quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

"Embarque nesse Carrossel"


O Carrossel gira em velocidade tênue, belos pôneis, lindos alazões, quadrúpedes inanimados, suportam em seus dorsos celebres personalidades, pobres eqüinos, forjadas em seus lombos celas que acomodam cavalheiros e cavaleiros, não há quem não seja cavalgante nesse súbito carrossel, há montaria para todos os gostos, são todos muito bem coloridos, tem amarelo, tem vermelho, tem cavalo preto, tem branco, tem alado e até córneo, uma diversidade, pois bem meu bem, enquanto o carrossel gira em torno do sol me perco, observo os selecionados montados, logo à esquerda vejo o embolador de improviso que leva a raiz de pai pra filho, a esquerda um pouco mais adiante vejo o carnavalesco entristecido na deprimente quarta-feira, numa posição mais elevada observo a pompa do trovador elétrico em seus cânticos contemporâneos, com um pouco mais de classe avalio o tocante orador de praça com seu chapéu repleto de denários, em suma exibição parlamentares cavalgam em justaposição, ainda que escondidos percebo a presença de nobres cavaleiros detentores de informações úteis, diria até que essenciais para o bom funcionamento do ordenado do carrossel, o poliglota de tão atinado relincha sobre seu carregador em fusa comunicação, tem aquele que está sobre o camelo reflexivo em sua ardente sede, tem o insaciável guerreiro que flerta com o perigo, maluco também tem, o marabalista equilibra-se solto, com enorme destreza gatunos giram em bando, aterrorizam os desatentos da noite que giram felizes fotografando o belo cenário luminoso, o monarca não se atreve a montar e se acomoda na esplendorosa carruagem, os alegres eunucos cavaleiam levemente, no mesmo circuito juízes condenam e absolvem sobre seus penitentes potrancos, todos esses desafinados, parte desses afinados, de qualquer modo o fluxo desses personagens maquinados na existência corre em ciclo único, não se sabe onde desemboca, onde é que está a brecha desse carrossel de fogo, dessa roda de gelo, se é o giro rápido que os lança para fora, se é o giro lento que os enfada, não vi ao certo se são cavalos de madeira, de plástico, de ferro, sei apenas que é matéria insolúvel, não há poluição ou tragédia natural que pare com o giro dessa briosa alegoria circular, saibam apenas que é dentro dela que o ser montado se formará, observará, estagiará em torno de todos ali, fora dela nada se sabe, dentro dela apenas busque informações liberadas, escapadas, perdidas e voluntárias, une-as e forme-se pro bem, forme-se pro mal, pois queira ou não queira, cedo ou tarde, terminará o carnaval, e o carrossel meu bem, continuará a girar, girar e girar.

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