segunda-feira, 25 de junho de 2012

Convêm



Nasce então o Baião, surge súbito, otimizado pela lamúria gonzaguista, pela euforia gonzaguiana, pela safadeza e sobretudo pela saudade, antes mesmo do samba o fluente e presente baião decide então contaminar os ouvidos dos bons meninos que viriam posteriormente desenvolver a corpulenta e difusa música popular brasileira.

Já esse Baião aqui, esse forró difuso em palavras torpes, teve primeiramente no seio de seu criador o samba como primeiro agente hipnótico, entrelaçado no coercivo samba da colina ocorre o concebimento do batuque de mentes saudáveis e da poesia de tantãs, em meio a tamanha primazia, o Blues se sobrepõe de modo elegante e aponta o caminho, por possuir estrutura vertebral mui semelhante a do Baião, eles decidem então se fundirem e se tornarem apenas um, nasce portanto o "Baião do Mississipi Blues da Barriguda", tal fusão é fruto da emergência, foi necessário que ambos unissem forças para resistir ao inédito golpe sofrido de modo inesperado, tal ataque fora desferido violentamente precisando assim de um poderoso reforço para um contra-ataque de poderio equivalente. 

Esse forte que abriga cantos, encantos e sobretudo a luz que conduz ao desencanto, permanece forte e inabalável, vivo, transparece nas chamas que o cercam o resultado dos dias vividos, a fumaça nele sobreposta revela o teor das paixões, os ventos dele oriundos carregam o cheiro que notificam as bençãos e males que estão por vir.

 Instaurado e intacto ao longo desses anos, receio que seja a hora de baixar as portas e convidar a adversidade responsável por sua edificação, convidá-la para adentrar  e propor um acordo diplomático, criar uma nova linguagem que dê fim a essa comunicação falha, não mais gastar munições em vão e a exemplo do Blues e do Baião, unir forças para melhor enfrentar os tantos reveses e glórias que  virão.

Assim, será selado o lado do bom do mal e a calmaria surgirá em meio a magnífica confusão.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Algures em Gomorra.


As ruínas de Gomorra não deixaram vestígios de promiscuidade, o fogo mandado deu fim ao festejo, pobre Ló, nunca mais aquele petisco apimentado encontrado apenas na tenda do Seu Arão, oh Gomorra, cidade envolta por flamejantes lamparinas noturnas, rodas de danças que alegravam as noites no centro da cidade, oh balada violenta de trombetas e trompas à beira do alvorecer, quanto rigor meu caro criador, lá também havia beleza interior, a bela era má, bem como o bom feio, já a boa feia era tão bela quanto o mau, certeza  apenas de que feiura exterior é algo ainda presente na existência, de nada valeu aniquilar com a boa preguiça cultivada aos arredores de Sodoma, foi em vão perder o refrão do paranauê fatalmente suprimido e substituído por teco tereco tereco teco e desritmado por tcha tcha tchas, não valeu extinguir com a transpiração, apagar a fulgente paixão intrínseca na pele, dizimar com o brilho da juventude, não valeu o sacrifício por um bem maior, pois nem a pacificação hindu e nem a necessária castidade foi capaz de acalmar planos malignos elaborados em balcões, de barrar a vingança que dará fim ao nobre filho de maria, que sufocará o invejado filho de joana, sacrifício incapaz de incentivar o amor, de dar fim ao pavor, cabe então rememorar os bons dias em solo Gomorrense, talvez um garimpo arqueológico mais minucioso desvende as tendências desse extinto povo, para assim  se juntar os cacos e profanar novos pólos, edificar novos pilares, fundar assembléias longe da percepção divina libertando assim novas Madalenas, dar incentivo a eunucos sem castração, julgar o tolo herói pelo heroísmo e condenar o sábio traidor como tolo, expurgar a impureza sanguínea e compactuar novos acordos de sangue, a tolerância será irmã íntima da intolerância, nesse caso a compreensão será a força da nova Gomorra, fortificação que nascerá a partir da aniquilação da pieguice, o mal assim terá seu espaço reservado, será um aliado  necessário para assim sim prevalecer o "bem maior", já o bem por fim se resguardará da piega bondade que faz do bem o pior dos males, por assim ser, ambos (bem e mal) serão anulados, surgirão então os tribunais democraticamente ambulantes que darão vida ao caos, com isso, novo enxofre cairá dos céus e portanto a Neo Gomorra também desaparecerá. 

Respeitemos então esse ciclo, ciclo sem regras, sem leis,  que se equilibra na incerteza de que tudo isso é certo.