sábado, 9 de maio de 2009

33 horas de olhos abertos ( The Vision never die )

De pé as 5h, concebendo the New Orleans songs before sunrise, despertei cedo em razão da inquietação cardio-respiratória causada pelas aparições da moça de natureza bucólica em meus turbulentos sonhos, e no momento de sua fuga, esse sonho tomou forma de pesadelo e com isso a continuidade do meu sono fora rompida. Já de pé perambulando pela casa, projeto um belo roteiro com vários níveis de entretenimento a fim de cativar e ter um "dia gentil" com a personagem dos sonhos em sua forma real, todavia, foi um esforço vão, ela recusou esse nobre convite, e de modo irredutível ela fez-me vítima de um desprezo eminente, contudo, utilizei do clima matinal para retomar minhas atividades físicas que a muito tempo não fazia.

Altas doses de um bom e velho bourbon, fizeram-me desviar de rota assim que saí do centro cultural Fiesp av Paulista, o relógio marcava 22h, eu deveria voltar pra casa para passar as músicas que seriam executadas no ensaio do dia seguinte, ensaio que começaria as 7h e sem horário para terminar, eu porém movido pelo estado etílico aproveitei o ensejo para rever alguns amigos da noite que trabalham na região do Paraíso, e nessa longa interação lembrei-me repentinamente de uma moça que foi um dos meus grandes affair, bela mulher e grande amiga, eu havia lhe suprimido de minhas lembranças por estarmos em pólos distintos, embora fôssemos extremamente compatíveis, seguimos estradas diferentes; eu estava a poucos metros de sua residência no bairro do Paraíso, celular descarregado, comprei um cartão telefônico, porém cético quanto a sua presença em casa, afinal era uma agradável sexta-feira noturna , eram 23h, ela deveria estar saindo da faculdade rumo aos botecos da noite paulistana, porém ignorei minha presunção e liguei em seu celular:


-Hello Baby!

-Quem fala?

-É o seu mestre, onde você está?

-Nossa! A quanto tempo Ronald, eu estou em casa, de pijama, pronta para dormir.

-Estava com saudades desse seu "Ronald", tire esse pijama, coloque uma roupa bem sensual, que eu passarei em sua casa para tomarmos várias tequilas lá na rua Vergueiro, naquele bar onde eu e você costumávamos interagir de modo maligno para com os frágeis...

-Sim claro, naquele bar onde você me fez passar tanta vergonha, bons tempos! Porém, não poderei estender muito, terei aula de inglês amanhã as 7h.

-Se liga mulé, eu também tenho compromisso amanhã, 7h, esse sim é um compromisso inadiável e se o caso for e certamente será, você vai direto pra aula fedendo a cigarro e eu pro ensaio bêbado, afinal tocar embriagado é mais produtivo.

-Então tá, estou te esperando.

-Tô chegando.

O clima romântico proposto pelo cenário da região de sua casa, sugeriu que fôssemos a pé de sua casa até o bar, não obstante a dificuldade de estacionar na rua Vergueiro; seguimos rumo ao bar como um par harmônico, ela entrelaçava o seu braço entre o meu, temerosa no trecho deserto e sombrio de sua rua, contudo, o meu olhar hostil, minha barba consistente e negra somados com o meu sobretudo verde repeliam os assaltantes em potencial, a mocinha de beleza oriental estava em absoluta proteção e repousava em meus braços tranquilamente.

Um reencontro marcante, visto que ambos sofreram transformações notórias, os seus lisos cabelos curtos e tingidos cresceram e assumiram seu tom original, seu corpinho frágil surpreendentemente adquiriu vultosidade distribuída que gerava cobiça e atração física, eu 5 quilos mais pesado, absolutamente careca e barbudo o que também produzia uma extravagância atrativa. As mudanças não permaneceram nos valores estéticos, ela em sua nova área profissional adquiriu grande crescimento intelectual o que lhe propiciou uma visível evolução em seu comportamento, portanto, a sintonia que havia entre nós multiplicou-se consideravelmente.

Conforme o previsto, o temas e conspirações eram tantos que as inúmeras garrafas de cerveja não foram suficientes para ampliar o nosso humor, logo, apelamos para as diminutas doses de tequila acompanhadas de uísque irlandês, e nesse ritmo de estrago, nós expomos os amores mal vividos no decorrer desse longo tempo em que não nos víamos, e sintaticamente chegamos no consenso de que a flora está à nossa disposição com sua fauna abrangente e de que somos dois animais irracionais que gostam do estrago, por isso, procedemos de tal maneira.

No final dessa bela interação, que infelizmente fora interrompida em virtude dos nossos compromissos, afinal já era 6h e ambos tínhamos obrigações inadiáveis, eu a conduzi até sua casa, guiado pela luz da lua que se despedia para a entrada da luz do sol, nos despedimos com ar de "quero bis" episódio que certamente será repetido inúmeras vezes.

Do Paraíso direto para a Vila Yara, lugar do estúdio de gravação, todos os membros da banda esbanjando empolgação e disposição, curiosamente eu estava com vigor superior ao de todos, a adrenalina promovida pela dócil mestiça foi o combustível para eu aguentar altas horas de ensaio regado de muita cerveja e shuffles virulentos.

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