Ela sorriu, que decepção, o sorriso nos tempos atuais é o maior gesto de crueldade por parte da humanidade, nem a mais cruel das hienas se atreveria a sorrir em tempos de tamanha violência, um carnívoro que sobrevive de carcaças sabe muito bem o que é a miséria, os restos deixados pelos predadores maiores é o que garante a sobrevivência das hienas, talvez isso justifique aquele sorriso sádico, aquele riso demoníaco sob o instinto do “rir para não chorar”, é de se supor então que a hiena seja o mais repugnante dos predadores, o predador que fica a espreita, se aproveitando do trabalho alheio, que se diverte com a tragédia a qual a natureza lhe submeteu, neste mundo tenebroso então, sorrir é o grande pecado, muitos não vivem a tragédia, nem todos são vítimas da violência, contudo, a violência aí está, chacinas em hospitais, violência contra a saúde, assaltos em escadões, violência contra o indivíduo, mas tudo bem, faça como as hienas, sorria da tragédia, sorria da desgraça, sorria e admita a ignorância, a ideia de que quem canta os males espanta é totalmente equivocada, quem canta os hipócritas encanta, é um erro cantar enquanto o mundo grita de dor, aquela linda bola na trave que não altera o placar, que leva a torcida ao delírio não é tão impressionante quanto o menino que vai pra fera vender suas laranjas, o gesto do menino que vai pra fera vender suas laranjas tem pouco valor em comparação aos negrinhos da Somália que jamais viram uma laranja, o menino que vai pra fera deveria se envergonhar de vender laranjas, com muito suor ele vende laranjas enquanto as crianças da Somália suam de fome, que vergonha menino, que vergonha!
A diversão pois então está
proibida, proibido também está o prazer e por extensão o tesão, prazer de
apreciar um suco gelado, de saborear um bom prato, tá tudo proibido, tá tudo
errado, seria um grande egoísmo gozar enquanto a outra parte dos nossos irmãos
humanos agonizam em miséria, parte do mundo em luto e a outra parte em festa,
sendo assim, só uma saída nos resta, convocar o militantes de sofá, convocar os
revolucionários de Facebook, aqueles que cobram dos eleitores consciência na
hora de votar como se houvessem bons candidatos, eles são frutos da pseuda-intelectualidade,
aqueles que bravejam por vaidade e não por buscarem a real mudança, afinal, quem
de fato busca a solução não procede com amargura, age de bom coração, quem
busca a mudança não se engrandece com a ignorância alheia, mas sim busca
elucidar quem sofre de cegueira.
Esse seu maldito sorriso meu bem
é decepcionante tanto quanto interessante, é uma ofensa aos politizados das
redes sociais que atacam com empolgação vazia nosso corrupto e lindo país
tropical, esses indignados proibiram o encontro com a alegria, eles agem amargamente
e fazem como as hienas, proíbem o riso, mas riem sobre as carcaças, proíbem a
alegria mas não hesitam em se aproveitar das sobras e da carniça, se divertem as
escondidas, gritam gol, vibram com nocautes, mas são incapazes de dar o outro
lado da face para um novo tapa, enquanto os ignorantes que sequer sabem o que é
uma democracia praticam o altruísmo, os intelectuais de Facebook ostentam o
conhecimento em política após uma rápida pesquisa no Wikipédia, enquanto as
vítimas da desigualdade social, enquanto os
mal educados praticam a caridade, eles dissertam sobre a criminalidade.
O mundo está torto, as vias
congestionadas, os noticiários vermelhos de sangue, o Palmeiras em má fase e
nesse exato instante ela surge radiante, em meio a tanta injustiça, em meio a confusão ela aparece, penso em como é possível haver tanta desigualdade,
estava ela em torno da nata da beleza mundial, no fluxo do maior evento
esportivo que o mundo já teve,
havia ali então belezas desiguais, uruguaias pálidas, colombianas escuras,
argentinas magras, boliviana gordas, havia ali européias baixinhas, asiáticas
altivas, marfinenses ricas e costa-riquenhas pobres, mas mais do que toda essa diversidade ali estava a brasilidade, ela sorria para esse machucado mundo em festa, um
mundo com suas feridas atenuadas pela manha brasileira, pelo gesto tropical,
pelo toque, pelo divino e pelo profano.
Havia claramente expresso naquele
olhar sorridente a chave do bem e do mal, o sorriso acolhedor, convidativo,
capaz de lenir a angústia dos chateados, ou um sorriso acolhedor, convidativo, capaz
de ampliar a agonia dos indignados.
Viva ao Brasil, rumo ao hexa!