O ácido riff de guitarra timbrado com sombria sutileza, marcado por fluentes ondas pesadas justifica o porquê da guitarra ser o instrumento que conota, denota e simboliza a força do Rock and Roll.
O terno clássico do Jazz é composto por piano, baixo e bateria, contudo, o agudo ataque do trompete de tão penetrante na sensação e na mensagem proposta pelo jazz tornou o trompete o símbolo que traz o jazz à memória, há quem pense que seja o saxofone pelo seu formato similar ao da letra "jota" cuja a qual se inicia a escrita da palavra jazz, no entanto, basta sentir o estrago que as notas entoadas a partir do trompete causam na acústica do sofisticado ambiente no qual ele impera.
O samba é memorável pela geniosa percussão que lhe torna peculiar, logo, o pandeiro é subentendido como o responsável pela ilustração que leva a mensagem do samba, mas o samba não é apenas uma magnífica batucada, ele é simpaticamente trivial, poderosamente difuso na aliteração rimada aos devaneios da paixão, é necessário portanto harmonia, um instrumento com o poder de harmonizar, assumir a melodia e ritmar percussivamente, essa exigência é perfeitamente notada nos arpejos do cavaco, do bom e necessário cavaquinho.
O rap tem em si infindos elementos para sua peculiar sonoplastia, samplers, elementos eletrônicos que simulam efeitos audiovisuais indispensáveis na transmissão da sua mensagem que é seu maior instrumento, recado esse levado pelo poder da palavra, da rima, da voz, da boca, basta então um microfone para ter o perfeito rap, pois essa boca, essa voz que leva a palavra inserida no rap também é capaz de simular pick-ups, melodias de contra baixo e até a alegórica bateria, desse ponto, aponto o microfone com principal simbolo do rap.
O Blues distingue-se dos demais por ser o mais elementar, o mais traumático, o que originou todos os gêneros citados aqui, seu papel no rock é estrutural, no rap basta ouvirem o álbum Electric Mud e entenderão as palavras do líder do Public Enimy ditas no documentário de Martin Scorsese (Godfathers and Sons) da série "Nothing but the Blues; no jazz e no samba o blues está emaranhado a eles por possuírem as mesmas raízes, mas é o blues o consolidador, pela sua particular intromissão onipresente em tudo que se vê e se ouve nos dias atuais, o poder de sua falsa modéstia escolheu o seu menor instrumento pra representá-lo, escolheu a harmônica, a gaita, conhecida também como gaita blues, quanto ao porquê, é melhor não dizer.
Os gêneros citados a cima de tão ricos, são capazes de disporem de qualquer instrumento musical, por mais improvável que seja não há limite para a experimentação, porém eles têm em particular um instrumento que melhor os representa e expurgam suas sensações.
Os gêneros musicais citados também se particularizam através de suas musas. O samba é comumente inspirado por robustas morenas, morenas altivas no swingado sorriso em comunhão com a ginga do desejado corpo.
O rap tem em suas musas a inspiração calcada na rebeldia do ideal, seja ele vão ou efetivo, a inspiradora do rap não tem a estética como sua principal arma, mas sim a adesão da causa.
O jazz por mais contemporâneo que seja, não perdeu o sentido elegante que retrata suas musas, dos anos vinte aos anos quarenta e até aos dias de hoje, o luxo de seus ambientes, seja em prostíbulos do século passado, em salões undergrounds que embaçam corpos bêbados, ou em casas de shows da atualidade, a vaidade ostentada em finos adornos e a delicadeza vista apenas nas componentes do clima jazzeiro é o que motiva o estalar dos trombones
O blues dispõe de um padrão menos rigoroso, onde sua musa é posta em um grandioso pedestal, a musa é personificada divinamente sem uma razão que justifique isso, logo, definir um rótulo para a inspiradora do blues não faria muito sentido pelos tantos sentidos representativos que a musa do blues tem para seus músicos.
Quanto a musa do rock and roll, o papel assumido por ela é simplesmente esmagador, pois para que ela assuma o posto de musa ela terá que dispor de adjetivos raramente encontrados no padrão feminino, esses requisitos exigem consistência revolucionária, é necessário que haja frieza na sensualidade, calor e principalmente altivez em sua beleza estética, onde o músico é submetido diante da fina beleza que o reduz, que o seduz e assim produz a necessária centelha que irá inspirar clássicos e mais clássicos.
Por vivermos em uma época carente de boas obras musicais, onde não se cria mais nada de grande valor, sugiro aos herdeiros que legaram a missão de dar continuidade à música, que desenvolvam um novo gênero com enfoque na guitarra, cavaco, trompete, gaita e que sejam afiados no recado dado, que se atentem nas musas que irão lhes inspirar, pois as musas de hoje em dia deixam muito a desejar, basta olharmos para o atual cenário, sendo assim, pelo o bem da música que virá, busquem musas cruéis e blindadas à chulas tendências, que disponham de fina beleza, pois assim motivarão futuros clássicos através da sutil sensualidade essencial para inspirar a criação de boas obras musicais.