitia ouvir o sabor de seus lábios, entretanto, a força dessa visão vulcânica cegava-me dentro daquela embarcação, não conseguia enxergar a cor dos mares de Bertioga pelos quais planávamos, nem tampouco me recordo da configuração arquitetônica daquele porto medieval, suponho que esse perdido cenário me seria bastante útil na profana noite pentecostal do blues protagonizado por mim e alguns artilheiros dias atrás na vila de Paranapiacaba.

A florescente camiseta amarela em mim trajada durante o festivo luau dos gentis no estaleiro Santa bárbara iluminava o circulo de expectadores, refletia no rio noturno, mas não foi capaz de atrair a atenção da “nobile paranaense”, até os meus iluminados cabelos modelados em gel não bastaram para submetê-la à minha ilusão ali lançada, creio que o meu hoje tom de voz grave seria mais eficiente na busca de ludibriá-la do que aquele júbilo coletivo agúdo que cantava pérolas da música popular brasileira.

Más lembranças me convenceram a desistir de tentar derrotar o guardião dos cofres do subconsciente a fim de remover os selos que me revelarão ciências escapadas em épocas passadas, irei por um caminho menos perigoso, buscarei primeiro a plenitude financeira para ter condições de suborná-lo durante o embate caso eu venha fraquejar, é possível que essas propinas concedidas me poupem de um duelo desnecessário e me levem direto ao desejado rompimento do véu.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Sinfoniaria

Em comissões que discutem a inserção da arte e da cultura em todos os meios, modelos e instantes da vida cotidiana de uma sociedade moderna é possível visualizar uma vida em oposição à monotonia, seria a extinção do tédio, certamente veríamos todos os prédios acadêmicos implodidos e reerguidos para demandar o novo modelo de liberdade artística, os docentes que lecionam capitais e tabuadas às nossas crianças seriam transferidos de suas funções robóticas a cargos vívidos e desafiadores, nossos adultos e crianças aprenderiam a criar, todo o ser racional dominaria o conceito de criação, seria um mundo engenhoso apreciador da criatividade concreta, seriam vinte e quatro horas diárias de possibilidades improváveis e sem limites, existiriam fábricas de produtos duvidosos que seriam consumidos em demasia e sem hesitação, Jimmy Page certamente abriria uma fábrica de sinfonias, corpos vivos se readequariam por conta da enorme quantidade de calorias que seriam queimadas, haveriam marchinhas juninas, quadrilhas setembrinas, árvores frutificariam dinheiro e teríamos que criar um novo regime monetário, seria o fim de regimes e o surgimento da igualdade.

O fato é que essas comissões não existem, o que torna a realidade fantasiada nessa suposta comissão distante e improvável, por isso, tenho que levar meu irmão mais velho ao jazz enquanto há tempo, me vejo obrigado a levar minhas cunhadas a um passeio de zepelim em uma noite de domingo para que todos que estiverem por debaixo dessa embarcação que flutua por sobre as ondas das nuvens britânicas vejam seus leds luminosos que enfeitam o firmamento noturno assim como a imponente camisa verde limão que dominou as arquibancadas brasileiras.

Enquanto me houver a possibilidade de criar, enquanto eu compreender o poder e a graça da criação estarei livre de paradigmas e do falso brilho no olhar, brilho este encontrado apenas em refugiados da missa que se acomodam em um confortável sofá em noites de domingo a fim de apreciarem o “show da vida” enquanto se saboreia um delicioso prato com achocolatado em pó e leite condensado.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Desilusão

Quase que diariamente me confronto com o descompasso do “ontem” em relação ao “hoje”, suponho que se trata da contínua assimilação das ininterruptas invenções humanas, as novas considerações apreendidas diariamente se envergonham dos conceitos defasados da noite anterior, junto com essa arritmia dessas positivas absorções que são rapidamente eliminadas por novos sabores vem também a decepção com a estruturação padrão de quase todos os órgãos estabelecidos em sociedades civilizadas, o que dizer de nossos educadores que repousam em paradigmas obsoletos e que contraditoriamente se abstêm das fontes de raiz que deram origem a essência da matéria ensinada? Por conta de vários exemplos negativos na desarmoniosa constituição da verdade e até da mentira residente em nossos aparelhos sociais nos deparamos com freqüentes desilusões, nos deparamos com benéficas desilusões que nos possibilitam alçar vôos mais altos, afinal, o que realmente está errado nos conceitos tidos por exatos é a alienação produzida por essa exatidão incontestável e seguida cegamente.

Assim digo, o mundo tem que parar de avançar, caso contrário não poderei encará-lo de frente, pois não terei tempo suficiente para alcançá-lo.

Imagine você pobre mortal, como poderia entender a pentatônica da harmônica blues não fosse a criação instituída por Little Walter?

Foi um péssimo erro descobrir John Paul Jones enquanto pianista sintético, quem mais poderia criar “No Quarter”? Ele transpassou a lógica e fez jus aos seus poderosos parceiros de palco possuidores de maestria equivalente.

Hoje posso contemplar memórias graças aos admiráveis inventores de sinais gráficos, veja, como poderia contemplar algo sem conhecer o “CE”, o “O”, o “ENE”, o “TE”, o “E”, o “EME”, o “PE”, o “ÉLE”, o “A” e o “ERRE”?

Ao meditar sobre aquela idéia fixa que teima em sair, percebo que as recorrentes novidades apreendidas dão força a ela ao invés de expulsá-la, só não me perturbo com essa teima pois ainda não assimilei algo de tamanho superior à essa idéia fixa, no dia dessa assimilação terei envergadura para expurgá-la.

Essa crescente que é inerente ao ser é bastante confusa, quer seja em movimento ou estagnado o espírito não para de ascender, arrisco a dizer que quando estacionado a chama queima mais intensamente, o que permite dizer que o corpo dispõe de ação autônoma, mesmo sem percebermos estamos em frequente atividade.

Então que venham as desilusões, ainda que dance eu e dance você na dança da solidão, acreditem, não estamos sozinhos, basta olharmos pro lado e veremos milhares e milhares de inventores.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Débito.

Ao longo dos últimos três anos adquiri uma série de dívidas que me submergiram a um intenso grau de comprometimento com tudo que me cerca, antes de assumir tantos encargos que me foram confiados recentemente, eu dispunha de uma postura leviana com determinados compromissos que aparentemente eram de pouca relevância, por conta de meus pré- julgamentos equivocados sobre acordos menores eu sofri prejuízos quase que irreparáveis, com isso, aprendi a honrar todos os tipos de acordos que forem selados entre eu e a respectiva parte independentemente da grandeza do compromisso, agora pois, coloco todos meus acordos, pactos e missões no mesmo patamar de dedicação.

Por considerar essa minha correção de postura, quero dar destaque a um recente pacto que firmei com determinada moça, se trata de um acordo que talvez em tempos atrás não fosse conduzido com o merecido respeito, contudo, conforme dito, a minha palavra adquiriu novos poderes, por mais que esse tratado seja tratado de modo jocoso pela moça com a qual eu me propus, minha palavra buscará cumprir a força inerente a ela quando fora proferida.

Adquiri tal dívida com a mencionada moça em pleno Boulevard São João em uma das noites mais quentes do ano, estava curtindo a melhor banda cover dos quatro garotos de Liverpool, nesse mesmo ritmo classic, horas antes, eu havia mergulhado na década de setenta e ingerido grandes clássicos do lendário Fernando Mendes, contagiado pela emblemática atmosfera do vale do Anhangabaú e por algumas doses de um velho bourbon eu não pude resistir a intensa ofuscação que fui submetido no instante em que surgiu uma nobre aldeã renascentista, surgiu erigindo-me aos seus insinuantes e esverdeados olhos negros, por mais que eu tentasse me voltar ao show que era exibido, a doçura de seu sorriso combinada com um agradável tom de voz que a distância atingia meus ouvidos não permitiu que eu fizesse algo que não fosse olhar pra ela, em meio tudo isso, olhei pra mim e notei que estava ultrajado com o sagrado manto palestrino, considerei também a consistência de minha barba e me julguei digno de me aproximar dessa moça que tomara a atenção de todos que a rodeavam, nessa aproximação fui severamente castigado por sua enorme graciosidade e gentileza, diria até que perturbado com minha incapacidade de assimilar tanta simpatia concentrada em um único ser, como se não bastasse fui surpreendido com as aspirações dessa bela moça, percebi suas boas tendências e aptidões, dentre tantos atributos positivos encontrados nessa menina-moça-mulher, o que mais prendeu minha atenção foi sua condição de guitarrista e o interesse de se inserir no mundo do blues através da harmônica, quando ela se referiu a esse desejo ligado a música e a gaita blues eu serenamente levantei o meu queixo que estava caído e me pré-dispus a conduzi-la ao mundo da gaita blues, obstante a qualquer arrogância, propus a ela lhe mostrar os caminhos iniciais para se tocar gaita de modo pleno, digo portanto, que se trata de uma missão simples e prazerosa que irei conduzir com total dedicação, mais prazeroso ainda será o dia em que esta moça superar a minha condição de gaitista, nesse dia direi a mim mesmo: Missão cumprida.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Menina da Platéia


Eu na condição de descendente de piauienses passei minha infância ouvindo os LP's de Fernando Mendes, Fernando Mendes é uma lenda no estado do Piauí, fiquei bastante surpreso ao ver a programação da virada cultural 2011 e encontrar o nome do primeiro cantor de rock que me inspirou, as 19h no palco Arouche irei ter o privilégio de ver o cantor que moveu a trilha de meus parentes antecessores.

Quando criança eu tinha preferência pela canção "menina da platéia", hoje já adulto após longos anos voltei a ouvir essa canção e descobri que ela tem tudo a ver comigo.

Menina da Platéia

Quando ele chegava pra cantar
No inicio de sua carreira
Via sempre no mesmo lugar
Sempre na mesma cadeira

Uma menina simples que sorria
Que cantava, que aplaudia
Que o animava a continuar
E quando a canção era triste
Começava a chorar
E sonhar com o amor do seu cantor

Menina da platéia
Que ama seu artista
Onde esta você agora?
Por que perder você de vista?

Menina da platéia
Que ama seu artista
Onde esta você agora?
Por que perder você de vista?

Hoje quando ele volta pra cantar
Seu sucesso coberto de fama
A platéia o aplaude a gritar
Em delírio o seu nome chama

Mas ele sente falta da menina
Que sorria, que cantava, que aplaudia que o animava
Sente a ausência tão triste
Do seu sorriso, do seu olhar
Vem que é preciso você voltar
E trazer consigo aquele beijo amigo
Outra vez
O que seria do artista se não fossem vocês?

Menina da platéia
Que ama seu artista
Onde esta você agora?
Por que perder você de vista?

Menina da platéia
Que ama seu artista
Onde esta você agora?

por que perder você de vista?


Logo abaixo segue o link pra download da canção "Menina da Platéia":

http://www.megaupload.com/?d=OK6VKWE9

segunda-feira, 14 de março de 2011

Bola de fogo.

As leis trabalhistas na Argentina dão ao trabalhador apenas quinze dias de férias, quando soube dessa informação contive meu riso diante das harmoniosas hermanas, afinal aqui no Brasil temos trinta dias de férias, não obstante à infinidade de feriados, sem mencionar o festival da carne, o nosso carnaval de Olinda de bonitas bonecas lindas, sem falar dos ritos amazonenses repletos de carnalidade, da maravilhosa concupiscência de nossas madrinhas de bateria que sambam na ponte Rio-São Paulo. Digo portanto, que o verdadeiro espírito da Saturnália está aqui no Brasil, é um período miraculoso, o mundo europeu, povos da Ásia menor, a África daqui e a de lá se compactam em terrenos santificados, esses terrenos são de asfalto, de areia e até de barro, há quem prefira dizer sambódromo, arena, praça, dentre outros.

O Carnaval Brasileiro é tão prestigioso que até os espirituais religiosos são beneficiados com esse festejo pagão, o belo feriado de quatro dias e meio concedido pelo festival da carne permite aos mortais religiosos quatro dias e meio de descanso espiritual, eles exilam-se dos que se desgastam e gastam a carne na volúpia maratona carnavalesca, eles aproveitam esse período para fortalecer a fé, o carnaval também abre precedentes a eventos prolongados, para grandes reuniões familiares com viagens fora do período de férias.

É no carnaval que surgem grandes romances, aventuras passionais típicas do verão, nele também se adquiri novos conhecimentos através de novas amizades, carnaval é uma palavra de morfologia perfeita, possuidora de tantos significados subjetivos de ação objetiva, nesse carnaval no entanto, tive que renunciar à direção de um bloco, ansiei por esquadrinhar a alegoria do sugerido enredo, porém esse hábil tempo de quatro dias e meio não permitiu que eu curtisse o carnaval como se deve, esse tempo me levou para o cemitério das locomotivas, estive diante de esqueletos de trens ancestrais, eu estava fixado e circunvizinhado por gigantescos vagões que fitavam-me sob uma tenebrosa e intensa neblina noturna, o ferrugem dos trilhos refletiam a luz da lua acompanhada de nuvens hostis, quando enfim a cancela se abriu, aceleramos o carro com destino ao subterrâneo do cemitério, a trilha de Big Bill Broonzy dentro do carro foi interrompida pelos apitos cheio de delay que ecoavam pela morada dos falecidos trens acompanhados por centenas de árvores bem vivas e esvoaçantes, curioso foi estar no subterrâneo repleto de árvores, a verdade é que em momento algum fui tomado pelo temor, extraí a experiência prática necessária para desenvolver o roteiro do curta metragem que mostrará a execução do blues brasileiro.

Já que o carnaval 2011 se foi, logo após esse documentário começará o meu, o seu, o nosso carnaval, esse sim mostrará o verdadeiro milagre da Saturnália.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Nós gostamos muito desse disco seu.




Enquanto eu praguejava contra o sinistro trânsito de São Paulo me lembrei da miséria do Haiti e  me envergonhei da barriga cheia e do desnecessário protesto. Não posso estimar o tamanho da penúria vivida por lá, enxergamos apenas uma árvore, para que vejamos a floresta é necessário que experenciemos o fardo e a dor, o julgamento baseado apenas em teorias é impreciso, portanto um julgamento equivocado, as facas que passearam pelas peles de mártires e os açoites que respigaram em negros dorsos deram às vítimas o conhecimento da redenção, da resignação derivada da tormenta, assim, não irei me atrever em avaliar a moda desesperadora de 1973.

Os calos nas mãos e a aspereza do cabo da inchada são agonias que desconheço, então eu vou falar de passeios pelas ruas de São Paulo, por entre os carros, sob a consolação do amor na Consolação, de passeios na zona leste onde nasce o sol, do romântico caminho na marginal do rio pinheiros quando se põe o sol, veja o sol que arde aí no sertão, esse sol aqui em São Paulo não racha o chão, me lembro quando partiste, foram lágrimas diluviosas, por elas nasceu um rio, e hoje eu mando um abraço pra ti menininhha da terra do frio.

Misericordiosissimamente, com muita percussão melódica, com profunda melodia percussiva, foi feito uma máquina, esse álbum é uma máquina de rock, uma fábrica de sinfonias ancestrais, uma usina brega, esse álbum voará por mil oceanos, é o ronco do passado, é como vozes de eras passadas que ecoam pela mente.

O que eu posso fazer então? Eu não posso fazer nada, irei apenas ouvi-lo, apreciar a arte clássica renascentista com profundeza nordestina com fogo urbano e arpejos violentos.

Me condeno por não fazer nada, bem pior é ignorar Belchior.

Pensando bem não ficarei de braços cruzados, disponibilizarei o link para download desse poderoso álbum:


terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Reginho


Meninos quando crescem se tornam homens, mas houve aquele que foi homem enquanto ainda era menino.

Aos onze anos de idade o menino já era o chefe da casa, o homem menino que partia em frias manhãs buscar o sustento de seus irmãozinhos.

O pesado fardo que esta criança carregou mostrou aos seus sucessores o caminho a ser seguido, se buscarmos o que há de bom nos legatários do menino Reginaldo facilmente veremos seu reflexo reluzido, se buscarmos o que há de ruim em seus aprendizes veremos frutos provenientes de práticas contrárias aos seus ensinamentos.

So many roads, por todos os caminhos onde Reginaldo esteve ele deixou saudades, faz muita gente sorrir, sai por aí emocionar.

Quando circular o matutino vou provar que esse menino não é tão levado assim.

Quando suas namoradas da fase adolescente se opunham a ele, certamente ele dizia - “olha eu só trabalho e não é fogo de palha o pandeiro e o tamborim, amor não é por aí, você vive a brigar, vivemos na corda bamba, mas amanhã eu vou mostrar os jornais vão publicar meu novo samba” - e após isso ficava tudo certo.

O belo sábado agora vai chegar, agente vai se encontrar bem cedo, me parece que esse homem tá virando menino.

32 anos! Parabéns Rejo!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Irmandade.

Charles Xavier busca a conciliação entre mutantes e humanos, o professor Xavier é o intermédio de paz entre o conselho da ONU e a ameaça mutante, contudo, sou cético quanto a um acordo de paz, pois não há comunhão entre a luz e as trevas, se trata de um julgo desigual, por mais que o professor X na condição de maior telepata de todos os tempos almeje pela harmonia entre a conformidade humana e a rebelião mutante, não imagino que ele vá conseguir reunir o joio e o trigo em uma mesma lavoura, basta considerarmos alguns mutantes em complacência a certos humanos e perceberemos que o objetivo de Charles não será alcançado .

Imagine Jimmy Hendrix com seu espírito guerrilheiro metralhando o sistema inimigo com sua impiedosa e sobrenatural guitarra, dividindo da mesma trincheira que o Salgadinho vocalista do grupo Katinguelê, certamente Hendrix o mataria, pois o temor e o choro de Salgadinho aborreceriam Mr. Hendrix o que levaria Salgadinho a morte, ele seria decapitado pelo afiado bend da Stratocaster de Hendrix.

Imagine agora os meninos do Menudo saltitantes em pistas noturnas enfeitados por neons luminosos liderados pelo belo Rick Martin, onde os Menudos desafiariam com briosa dança o piano do monstro Hermeto Pascoal, Hermeto no teclar de sua escala percussiva os mandaria direto para o Limbo através do poder de seu jazz teletransportador.

O londrino demônio Jimmy Page humilhou em “It Might Get Loud” o frágil e simplório parceiro de Bono Vox, Edge, mostrou aos humanos U2’s que tecnologia barata de efeito áudio visual jamais superará o talento da essencial centelha mutante.

A magia do mago Valdívia quando posta em campo humano mostra a força da gloriosa túnica verde, com isso, o sagrado manto verde se dissocia de veste humana.

Poderia acaso o consagrado acordeom de Gonzagão exprimir o mesmo sentimento do tinhoso Januário se tocado pelas lisas mãos humanas dos galãs do “universitário sertanejo” contemporâneo? Com certeza não!

Se juntarmos Adoniran e Elis teremos um samba que provém das profundezas do submundo, um samba tão tenebroso e assustador que repeliria a humanidade de jeito moleque, se unirmos Ritchie Blackmore e Ronnie James Dio teremos um poderoso arco do rock and roll, uma força dizimadora, afinal, se trata de seres de níveis equivalentes.

- Pois bem Xavier, desista de unir a feliz humanidade aos inconformados mutantes, faça como Magneto, dê a César o que é de César e a deus o que é de deus, assim portanto, abandone essa ilusão e não se misture com a gentalha, junte-se ao nosso magnetismo, Charles.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Babilônia.

O elogio massageia o ego, principalmente dos que não estão familiarizados com ele, o ser de grandes atributos estéticos ou possuidor de tantas dádivas recebe o elogio de modo banal, o enaltecimento é algo que enfada o belo e a bela, em raros casos fui alvo de consagrações honrosas por determinados feitos, em casos bem mais raros fui louvado por peculiaridades estéticas, recebi tais referências positivas e me alegrei com elas, contudo quero dar destaque à determinada associação que fizeram a um ato meu, associação que me encheu de orgulho, jamais imaginei ser associado á algo tão grande, estava eu em um ambiente litorâneo, em um complexo praiano de arquitetura vintage, de decoração rústica de plástica singular, em tal ambiente era possível encontrar doutores de tantas áreas, residentes de tantas capitais, faces de todas as cores, em tal ambiente 80% dos presentes possuíam boa habilidade em tocar violão, todos tinham um pé na música e não faziam feio em seus respectivos instrumentos, no meu caso a harmônica blues me representava, mesmo com ela o grande pecado de não saber dançar forró e nem tocar violão me assombrava, nesse ambiente coletivo haviam treze violões disseminados no lobby e na margem da piscina do hotel, o som predominante era reggae, pop rock e samba paulista, o meu tédio e carência por um violonista que tocasse blues ou baião para eu simular riffes de acordeom na harmônica me forçou a pegar o último violão disponível, peguei o violão, me assentei em certa extremidade daquele ambiente coletivo e comecei a tocar o som que me compraz em volume tênue, som de autoria minha, suponho que por isso o executei bem, no clímax do som um boêmio ludibriado pela lua e pelo álcool se achegou e começou a cantarolar em cima da harmonia que eu tocava, nesse instante parei de tocar e mostrei a ele como ele deveria cantar, em seguida voltei a tocar e ele a embromar em inglês dentro da melodia que eu lhe sugeri, nesse ato, duas belas loiras internacionais deixaram a roda do samba cujo a qual elas participavam e se aproximaram de nós, da dupla que improvisara um blues dissonante, ao perceber essa aproximação mudei a progressão do som o tornando mais agressivo, quando enfim finalizamos a música as duas únicas expectadoras que tínhamos aplaudiram de modo efusivo, na seqüência essa dupla de belgas cessaram os aplausos e uma dessas me perguntou:

- Do you like John Lee Hooker? - Apontando seu olhar pra mim -

- Yes I love him! Why do you ask me It?

- Cause you play like him!

Emudeci, cinco segundos de silêncio, minha audição fez uma busca de trezentos e sessenta graus, nessa busca minha audição pôde identificar a qualidade de todos que ali tocavam, eu definitivamente era o pior de todos, o único que não sabia tocar violão, mas eu entendi o feeling que fora expresso no momento em que toquei aqueles acordes, em virtude da minha incapacidade de tocar violão eu busquei acordes de modo particular fora do padrão “correto”, é comum aqui no Brasil em rodas de violão tocarem blues de doze compassos, quatro por quatro, naquela pegada rock blues bem amadora e clicherosa, eu como sou do delta, como tenho enraizado em meu cérebro Son House segui um padrão rítmico mississipiano, em virtude disso a gentil belga viu em mim um estilo John Lee Hooker, após essa honrosa referência senti meu ego inflando a ponto de explodir, agradeci ao elogio e me retirei da presença das moças, guardei o violão, pedi pra moça da recepção acessar uma rádio online e trilhar o som ambiente com canções do mestre Hooker, me dirigi ao bar do hotel e cultivei o recente elogio a base de altas canecas de chope gelado.

Enquanto entornava minha terceira caneca percebi que todos os aventureiros metropolitanos que partiram em busca do paraíso natural, que buscavam se desligarem da correria urbana encontraram uma centelha nesse ambiente de caráter paradisíaco, era nítido em todos presentes o prazer proveniente do repouso de espírito encontrado no éden daquele hotel, entretanto, percebi algo perigoso em tal ambiente, havia um enorme perigo por força das peculiares personalidades que compunham aquele espaço, haviam empresários madrilenos, médicos milaneses, comerciantes cariocas, engenheiros chilenos, atrizes alemãs, argentinos rippies, cinegrafistas amadores, fotógrafos profissionais, irlandeses missionários religiosos, e muitos paulistas safados detentores de altos cargos corporativistas, todos esses fugiam da mística que caracteriza uma grande metrópole, assim portanto, foi uma fuga vã por parte de todos, pois o compartilhamento coletivo das experiências profissionais de todos que ali estavam trouxe de modo indireto aquilo que eles procuravam ocultar, a troca de contato telefônico entre todos que confraternizavam era fruto de pretensões em comum entre os forasteiros, ao avaliar a diversidade de talentos, de grandiosos talentos compactados em um mesmo complexo, consegui visualizar o surgimento de um novo império, o surgimento de um novo sistema econômico regido por uma nova filosofia política desenvolvida por esse grupo de viajantes, e é aí que habita o referido perigo, afinal haviam seres extremamente talentosos suprimidos pelo bem estar do capitalismo, pela zona de conforto do bom trabalho rentável, contudo esses bem remunerados por conta dessa força capitalista indissolúvel não podiam exercer o verdadeiro potencial oculto, bastaria alguém propor uma revolução naquele meio que todos presentes encarariam o encargo revolucionário ali proposto, seria como jogar gasolina na fogueira.

Voltarei nesse ambiente sexta-feira agora e terminarei o que ficou pendente, vou botar fogo naquele lugar, vou riscar o estopim e assistir de camarote a esplendorosa explosão, após o baixar da fumaça irei ver o que acontece.

Quero ver quem ficará de pé!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Matéria prima.


Ferro e carvão flamejante são elementos essenciais para forjar a lâmina da espada, o barro argiloso manipulado pelo oleiro se transforma em valiosas esculturas, o papel no qual agora escrevo antes fora um altivo pinheiro, o antílope que outrora saltitara hoje aquece o pescoço da nobre madame.

Sem ferro não haveria espada, sem barro não existiria tijolo, sem o couro do veado o inverno europeu não seria aquecido. Não existe manufatura, sindicato, mão de obra qualificada, artesão ou artista, sem a matéria prima, não existe produto final sem a matéria primordial, considerem a fabricação da cerveja, onde são utilizados inúmeros ingredientes primários como a água, o lúpulo, a cevada, dentre outros, o mestre cervejeiro reúne esses ingredientes em sua forma tosca, os lapida e assim produz a cerveja.

Em qualquer profissão o profissional da respectiva área mesmo que inconscientemente reflete sobre a matéria bruta que move o negócio de sua profissão, na maioria das profissões o foco dessa reflexão baseia-se no lucro financeiro que o investimento em cima dessa matéria prima pode trazer ao investidor, essa avaliação mesmo que feita de maneiras diferentes tem o mesmo fim, quer seja feita pelo padeiro, ferreiro, agricultor, banqueiro, químico ou açougueiro.

No caso de escritores, músicos e artistas de natureza poética a reflexão sobre a matéria prima que move suas profissões é demasiadamente complexa, pois a matéria prima essencial para a construção do produto desses profissionais da arte é nada menos que a humanidade, é a fauna, é a flora, o escritor depende de relações humanas afetivas para desenvolver o cenário visual vendido em sua obra escrita, o escultor inspira-se nas pernas torneadas de Maria do Socorro para moldar sua Mona Lisa em areia, o poeta respira o ar urbano enquanto escreve à sua querida loira de natureza bucólica, o músico quando esculpe os acordes de sua canção relembra da fria chuva que o molhou após o não, inspira-se no corajoso sim pronunciado pelos desejáveis lábios da protagonista mencionada em suas linhas melódicas.

A capacidade sensorial do profissional da arte funciona como um sexto sentido, o artista capta a dor sentida e a expurga em seu produto, os bons artistas que dispõem desse sexto sentido são incapazes de fitarem com lindos olhos carentes, eles enxergam além do que é proclamado e ostentado com falso orgulho, eles materializam o desejo em suas obras, por isso são transparentes e paradoxalmente indecifráveis.

A grandeza da matéria prima que cria o produto final dos profissionais da arte lhes permite viverem do comércio barato, lhes permite viverem em turnês milionárias, a matéria prima do escritor, do músico, de artistas de natureza poética é nada menos que a vida, é a vida assistida, é a vida corrida, a vida sofrida, é a vida vivida, essa valiosa matéria dá aos artistas poderosos olhos, olhos poderosos, olhos que olham com desejo.