“Como raiz de uma terra seca; não
tinha beleza nem formosura, e olhando nós para ele, não havia boa aparência
nele para que o desejássemos”.
No capitulo 53 do livro que leva seu nome o
profeta Isaías diz sobre a ausência de beleza física em Jesus Cristo, fala da formosura
que o redentor não possuía, isso surpreende os artistas que ilustravam as belas
figuras do “Renascimento”, o Cristo representado em telas e nas telas de cinema
goza de atributos estéticos admiráveis, dispõe de características atraentes, há
portanto, a clara indiferença por parte dos ilustradores acerca da descrição
feita pelo profeta que anunciou a chegada do salvador, desse ponto, imaginar
uma figura divina desprovida de atrativos que encantam os olhos seria bastante
embaraçoso, assim, fica possível justificar a versão dada pelos responsáveis em
ilustrar a imagem de Cristo, uma versão em oposição a verdadeira face daquele
que trouxe a salvação.
O grande personagem do cristianismo vai no caminho inverso dos demais deuses
das principais mitologias, Jesus conforme descrito em seu evangelho não possui
uma deusa a quem dedicar seu infinito amor, mesmo encarnado na figura
masculina, se trata de um deus sem gênero, fixo apenas em sua divindade neutra,
a saga de Jesus contada por Marcos, Matheus, Lucas e João mostra um deus com a
única missão de ensinar ao mundo valores altruístas, transmitir a mensagem do
amor ao próximo, Cristo traz consigo a promessa de uma nova Jerusalém, com ruas
e calçadas de ouro e anjos cantando hosana nas alturas. A saga de Jesus Cristo
é basicamente isso, onde as ações calcadas no amor garantirão ao bom samaritano
o eterno deleite na dourada Jerusalém.
Não se pode ignorar que em toda
boa história existe a necessidade de haver um antagonista, um vilão que se
oponha ao mocinho, que se objete ao herói, mesmo Cristo sendo onipotente, sendo
a maior personalidade de todos os tempos, o ser mais influente, o maior mito
narrado pelo homem, mesmo ele não poderia deixar de ter um adversário, um vilão
para apimentar sua caminhada na batalha contra o pecado do mundo, surge então
Satanás, originalmente nomeado por Lúcifer, não poderia haver vilão mais
apropriado para Jesus cristo, afinal, Lúcifer conhecido também como Belzebu era
ninguém menos que o modelo de perfeição, repleto de sabedoria e de perfeita
beleza, Satanás era a mais sábia criatura que Jeová inventou, o deus Jeová
jamais criou um anjo ou outro ser com a inteligência dessa criatura, Deus diz
que essa criação é "de perfeita beleza", aparte da Santíssima
Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, esta criatura é hoje o ser mais elevado.
Antes e depois de Cristo Satanás
foi quem sustentou o grande ibope no âmbito dramático da narrativa cristã, os
contos relatados na bíblia sagrada tiveram infinitos personagens, histórias de
amor e traição, milagres, fábulas, comédia, ação e tragédias, todavia, todas
elas eram representadas por humanos atingidos pela glória do deus Jeová, estavam
esses personagens inseridos em episódios fadados, episódios com um fim certo,
seja ao sucesso ou ao fracasso o enredo dramático dos contos bíblicos dispunham
de um desfecho e resultados pré-destinados, uma vez que a onisciência de Deus
já havia determinado o fim da trama envolvendo seus servos humanos, seria como
ler revistas de fofoca que anunciam o que vai acontecer nos episódios seguintes
da novela, seria como ser vítima de spoilers e saber antecipadamente o desfecho
de um bom filme antes mesmo de tê-lo assistido, tudo isso põe Satanás na
condição do personagem do mal mais curioso e completo em comparação aos vilões
de outras mitologias, pois mesmo já
derrotado, mesmo sendo um poderoso e habilidoso rival, Satanás de nada vale diante da glória de Deus, Satanás é conhecido como o mestre da sedução, o arquiteto do
marabalismo político que conduz esse mundo corrupto a perdição, é considerado
uma entidade milenar de astúcia inigualável, é mencionado diariamente como
aquele que irá tragar a alma daqueles que cederem a tentação, falar da missão de
Satanás enquanto vilão nos obriga a admitir que ele de fato é um grande
sedutor, afinal, ele conseguiu convencer o onipotente Jeová a assistir e
permitir suas ações malignas que levarão parte de seus amados filhos para o fogo e tormento eterno, mas não podemos subestimar o criador do céu e da terra, talvez antes da consolidação dos tempos ele mude esse plano criado através dos séculos, pois nem homens e nem o Diabo podem alterar esse final glorioso cheio de amor e dor.
Aparte todas essas circunstâncias
que resumem a trama dos contos bíblicos, não pude deixar de ignorar que
diferente da narrativa cristã, os grandes imbróglios que alimentam os enlaces e
desenlaces embutidos nos enredos das principais mitologias não estão
focalizados no irredutível ego do principal deus, a grande graça que dá ritmo
aos contos das mitologias grega, egípcia, asiática, nórdica, amazônica e outras
não mencionadas aqui, é a contextura criada pela diversidade de deuses, pois
elas não se limitam em uma única ordem absoluta, a divindade existente nos
demais folclores politeístas permite ao leitor se debruçar num universo
dramático mais difuso, a inserção do leitor na fantasia se torna mais abrangente
em razão da pluralidade do caráter divino, uma vez que os anseios e vontades
dos personagens não estão centralizados em uma única entidade absoluta.
A famosa Maria Madalena
protagoniza polêmicas junto ao clero, a mais célebre prostituta do novo testamento
talvez seja a personagem que mais tenha despertado interesse nos estudiosos em
razão de sua suposta tentativa de
seduzir Jesus, enquanto teólogos especulam esse provável envolvimento, Freya a
deusa da fertilidade e da beleza derrama suas lágrimas à espera de seu grande
amor o deus Odur, aquele que anda pelos céus, a bela Freya líder das Valquírias,
das guerreiras do território de Asgard é conhecida como a deusa da luxúria,
tais qualidades despertaram o desejo em Loki o deus do fogo, mas esse amor não
foi permitido por Odin, já nos contos gregos, amores proibidos transcorriam de
modo diferente, veja o caso de Perséfone
a deusa da primavera que posteriormente viria a ser também a deusa do submundo,
Perséfone a filha de Zeus a mais bela deusa do Olimpo negava seu amor a todos que lhes desejavam, Hades o deus do submundo também foi
uma das vítimas do poderoso charme de Perséfone, Hades contudo, tomou o amor da
jovem deusa a força, raptou Perséfone e a levou para o submundo tornando-a
conhecedora tanto da luz quanto das sombras, tornando-a senhora das magias
ocultas.
Nas paredes das ruínas do Egito
foi registrado que o amor do deus Osíris e da deusa Isis foi mais forte do que
as leis da vida, Osíris foi traído pela ambição de seu irmão e perdeu a vida
após uma cilada mortal, Isis reuniu os restos mortais de Osíris e o
reconstitui, através da força desse amor divino Isis deu a Osíris novo fôlego e
assim ambos viveram um amor póstumo e conceberam um filho, já nos contos
japoneses, o amor entre Izanami e Izanagi
deram frutos maiores, mais do que um filho esse amor deu origem a vida
humana, os deuses primordiais elegeram a jovem deusa Izanami e o jovem deus
Izanagi para criarem o “céu e a terra”, a forte paixão que havia na relação de
Izanagi e Izanami os inspirou a criar todas as formas de vida na terra.
Dentre os mitos e lendas registrados ao longo
dos séculos pouco se fala sobre a mitologia Amazônica, milhares de obras de
ficção foram inspiradas por esses contos mitológicos citados à cima, entretanto,
o espaço reservado ao folclore amazônico é insignificante em relação as
mitologias mais famosas. Tupã o criador do universo, o deus do trovão, o deus que habita no sol, goza de uma imponência superior a de Zeus, criou o bem e o mal assim como Jeová, porém não há interesse por parte dos autores de ficção em realizar obras a partir das lendas que falam acerca da glória de Tupã, de certo modo é compreensível, pois as características de Tupã muito se assemelham aos adjetivos dos deuses de outros povos.
Seria válido portanto, realizar uma fusão desses contos, levar Tupã à Asgard para se embriagar com barris de cerveja, convidar Odin ao Olimpo para apreciar as medéias em seus dolorosos cantares, mostrar a Hades a escuridão existente nos subterrâneos das pirâmides do Egito, levar Zeus ao sol e mostrar-lhe o tropicalismo, mostrar a Izanagi os encantos de Valhalla.
Essa mistura daria origem a novas divindades, tanto Freya, Isis, Izanami, Perséfone mostrariam novos encantos aos novos deuses, mas o maior problema passional seria causado pela deusa Aracy, a deusa lua, aquela que governa a noite e as estrelas, se Hades a raptasse e a levasse ao submundo ela o iluminaria com sua tênue luz lunar, se Izanagi a convidasse para criar novas ilhas ou um novo mundo ela lhe mostraria as belezas da América, Osíris certamente agradeceria a Isis por lhe dar uma nova vida, permitindo assim que ele contemplasse tamanha beleza, se Zeus clamasse por um conto ela recitaria maravilhas homéricas jamais ouvidas, se Odin a convidasse para beber em Valhalla ela brindaria em nome da terra e causaria encanto aos assentados à mesa, Thor e Loki sentiriam-se crianças diante da celebração da bela Aracy, tais situações foram imaginadas por Tupã, por isso ele se omite e se esconde diante dessa guerra de vaidades travada pelos deuses, ele é o grande privilegiado pelo amor da mais belas dentre as deusas, Tupã bem sabe que se o esplendor da bela Aracy vier a tona, até mesmo Jeová e Satanás entrarão nessa briga para conquistá-la.
Todos Eles são pegos pelo movimento da lua, mas apenas Tupã sabe o que tem por traz do mais belo astro que ilumina o universo. Tupã sabe que diferente dele mesmo e de todos os deuses existentes, Aracy é a única entidade que de fato sabe o que é amar, dela não emana ódio e nem justiça, não emana vaidade, ela não clama por adoração.
Glórias à Aracy a verdadeira deusa do amor!