A arca do novo mundo está sob o
comando do grande Ministro, aquele que guiará os remanescentes a um novo ciclo
pós apocalíptico, o grande Ministro que detém o leme da embarcação é chamado de
lorde junto aos mais nobres, pelos mais íntimos conhecido por capitão, os
ímpios o proclamam almirante, pelos gentis chamado de Mediador, pelas crianças
notado como barqueiro.
Tamanho é o fardo desse grande
líder, selecionar os remanescentes para continuar a vida em um novo continente,
uma tarefa ingrata e doída, levá-los a um continente que brotou milagrosamente
do mais profundo oceano, uma terra nova de águas cristalinas a sua borda, hábeis
pescadores portanto, serão necessários a bordo da arca para garantir os frutos
desse vivo mar, há a expectativa de gigantescas árvores que invadem as nuvens,
assim, pés ligeiros e mãos elásticas serão essenciais para apanhar frutos dos
altos galhos, uma terra fértil não ao ponto de emanar leite, mas não seria
surpresa se dela germinasse mel, um território próspero e dinâmico que
precisará de bons líderes para garantir sua sustentação e prosperidade, não
basta então o bom barqueiro selecionar hábeis mãos, braços fortes, mente
inventiva e primorosa, será necessário transcender o primor e encontrar
pensamento agudo, mente sensível, perceptiva, a composição do novo mundo
precisará de entendimento em meio as ambiguidades.
Uma busca difícil por exigir
novos conceitos e concepções inéditas, terá então esse mediador que meditar sob
o escopo do improvável, terá que se despir de vaidades, de convicções e padrões pré estabelecidos, essa lavagem interna eliminará valores e preceitos
contaminados pelo velho mundo, mundo que ficará pra trás deixando algumas boas
saudades, mundo que deu errado em meio a tantas certezas.
Pobre barqueiro, talvez não sobreviva durante
o longo percurso rumo ao novo mundo, a tempestade externa pode sim
naufragar a arca antes que ela chegue a seu destino, embora uma tempestade
interna seja mais provável, diria até que mais destrutiva que os fenômenos da
natureza. O grande Ministro padece ao mediar as tantas facetas que enfim
embarcaram, o dilema das diferenças que se confrontarão na fundação do novo
mundo já dá um aperitivo a bordo da arca que finalmente partiu, um recomeço que
inicia turbulento, o excesso de contingente obriga a arca a partir condenando
os que ficaram para trás.
Aliviados e inconformados já
ensaiam conspirações em oposição ao grande Mediador, a ala do norte indigna-se
pelo excesso de idosos, a ala do sul pelo excesso de crianças, a seleção
diversificada do capitão indignou a ala do centro, centristas presos a velha conduta almejavam
por uma arca monocromática, com a menor diferença possível, a ala dá direita se
opunha ao Lorde por discordarem do alto número de passageiros, julgavam
desnecessário a quantidade de incompetentes que ali estavam, já os componentes
da ala da esquerda planejam a derrocada do almirante por estarem insatisfeitos
com a baixa lotação da embarcação, alegam a má distribuição do espaço na barca,
espaço este que comportaria um maior número de tripulantes, diminuiria então o
número dos deixados para trás.
O Mediador segue sua viagem com
destino ao novo mundo, resta saber se ele sobreviverá, se resistirá a força das
diferenças, se viverá pra ver a tentativa de um recomeço.
Mesmo em meio ao conluio, o
grande Ministro sabe que esse reinício não tem espaço para a utopia e nem
tampouco para a supressão militar, ele então inventa alternativas, improvisa ao
liderar, se mistura aos privilegiados que ganharam uma segunda chance de
recomeçar.
A subsistência está lançada à
sorte, a arca chegará a seu destino após essa longa jornada?
Quem vai saber?
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