sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Vintage Boy.

O primeiro passo foi convencer minha mãe de que passar a tarde comigo seria mais produtivo do que estar nos bancos da Fundação Bradesco, feito isso, ela permitiu que meu irmãozinho faltasse à escola para uma tarde cultural.

O primeiro programa foi pegar o trem com destino ao sul, ele viu os vagões vazios às 14h30min da tarde, mas, mal sabia ele que bastava apenas algumas horas para esses vagões se assemelharem ao Hades.

Já no jardim Belval, o garoto ficou surpreso, ele esperava uma região chique, repleta de restaurantes sofisticados e centros comerciais, o jogo começaria às 19h30min, tínhamos ainda quatro horas para gastarmos na periférica Barueri. Então fomos ao primeiro programa, teoricamente seria num centro de diversões eletrônicas num shopping center, mas como nas margens não se encontra entretenimentos dessa natureza, entramos num boteco onde se ouvia Luis caldas e Carlito Gomes, pedimos uma ficha de bilhar que nos foi negada, o dono do bar não permitiu a prática do jogo a um menor de dezoito anos, coube ao meu irmãozinho assistir eu desafiar o dono do bar apostando garrafas de cervejas. Minutos depois derrotado pelo senhor barrigudo que comercializava cerveja quente, fomos ao encontro de outro passa tempo, sem muitas opções, entramos em outro bar, o enxame verde já tomava conta da região e por conta disso meu irmãozinho perdeu sua paz, afinal ele ultrajava o manto vintage da década de oitenta, uma relíquia ambicionada por muitos Palestrinos, assim portanto, ele era saudado e elogiado por sua camisa de tecido envelhecido, isso lhe serviu de lição, foi a primeira vez que ele sentiu o impacto da camisa palmeirense.

Cansado de ser tietado, meu irmãozinho sugeriu que fôssemos a outro boteco, (sim, boteco era a única opção), todas as opções que tínhamos eram deploráveis, o que configurava o contraste, pois uma arena sofisticada, de estrutura superior a de todos os estádios do estado de São Paulo não poderia ser instaurada numa região subdesenvolvida, torço para que a região se adapte a modernidade do estádio.

Já conformados com o que tínhamos ao nosso dispor até o início do jogo contra o colorado, fomos salvos por uma Juke Box que surgiu do nada em um desses botecos. Meu irmão como se tivesse encontrado um alento, desesperadamente inseriu cinco moedas na máquina, recheamos a set list de AC/DC e Pink Floyd e nos desligamos do redor que nos rodeava e nos embriagamos com os clássicos selecionados.

Nesse clima de espera e de harmonia com o rock, meu futuro herdeiro foi vítima da presunção humana, de modo cordial a atendente do bar nos deu algumas sugestões, ela propôs a meu pequeno irmão um assaí na tigela, ele escolheu carne seca, ela também lhe ofereceu lanches cheeses, ele preferiu o caldo de mocotó, o fantástico caldo de mocotó de boteco, por fim ela perguntou-lhe se o volume da Juke Box estava lhe incomodando, ele a respondeu:

- Fui eu mesmo quem aumentei!

Ela lhe fitou surpresa e se manteve presunçosa:

- Foi seu pai quem escolheu essas músicas?

- Não, fui eu, ele escolheu apenas meu time, e até hoje agradeço a Deus por essa escolha.

A doce moça desconcertada retirou-se e pôs-se a admirar-nos de longe.

Então eu disse, esse é o preço a ser pago por suas escolhas Vintage Boy.

Um comentário:

  1. Son of gun!
    http://www.orkut.com.br/Main#Album?uid=6651255981940505352&aid=1285943429

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