Não existe defesa absoluta, considerem
o índice de assaltos a carros-fortes que aumenta espantosamente, sistemas de
segurança geniais são dissolvidos por enlouquecidas mentes criminosas, de baixo
do sol somos todos presas vulneráveis às famintas garras de predadores, a mercê
de hábeis caçadores que desconhecem barreiras e fortalezas intransponíveis,
considerem a destra lebre que foge com dribles esplendorosos e que no final é
alcançada por afiados dentes de um mamífero maior, tenham também o cervo do
campo que salta levemente e corre com bela velocidade, contudo no final é
capturado pelas unhas da rainha da selva, pobre então do coração humano que não
tem pernas para fugir e nem tampouco armadura de proteção, coração passivo,
atacado e portanto ferido, em constante agonia, que bombeia e simultaneamente
sangra, tivesse ele pernas certamente correria a fim de retardar a dor, tivesse
ele armadura certamente a usaria para privar-se de agudas incisões, na verdade
de nada valeria as pernas e armaduras, pois ainda assim o coração continuaria a
ter olhos, malditos olhos que o vulnerabiliza diante do belo, que o reduz
diante do esplendor o tornando novamente presa fácil paralisado sob a ilusão da
perturbadora beleza, a beleza que descompassa batidas inflamadas, a mesma
beleza que surge desvanecida por entre as chamas e conduzida por uma força
quântica; não se pode mensurar a força física de universos metafísicos, nem
tampouco calcular o espaço sobrenatural, assim, não podemos desenvolver
fortalezas que resistam aos ataques transcendentais provenientes de tais
mundos, contudo, ainda que a força de invasão disponha de poderes superiores, a
rendição está fora de cogitação, não deixe que a lúdica moça lhe consuma o juízo,
enfrente os efeitos de seu sorriso ludibriante, talvez lá
esteja a chave que abre caminhos, não há mestre de armas que possa enfrentar tamanho
adversário, afinal, a imagem é sedutora, não se pode vencer a imagem, imagem
que emite substâncias que lhe fazem perder a cabeça.
A solução é agir feito um
perfeito estranho, mudar e confundir, e então combatê-la com uma tênue canção,
canção que infiltra na mente e que conduz a loucura, se trata da única arma apropriada
para combater esse deleitoso mal, o poderoso mal da imagem escravizadora que se
reduz apenas sob as embriagantes linhas melódicas do slow blues, afinal, o blues
se confunde com a ruína e com o triunfo, triunfo e ruína irmãos gêmeos, ambos
sem a menor importância, então baby, venha com seu maldito sorriso que eu vou
com meu baião.
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