quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Ramble On


O que produzirá mais preguiça, encarar o corcovado de trem ou de van? Snowboard é mais honroso do que trenó nas quentes dunas do Maranhão, as águas do Amazonas de certo não substituirão a viciante hidro do nosso novo quarto meu pequeno irmão, migremos então para Maceió que está mais perto de casa, mais perto de Rebeca e de Maria Lúcia, springtimes dirão a próxima parada, que não seja tão infortuna quanto aquela da triste Porto Alegre, de lá quase desembocamos no Uruguai, que os deuses me livrem de Montevideu, me abisma pensar em rever o sorridente Pablo e a sinistra Bárbara, não esquecerei daquela amarga cerveja premium que me fez engasgar eternos segundos sob o escárnio dos hermanos provincianos, foi divertido e belo, já a desforra será digna de um cavalo lento que arrasta uma putrefata carroça de rodas quadradas; possivelmente não contribuiremos com a indústria de cartões postais, a extinta Polaroid no pescoço do rafinha suprirá a demanda, ora pois, temos que deixar mamãe atualizada acerca dos raios que bronzeiam a pele de seus meninos, a verdade dos puros olhos do rafinha me desmentirá diante da digna mesa que nos será posta e sequentemente lançada sobre nós, sairemos vivos diante de um novo argumento e agraciados com pedidos de desculpas em grosso castelhano mexicano, a um passo de El Paso e com dificuldades de ter Chigaco faremos um caminho mais longo e lícito com sabor de vinho português, ouviremos a boa Elis na capital ao lado de nossas colonizadoras de sotaque insuportável, muito provavelmente estarei sem voz, o cuidado de rafinha arrebatará de minhas mãos as canecas de chope gelado que irei reivindicar da argentina Karol, canecas que conquistei  em um jogo de bilhar ainda aqui no país do futebol, seria prudente ficar longe de ilhas, ilhas sempre dão boas histórias de terror, necessitam de barcos para serem alcançadas, barcos balaçam e acionam o meu refluxo e me remetem à imagens ilusórias que já foram apagadas através de silenciadores remates, mas se o caso for, em ilhas poderemos encontrar tesouros, dizem que elas conectam arco-íris, imagino que barris de ofuscação dourada faz tão bem aos olhos quanto ao bolso, entre umas e outras irei considerar a prostituição capitalista que silencia os modestos negando-lhes esse maravilhoso mundo, antes também nos fora negado, mas bravamente driblamos as convenções institucionais e quebramos os grilhões que prendiam a simplicidade de nossas mentes, nos agarramos à ilimitada ficção e a vendemos para senhores de fino trato, conseguimos portanto a carta de alforria que nos levará diretamente as vísceras da Africa, o suingue do pé e o repique da mão serão entendidos, ainda sob aprendizagem retornarei ao norte, a morte superará toda essa sorte, assim meu caro irmão, me conforta saber que e esses bons momentos insanos serão herdados pelo seu sobrinho de nome profano. 

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Transgressão à gravitação.

Mas veja o que sobrou, resignação por um refrão de amor, a rigorosos dois graus centígrados, um gelo eterno, em combate ao gélido nevoeiro serrano a fervorosa água do enferrujado chuveiro cai por mais de duas horas sobre a congelada careca, o lado de fora da choupana é castigado pelos granizos pontiagudos que batucam pelas telhas de zinco, as ruas de paralelepípedos são enfeitadas por musgos escorregadios, bem vivos são os ruídos dos ventos, ventania soberana por entre as cabanas e por sobre os riachos que descem montanha a baixo, o distúrbio harmônico composto pelos fenômenos naturais resguardam desentoados raios solares que escapam por finas brechas, o lado de dentro também é assombrado, assombrado pela cama vazia, pelos chiados do micro rádio, pelo aterrorizante cenário abstrato imerso no quadro torto, pela televisão queimada, pelo celular fora de área, pela imprópria nudez ao cair da toalha que é prontamente substituída pelo edredom à frente que também é rapidamente trocado pelo cantil de alambique mineiro, o ato da ingestão revigorante aquece a preguiçosa mente e a resfriada pele, os ponteiros apontam apenas três horas de descanso, um necessário repouso que antecederá a consagração do sacramento, que precederá a passagem para o submundo que será construído concretamente de modo intangível nas entranhas do Subbar, o almejado descanso é abençoado por uma gigantesca cama e pela trilha da leve percussão chuvosa que assume o comando no lugar das estrondosas pedras de gelo enviadas pelos céus, o feixe de luz alaranjado que invade o quarto pela minúscula rachadura da porta anuncia o fim da tarde e o início da peculiar solenidade das trevas, é a deixa para o fechar dos olhos com destino ao prometido sonho bom que não foi guardado, então o trilhado “caminho só” pelas maravilhosas estradas do subconsciente expõe os vestígios das solas forjadas nos asfaltos e marcadas nas areias, para cada marca de chinelo um sapato diferente, para cada sapato uma história, para cada história uma sandália, sandálias elegantes condizentes com o esplendor dos monumentos que configuram o indeciso cenário, hora pelas ruas de São Paulo, hora pelas ladeiras de Osasco, a capacidade de viver o imaginário iguala o real ao irreal, por assim ser, os deleites possíveis apenas no irreal são vividos no real, bem como a busca vã no real se repete nos passeios irreais; em meio a essa árdua caça à presa que está presa, o despertar acontece por intervenção do moderno aparelho celular que é tudo menos telefone, os olhos se abrem e os ouvidos se trancam pra “Juke”, o período de três horas expirou, é hora de encarar as reais prometidas sete horas que dará acesso ao único e verdadeiro livre arbítrio, onde patrões, presidentes, reis e principalmente deuses são despedidos e depostos dando enfim lugar aos miseráveis e mal aproveitados setenta e três anos concedidos mesquinhamente aos samaritanos magnetizados na gravidade da terra, ora, é tudo muito rápido, muito feliz. É Grave!