Para erguer uma torre até o mais alto céu, não é
preciso dominar a língua do homem nem a língua dos anciões, não é preciso
compreender a língua dos deuses, para erguer uma torre que arranha o firmamento
não basta dominar as leis da física, não basta compreender cálculos quânticos,
para erguer uma torre até os céus é preciso a ginga do pedreiro que mexe a
massa, dos moleques que suspendem as latas, é preciso harmonia na interação
coletiva, é preciso sintonia entre as partes, tal sintonia, tal harmonia, a
engenharia humana é incapaz de explicar.
A tentativa fracassada dos nossos antepassados em
erguer uma torre que transcende as nuvens se deu pela incapacidade de
compreensão, a diversidade de idiomas foi o grande problema, naquele instante,
muitos eram os idiomas falados, todas as línguas do mundo ali estavam, exceto a
linguagem dos olhos, exceto a língua universal da compreensão, a língua do
feeling, a língua da boa vontade não era falada em meio aquela confusão, com
isso o fracasso foi inevitável, a torre veio a baixo, ruiu e soterrou a
petulância daqueles que buscavam ascender aos céus.
No topo dessa torre jamais construída está a
resposta para os mistérios da vida, pois em cima dela está o resultado da
união, está a unidade construída pelo poder da interação coletiva, os
construtores dessa torre não falam a mesma língua, não dispõem das mesmas
habilidades e força, todavia, possuem o poder da compreensão, sendo assim
possível somar forças para tamanha ambição, no topo dessa torre jamais construída está a resposta para o amor
a primeira vista, pois ele não necessitou de palavras pra acontecer, está o
amor incondicional, pois ele não precisou de condições pra existir, nela está toda
espirituosidade que faltou para os antepassados que fracassaram sob o senso
comum, incapazes de se adequarem em meio a incompreensão.
De cima dessa torre que jamais existiu é possível
assistir ao eclipse dos anjos, onde a luz angelical que emana dos céus ofusca
todas a formas de luz que vão para terra, uma luz tão forte capaz de ocultar de
nós toda a verdade que está além das portas do céu.
Talvez sejamos incapazes de construir algo tão
grandioso, talvez os deuses temam nossa aproximação, talvez Eles temam que essa
torre nos leve a tão procurada compreensão.
Enquanto isso, enquanto projetamos os fundamentos
dessa torre, você aí que é diferente de mim não me tema, você aí que é
diferente dele não o exclua, você aí atrás que se julga diferente de todos não se
sobreponha, você aí que supõe que todos são iguais não seja tolo, você aí que
sabe que é diferente de todos não se diminua, ora pois, antes que essa exortação me leve
ao apedrejamento, não irei propor aqui um brinde a diferença, pois ela é a razão
de todos os males, muito menos um brinde ao senso comum, pois ele é a certeza
dos grandes males.
Seja na
diferença ou na unidade, para que surja a torre da ascensão, só peço uma coisa,
só peço compreensão.