terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Reginho


Meninos quando crescem se tornam homens, mas houve aquele que foi homem enquanto ainda era menino.

Aos onze anos de idade o menino já era o chefe da casa, o homem menino que partia em frias manhãs buscar o sustento de seus irmãozinhos.

O pesado fardo que esta criança carregou mostrou aos seus sucessores o caminho a ser seguido, se buscarmos o que há de bom nos legatários do menino Reginaldo facilmente veremos seu reflexo reluzido, se buscarmos o que há de ruim em seus aprendizes veremos frutos provenientes de práticas contrárias aos seus ensinamentos.

So many roads, por todos os caminhos onde Reginaldo esteve ele deixou saudades, faz muita gente sorrir, sai por aí emocionar.

Quando circular o matutino vou provar que esse menino não é tão levado assim.

Quando suas namoradas da fase adolescente se opunham a ele, certamente ele dizia - “olha eu só trabalho e não é fogo de palha o pandeiro e o tamborim, amor não é por aí, você vive a brigar, vivemos na corda bamba, mas amanhã eu vou mostrar os jornais vão publicar meu novo samba” - e após isso ficava tudo certo.

O belo sábado agora vai chegar, agente vai se encontrar bem cedo, me parece que esse homem tá virando menino.

32 anos! Parabéns Rejo!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Irmandade.

Charles Xavier busca a conciliação entre mutantes e humanos, o professor Xavier é o intermédio de paz entre o conselho da ONU e a ameaça mutante, contudo, sou cético quanto a um acordo de paz, pois não há comunhão entre a luz e as trevas, se trata de um julgo desigual, por mais que o professor X na condição de maior telepata de todos os tempos almeje pela harmonia entre a conformidade humana e a rebelião mutante, não imagino que ele vá conseguir reunir o joio e o trigo em uma mesma lavoura, basta considerarmos alguns mutantes em complacência a certos humanos e perceberemos que o objetivo de Charles não será alcançado .

Imagine Jimmy Hendrix com seu espírito guerrilheiro metralhando o sistema inimigo com sua impiedosa e sobrenatural guitarra, dividindo da mesma trincheira que o Salgadinho vocalista do grupo Katinguelê, certamente Hendrix o mataria, pois o temor e o choro de Salgadinho aborreceriam Mr. Hendrix o que levaria Salgadinho a morte, ele seria decapitado pelo afiado bend da Stratocaster de Hendrix.

Imagine agora os meninos do Menudo saltitantes em pistas noturnas enfeitados por neons luminosos liderados pelo belo Rick Martin, onde os Menudos desafiariam com briosa dança o piano do monstro Hermeto Pascoal, Hermeto no teclar de sua escala percussiva os mandaria direto para o Limbo através do poder de seu jazz teletransportador.

O londrino demônio Jimmy Page humilhou em “It Might Get Loud” o frágil e simplório parceiro de Bono Vox, Edge, mostrou aos humanos U2’s que tecnologia barata de efeito áudio visual jamais superará o talento da essencial centelha mutante.

A magia do mago Valdívia quando posta em campo humano mostra a força da gloriosa túnica verde, com isso, o sagrado manto verde se dissocia de veste humana.

Poderia acaso o consagrado acordeom de Gonzagão exprimir o mesmo sentimento do tinhoso Januário se tocado pelas lisas mãos humanas dos galãs do “universitário sertanejo” contemporâneo? Com certeza não!

Se juntarmos Adoniran e Elis teremos um samba que provém das profundezas do submundo, um samba tão tenebroso e assustador que repeliria a humanidade de jeito moleque, se unirmos Ritchie Blackmore e Ronnie James Dio teremos um poderoso arco do rock and roll, uma força dizimadora, afinal, se trata de seres de níveis equivalentes.

- Pois bem Xavier, desista de unir a feliz humanidade aos inconformados mutantes, faça como Magneto, dê a César o que é de César e a deus o que é de deus, assim portanto, abandone essa ilusão e não se misture com a gentalha, junte-se ao nosso magnetismo, Charles.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Babilônia.

O elogio massageia o ego, principalmente dos que não estão familiarizados com ele, o ser de grandes atributos estéticos ou possuidor de tantas dádivas recebe o elogio de modo banal, o enaltecimento é algo que enfada o belo e a bela, em raros casos fui alvo de consagrações honrosas por determinados feitos, em casos bem mais raros fui louvado por peculiaridades estéticas, recebi tais referências positivas e me alegrei com elas, contudo quero dar destaque à determinada associação que fizeram a um ato meu, associação que me encheu de orgulho, jamais imaginei ser associado á algo tão grande, estava eu em um ambiente litorâneo, em um complexo praiano de arquitetura vintage, de decoração rústica de plástica singular, em tal ambiente era possível encontrar doutores de tantas áreas, residentes de tantas capitais, faces de todas as cores, em tal ambiente 80% dos presentes possuíam boa habilidade em tocar violão, todos tinham um pé na música e não faziam feio em seus respectivos instrumentos, no meu caso a harmônica blues me representava, mesmo com ela o grande pecado de não saber dançar forró e nem tocar violão me assombrava, nesse ambiente coletivo haviam treze violões disseminados no lobby e na margem da piscina do hotel, o som predominante era reggae, pop rock e samba paulista, o meu tédio e carência por um violonista que tocasse blues ou baião para eu simular riffes de acordeom na harmônica me forçou a pegar o último violão disponível, peguei o violão, me assentei em certa extremidade daquele ambiente coletivo e comecei a tocar o som que me compraz em volume tênue, som de autoria minha, suponho que por isso o executei bem, no clímax do som um boêmio ludibriado pela lua e pelo álcool se achegou e começou a cantarolar em cima da harmonia que eu tocava, nesse instante parei de tocar e mostrei a ele como ele deveria cantar, em seguida voltei a tocar e ele a embromar em inglês dentro da melodia que eu lhe sugeri, nesse ato, duas belas loiras internacionais deixaram a roda do samba cujo a qual elas participavam e se aproximaram de nós, da dupla que improvisara um blues dissonante, ao perceber essa aproximação mudei a progressão do som o tornando mais agressivo, quando enfim finalizamos a música as duas únicas expectadoras que tínhamos aplaudiram de modo efusivo, na seqüência essa dupla de belgas cessaram os aplausos e uma dessas me perguntou:

- Do you like John Lee Hooker? - Apontando seu olhar pra mim -

- Yes I love him! Why do you ask me It?

- Cause you play like him!

Emudeci, cinco segundos de silêncio, minha audição fez uma busca de trezentos e sessenta graus, nessa busca minha audição pôde identificar a qualidade de todos que ali tocavam, eu definitivamente era o pior de todos, o único que não sabia tocar violão, mas eu entendi o feeling que fora expresso no momento em que toquei aqueles acordes, em virtude da minha incapacidade de tocar violão eu busquei acordes de modo particular fora do padrão “correto”, é comum aqui no Brasil em rodas de violão tocarem blues de doze compassos, quatro por quatro, naquela pegada rock blues bem amadora e clicherosa, eu como sou do delta, como tenho enraizado em meu cérebro Son House segui um padrão rítmico mississipiano, em virtude disso a gentil belga viu em mim um estilo John Lee Hooker, após essa honrosa referência senti meu ego inflando a ponto de explodir, agradeci ao elogio e me retirei da presença das moças, guardei o violão, pedi pra moça da recepção acessar uma rádio online e trilhar o som ambiente com canções do mestre Hooker, me dirigi ao bar do hotel e cultivei o recente elogio a base de altas canecas de chope gelado.

Enquanto entornava minha terceira caneca percebi que todos os aventureiros metropolitanos que partiram em busca do paraíso natural, que buscavam se desligarem da correria urbana encontraram uma centelha nesse ambiente de caráter paradisíaco, era nítido em todos presentes o prazer proveniente do repouso de espírito encontrado no éden daquele hotel, entretanto, percebi algo perigoso em tal ambiente, havia um enorme perigo por força das peculiares personalidades que compunham aquele espaço, haviam empresários madrilenos, médicos milaneses, comerciantes cariocas, engenheiros chilenos, atrizes alemãs, argentinos rippies, cinegrafistas amadores, fotógrafos profissionais, irlandeses missionários religiosos, e muitos paulistas safados detentores de altos cargos corporativistas, todos esses fugiam da mística que caracteriza uma grande metrópole, assim portanto, foi uma fuga vã por parte de todos, pois o compartilhamento coletivo das experiências profissionais de todos que ali estavam trouxe de modo indireto aquilo que eles procuravam ocultar, a troca de contato telefônico entre todos que confraternizavam era fruto de pretensões em comum entre os forasteiros, ao avaliar a diversidade de talentos, de grandiosos talentos compactados em um mesmo complexo, consegui visualizar o surgimento de um novo império, o surgimento de um novo sistema econômico regido por uma nova filosofia política desenvolvida por esse grupo de viajantes, e é aí que habita o referido perigo, afinal haviam seres extremamente talentosos suprimidos pelo bem estar do capitalismo, pela zona de conforto do bom trabalho rentável, contudo esses bem remunerados por conta dessa força capitalista indissolúvel não podiam exercer o verdadeiro potencial oculto, bastaria alguém propor uma revolução naquele meio que todos presentes encarariam o encargo revolucionário ali proposto, seria como jogar gasolina na fogueira.

Voltarei nesse ambiente sexta-feira agora e terminarei o que ficou pendente, vou botar fogo naquele lugar, vou riscar o estopim e assistir de camarote a esplendorosa explosão, após o baixar da fumaça irei ver o que acontece.

Quero ver quem ficará de pé!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Matéria prima.


Ferro e carvão flamejante são elementos essenciais para forjar a lâmina da espada, o barro argiloso manipulado pelo oleiro se transforma em valiosas esculturas, o papel no qual agora escrevo antes fora um altivo pinheiro, o antílope que outrora saltitara hoje aquece o pescoço da nobre madame.

Sem ferro não haveria espada, sem barro não existiria tijolo, sem o couro do veado o inverno europeu não seria aquecido. Não existe manufatura, sindicato, mão de obra qualificada, artesão ou artista, sem a matéria prima, não existe produto final sem a matéria primordial, considerem a fabricação da cerveja, onde são utilizados inúmeros ingredientes primários como a água, o lúpulo, a cevada, dentre outros, o mestre cervejeiro reúne esses ingredientes em sua forma tosca, os lapida e assim produz a cerveja.

Em qualquer profissão o profissional da respectiva área mesmo que inconscientemente reflete sobre a matéria bruta que move o negócio de sua profissão, na maioria das profissões o foco dessa reflexão baseia-se no lucro financeiro que o investimento em cima dessa matéria prima pode trazer ao investidor, essa avaliação mesmo que feita de maneiras diferentes tem o mesmo fim, quer seja feita pelo padeiro, ferreiro, agricultor, banqueiro, químico ou açougueiro.

No caso de escritores, músicos e artistas de natureza poética a reflexão sobre a matéria prima que move suas profissões é demasiadamente complexa, pois a matéria prima essencial para a construção do produto desses profissionais da arte é nada menos que a humanidade, é a fauna, é a flora, o escritor depende de relações humanas afetivas para desenvolver o cenário visual vendido em sua obra escrita, o escultor inspira-se nas pernas torneadas de Maria do Socorro para moldar sua Mona Lisa em areia, o poeta respira o ar urbano enquanto escreve à sua querida loira de natureza bucólica, o músico quando esculpe os acordes de sua canção relembra da fria chuva que o molhou após o não, inspira-se no corajoso sim pronunciado pelos desejáveis lábios da protagonista mencionada em suas linhas melódicas.

A capacidade sensorial do profissional da arte funciona como um sexto sentido, o artista capta a dor sentida e a expurga em seu produto, os bons artistas que dispõem desse sexto sentido são incapazes de fitarem com lindos olhos carentes, eles enxergam além do que é proclamado e ostentado com falso orgulho, eles materializam o desejo em suas obras, por isso são transparentes e paradoxalmente indecifráveis.

A grandeza da matéria prima que cria o produto final dos profissionais da arte lhes permite viverem do comércio barato, lhes permite viverem em turnês milionárias, a matéria prima do escritor, do músico, de artistas de natureza poética é nada menos que a vida, é a vida assistida, é a vida corrida, a vida sofrida, é a vida vivida, essa valiosa matéria dá aos artistas poderosos olhos, olhos poderosos, olhos que olham com desejo.