terça-feira, 6 de maio de 2014

Crossover



O caminho da direita leva à metrópole o caminho da esquerda leva ao campo e o caminho adiante leva ao litoral.

Na metrópole depararemos com falantes da língua anciã, encontraremos falantes de dialetos tribais, até mesmo a língua dos anjos é falada na metrópole, na metrópole há gatunos, maníacos, há também obreiros e doutores. A eletricidade dessa cidade é composta por barracos amontoados, o lixo do esgoto corre por entre os quintais, crianças descalças com a bola no pé e o nariz escorrendo, senhores alinhados em ternos com destino a arranha-céus, haja arranha-céus! Na metrópole presenciamos a beleza das grandes edificações, vemos a primazia da engenharia humana, os olhos se enchem com a plástica dos monumentos, há quem tenha vontade de gritar em meio a tantos carros, olhos cegos por banners luminosos e pela ganância, é tudo muito lindo, o artificial brilho metálico em duelo com o céu cinzento,  o perfume de jasmim exalado pelas mulheres da vida noturna, na metrópole testemunhamos o contraste entre a organizada civilização do crime e a desorganizada honestidade civil, os arquivos que contam a história da humanidade e dos animais encontram-se nos cofres dessa grande metrópole, nessa metrópole está o conhecimento, aqui está o aborrecimento.

No campo presenciamos a beleza do horizonte, somos tragados pela aterrorizante imensidão do firmamento, o leite é grosso, a água é fresca e o tempero é forte, o verde lidera o colorido da natureza, sobretudo na primavera, o silencio que traz a paz é facilmente encontrado, a pouca intervenção do homem na forma do campo permite o contato real com a herança deixada pelos ancestrais, a sabedoria deixada  pelos antepassados só pode ser adquirida no campo, pois a cena do crime foi minimamente alterada pelo homem, foi sim fortemente alterada pela força da natureza, vale dizer que em muitos casos a natureza também tem culpa, basta ver lavouras destruídas pela chuva que vem sem avisar, casebres que não resistem a fúria do vento, a exemplo da metrópole o campo também traz aborrecimentos.

No litoral é possível ver o mar, o oceano, além do oceano está a outra parte do mundo, estão novas metrópoles, novas regiões rurais, novas praias, a única maneira de ter acesso a esse todo, ao conhecimento de novos povos é passando pelo oceano, para chegar ao oceano é necessário chegar no litoral, é possível dizer então que as técnicas de cultivo do campo, a pecuária, agricultura, que as línguas existentes na metrópole, o metal presente na inteligência artificial desenvolvida nela, de alguma maneira passaram pelo litoral, a origem do novo conhecimento teve seu inicio na praia, as grandes invasões, tratados, batalhas deixaram vestígios na areia e foram levados pelo mar, em outras palavras, olhar pro mar é olhar pra própria história é também olhar pro futuro, pois o novo mundo está além dele, de certo modo o litoral tem em si aborrecimentos tanto da metrópole quanto do campo.

A violência, a velocidade, o aquecimento e a dinâmica tecnologia encontrada na metrópole darão ao cidadão metropolitano a necessária insensibilidade para que ele tenha olhos atentos e pés ligeiros diante do mal, para que ele tenha frieza quando as coisas esquentarem, menos emoção e mais razão.

O ar puro e as cores encontradas no campo darão ao cidadão campestre sabedoria para que ele seja sagaz quando o tédio bater à porta, a unidade da natureza conduzirá ele a paixão, assim como ocorreu no jardim do Éden, a paixão prevaleceu e as coisas ficaram mais interessantes, mais emoção e menos razão.

Já o mar será a válvula de escape, se ainda assim as coisas estiverem sem graça, cruze o oceano e encontre novas metrópoles, novos vilarejos, acredite, do outro lado também haverá muita tensão, muita paixão, muita razão, muita emoção, muitos aborrecimentos.

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