Wolf enfim se depara com o absoluto nada, ele desperta
nessa imensidão silenciosa e pensa ter morrido, pensa então o quão nociva é a
credulidade, lembra de quando era criança quando seu tio lhe dizia que os lobos
uivantes das montanhas viriam lhe buscar, do terror que sentia ao ouvir seu tio lhe educando através do medo,
Howling Wolf caminha em meio a esse imenso nada, frustrado e envergonhado, mais envergonhado do
que frustrado, de qualquer forma pouco importa o tamanho dessa vergonha, afinal,
morreu o grande Howling Wolf.
Morto e envergonhado, vergonha de
ter sentido o que sentiu, de todo o prazer que de nada valeu, frustrado não
mais, as emoções, amores mal vividos, decepções que teve em vida não lhe
incomodavam mais, tudo isso já não importava, a vergonha por outro lado
insistia em ficar, a vergonha mesmo após a morte lhe acompanhava, pior do que a
tristeza de uma vida vã, era a vergonha de viver um engano, de viver o engano,
engano este que lhe indicou um caminho vão, ideologias e objetivos vazios.
Maldita credulidade! Wolf creu
naquilo que não podia ver, viveu então uma vida baseada na espera, na
expectativa de uma recompensa, moldou e sufocou suas aptidões e desejos por
algo incerto, esqueceu do presente por temer o futuro, Wolf contudo, teve uma
vida afortunada, difusa, repleta de deleites, entretanto, a bendita crença
impediu a progressão desses prazeres, essa esperança pelo desconhecido não chegou
a interromper os deleites da vida de Howling Wolf, mas afetou o bom
aproveitamento de sua vida fugaz.
Ainda caminhando em confronto com
a vergonha finalmente as comportas surgem diante de Wolf, elas se abrem sem
terror ou esplendor algum, Wolf adentra às convidativas portas e procura por
calçadas de ouro, por anjos cantando Hosana nas alturas, por não dispor de uma
alma santa, procurou também pelos círculos do inferno, por ser lascivo procurou
pelas virgens do islã, ele muito procurava mas nada encontrava, surge
então um novo portão, Wolf o abre, abre esse alegórico portão e desperta, já
acordado e aliviado, ofegante, Wolf calça seus sapatos, levanta da cama, levanta da morte e
vai viver,
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