quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Risco


Não há arranha céu que resista a fortes ventos sem uma forte e consistente fundação, os pilares de sustentação devem estar preparados para as inesperadas e improváveis cargas de ventos que possam surgir, tenham como base a parábola do insensato homem que edificou sua casa sobre a areia, casa essa que desmoronou no dia da forte tempestade, ora, pouco vale um belo corpo moldado sobre um esqueleto “osteoporóseo”, afinal, muito em breve a formosa película externa sucumbirá juntamente com a frágil estrutura óssea, de tais princípios nasceram inúmeros provérbios referentes à importância de se ter uma boa “estrutura”, de se ter os pés bem firmados no chão para evitar quedas, por mais coerente que soe essa filosofia calcada na reflexão sobre a cautela, é notável também os efeitos restritivos inerentes a ela, onde a razão prevalece sobre a paixão, onde o racional vence o imaginário, onde o temor se torna soberano diante da ousadia, de tal modo, surge um impasse residente nessa dupla face de efeitos provenientes dos provérbios acima, uma vez que tais valores dão margem à importância da precaução e simultaneamente incitam a covardia, assim, unicamente pelo simples fato de existir a possibilidade de ser contaminado pelo medo e pela covardia, é saudável fechar os ouvidos para tais dizeres, pois não existe aventura sem ventura, não existe voo sem decolagem, a grandeza do risco corresponde ao sucesso da ceifa, ao partir desse ponto o equívoco abandona a posição de vilão e assume o cargo de consultor, desse ponto não existe retrocesso, existe sim a força da paixão, do fogo de saudade que leva a compreensão da importância da necessária e consoladora libertinagem que substitui os negados dias gentis, suba no palco e improvise o difícil jazz que poucos se atrevem, de lá será possível enxergar o tamanho da evolução dos tantos blues que derrubaram queixos, de lá virão lembranças de dias de imprudências durante a infância, daquele dia em que a inconsequente criança de bicicleta cruzava uma longa estrada para casa numa antiga trilha que hoje comporta a grandiosa rodovia rodoanel, uma estrada pedrosa rodeada por uma gigantesca mata e de gente que mata, aos dez anos de idade com pernas fortes que eram impulsionadas pelo medo da proibida aventura ali vivida no horário da aula de geografia da professora Cláudia, criança que oportunamente descobria a geofísica de uma admirável paisagem hoje extinta, certamente esse momento cinematográfico seria trilhado por “The Next Time Around”, recordações dessa natureza são dignas de trilhas sonoras, em suma, a vida de quem teme a mudança é fixada no chão assim como seus pés, indigna de belas lembranças a serem rodadas na mais poderosa placa de vídeo de alta resolução conhecida por imaginação, por outro lado toda bela imagem é digna de uma bela trilha que configure um bom filme para ser assistido juntinhos, sem caber de imaginar, quanto ao fim, o fim virá, raiará, para onde a sorte te levará?

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