Soteropolitanos têm santos padroeiros poderosos que os amparam na descida, os moradores do bairro da liberdade se confortam com ensinamentos ministrados em reuniões sobre as teorias de Buda, orientais barbados sonham com centenas de virgens que lhes serão entregues em haréns celestiais, a harmonia de lares de famílias ortodoxas advêm de estatuetas que enfeitam a mobília lhes concedendo proteção divina; em qualquer dos casos, a cor da pele ou o idioma falado não fará diferença diante do regente desse magnífico jogo de xadrez, ao visualizar esse jogo vejo uma partida composta por um único jogador, um jogador onisciente capaz de antever o vitorioso desse jogo disputado entre ele e ele mesmo, minha mãe certa vez disse-me um dia que os expectadores de um determinado jogo dispõem de melhor visão analítica acerca do jogo disputado do que os componentes do mesmo, em outras palavras, “quem está de fora enxerga melhor do que quem está dentro”, eu como um bom expectador mesmo na maldita condição de componente desse infinito tabuleiro, funcionando como uma mera peça nesse jogo difuso e interminável, percebi que o tabuleiro que comporta as peças movimentadas pelo todo poderoso jogador funciona como uma veloz locomotiva, onde as peças nele sobrepostas assumem a função de passageiros aprisionados a bordo de um trem fora dos trilhos a ponto de colidir no muro das lamentações, enquanto a Maria Fumaça progride feroz e velozmente, passeio por vagões e vagões, contemplo o vagão do cachorro quente, o vagão do caldo de cana, nele flerto com a mocinha da banquinha do pastel paulistano, leio os anúncios-notícias anexados em paredes e tetos, hora sentado, hora em pé, em dias quente de verão tenho predileção por vagões temáticos, piscinas, ondas artificiais, já no inverno canto o coco e bebo a Brahma para nunca mais ter sede, aprendo com a velha guarda em harmonia com alegria e com os mirins de inocência fenomenal, nas terças aprecio alegorias, fantasias, em sextas noturnas evito vagões iluminados por neons, prefiro os antigos salões esfumaçados onde crimes e paixões são discutidos, no sagrado domingo com as unhas roídas no vagão contaminado por palavras de baixo calão eu grito gol abraçado com meus irmãos, já na segunda-fria um forte uísque sempre cai bem, esquenta e apaga a perturbadora imagem colorida, depois volta tudo novamente, volta o cão arrependido com suas orelhas tão fartas de ouvir clichês e falsos moralistas, filmes, oscilações na tabela, enchentes, filmes novamente, musicais, dinheiro no bolso, bolso vazio, terça, quarta, quinta, sexta, sábado, domingo e a funesta segunda causadora da terrível imagem colorida.
Aí eu me pergunto: - Pra que tanta perna meu deus?
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ResponderExcluir"porém meus olhos
ResponderExcluirnão perguntam nada" (CDA)
que imagem!
que texto!