O caminho da direita leva à metrópole o caminho da esquerda leva ao campo e o caminho adiante leva ao litoral.
Na metrópole depararemos com falantes
da língua anciã, encontraremos falantes de dialetos tribais, até mesmo a língua
dos anjos é falada na metrópole, na metrópole há gatunos, maníacos, há também
obreiros e doutores. A eletricidade dessa cidade é composta por barracos
amontoados, o lixo do esgoto corre por entre os quintais, crianças descalças
com a bola no pé e o nariz escorrendo, senhores
alinhados em ternos com destino a arranha-céus, haja arranha-céus! Na metrópole
presenciamos a beleza das grandes edificações, vemos a primazia da engenharia
humana, os olhos se enchem com a plástica dos monumentos, há quem tenha vontade
de gritar em meio a tantos carros, olhos cegos por banners luminosos e pela
ganância, é tudo muito lindo, o artificial brilho metálico em duelo com o céu
cinzento, o perfume de jasmim exalado
pelas mulheres da vida noturna, na metrópole testemunhamos o contraste entre a organizada civilização do crime e a desorganizada
honestidade civil, os arquivos que contam a história da humanidade e dos
animais encontram-se nos cofres dessa grande metrópole, nessa metrópole está o
conhecimento, aqui está o aborrecimento.
No campo presenciamos a beleza do
horizonte, somos tragados pela aterrorizante imensidão do firmamento, o leite é
grosso, a água é fresca e o tempero é forte, o verde lidera o colorido da
natureza, sobretudo na primavera, o silencio que traz a paz é facilmente
encontrado, a pouca intervenção do homem na forma do campo permite o contato
real com a herança deixada pelos ancestrais, a sabedoria deixada pelos antepassados só pode ser adquirida no campo, pois a cena do
crime foi minimamente alterada pelo homem, foi sim fortemente alterada pela força da natureza, vale dizer que em muitos
casos a natureza também tem culpa, basta ver lavouras destruídas pela chuva que vem sem
avisar, casebres que não resistem a fúria do vento, a exemplo da metrópole o
campo também traz aborrecimentos.
No litoral é possível ver o mar,
o oceano, além do oceano está a outra parte do mundo, estão novas metrópoles,
novas regiões rurais, novas praias, a única maneira de ter acesso a esse todo,
ao conhecimento de novos povos é passando pelo oceano, para chegar ao oceano é necessário chegar no
litoral, é possível dizer então que as técnicas de cultivo do campo, a
pecuária, agricultura, que as línguas existentes na metrópole, o metal presente
na inteligência artificial desenvolvida nela, de alguma maneira passaram pelo
litoral, a origem do novo conhecimento teve seu inicio na praia, as grandes invasões,
tratados, batalhas deixaram vestígios na areia e foram levados pelo mar, em
outras palavras, olhar pro mar é olhar pra própria história é também olhar pro
futuro, pois o novo mundo está além dele, de certo modo o litoral tem em si
aborrecimentos tanto da metrópole quanto do campo.
A violência, a velocidade, o
aquecimento e a dinâmica tecnologia encontrada na metrópole darão ao cidadão
metropolitano a necessária insensibilidade para que ele tenha olhos atentos e
pés ligeiros diante do mal, para que ele tenha frieza quando as coisas
esquentarem, menos emoção e mais razão.
O ar puro e as cores encontradas
no campo darão ao cidadão campestre sabedoria para que ele seja sagaz quando o
tédio bater à porta, a unidade da natureza conduzirá ele a paixão, assim como
ocorreu no jardim do Éden, a paixão prevaleceu e as coisas ficaram mais
interessantes, mais emoção e menos razão.
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