quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Canção em vão.


Os altivos guerreiros mitológicos avançavam com profunda antipatia em sentido a batalha dos deleites, eles moviam-se em velocidade sonora, contudo, como um trovão, a Senhora do tempo surgiu de fronte para esses guerreiros interrompendo a progressão dos mesmos, ela pousou num pico ponte agudo equipada de uma gigantesca espada, fitou-lhes e disse:


- A partir daqui apenas os mansos de coração irão prosseguir, os demais serão bem vindos em ficar por aqui esperando, é o fim da linha, quanto aos endinheirados e aos que renunciaram ao ego e a honraria de ter uma identidade gloriosa também estarão autorizados a prosseguirem, saibam portanto, límpidos, vocês que estão munidos de sua maior arma, o choro, o pranto, que estou lhes concedendo esse privilégio unicamente por entender que com essa poderosa arma vocês estarão aptos para atenderem os meus desejos e realizarem minhas vontades, quanto aos demais, dispenso suas oferendas, rejeito seus louvores manifestos por esses alaúdes vintages, saibam que se tentarem avançar não terei piedade em dizimá-los.

Dentre os sete guerreiros presentes, apenas um não atendia aos requisitos da Senhora do tempo, já os outros seis avançaram para o próximo estágio da guerra com a benção daquela guerreira divina, todavia, o único guerreiro que permaneceu sabia que os outros seis seriam facilmente derrotados no calor da batalha dos deleites, mas sabia também que se tentasse avançar aquela bela mulher iria derrotá-lo com um simples movimento, ele portanto, propôs à Senhora do tempo que lhe concedesse uma oportunidade de provar a ela que mesmo não atendendo aos seus requisitos, poderia tentar cativá-la com uma última tentativa de louvor ao seu nome:

- Oh senhora do tempo, permita-me tributar a ti um último soneto? Dedicar-lhe a última canção?

- Permito pobre guerreiro, mas se tal canção não soar bem aos meus ouvidos irei reduzi-lo ao pó da terra!

- Pois bem, aceito o desafio, eu não posso chorar ou pedir por misericórdia numa batalha tão sangrenta, não posso perder minha identidade me submetendo a vontade dos lascivos carnais, estou prosseguindo rumo a um alvo, sendo assim, utilizarei da minha última arma para conquistar esse intento, sem temer a morte, saiba que no dia em que aqueles homens renunciaram a si mesmo para atenderem os requisitos impostos por ti, eles assinaram um passaporte para o inferno, caso eu falhe na minha canção também estarei no inferno, mas o inferno para o qual eu irei será após a morte e não durante a vida, pois não há nada pior do que ser vítima do inferno da ilusão.

- Acredite homem, não existe nada pior do que a morte real, eles estarão melhores de baixo de minhas concessões ilusórias, felizes e presos às minhas vontades, mas chega de conversa fiada, vamos guerreiro, comece a tocar! Cante para mim!

A fadiga e as feridas adquiridas nas batalhas antecedentes contribuíram para a profunda lástima expressiva na canção do “selvagem” guerreiro, cada nota expressa em seu alaúde desenhava as pedras que a senhora do tempo deixou em seu caminho, o longo e envolvente solo substituía as lágrimas jamais derramadas, a força de seu vocal etílico tragava o ar transformando-o em um brado carregado de feeling , por fim, todo o louvor sincero manifesto na canção que objetivava elucidar a senhora do tempo, foi finalizado com o encaixe de sua espada no abdômen do guerreiro enquanto ele ainda progredia para o refrão principal:

- Oh bendito guerreiro, me perdoe pela minha incapacidade de ouvir sua canção, não posso arriscar perder minha divindade em troca do cultivo dessa canção apaixonante, tenho objetivos maiores nessa guerra dos deleites, se eu permitisse que concluísse essa maravilhosa canção, certamente eu iria sucumbir diante de tamanho talento, renunciaria a minha divindade para ouvi-lo sempre que possível, portanto, irei ao encontro dos outros guerreiros para ajudá-los a vencer a batalha final, pois sem mim eles são incapazes, eles dependem do meu poder e eu dependo do choro e da submissão deles, sem eles não sei viver, aqueles belos guerreiros são o ar que eu respiro, agora pois, você já não me atrapalhará nesse guerra sangrenta – Dito isto, a senhora do tempo removeu sua espada do corpo do guerreiro, deitou-lhe cuidadosamente no chão ao lado de seu alaúde e partiu rumo ao seu objetivo de vencer a guerra ao lado daqueles frágeis combatentes.

A última canção do lendário guerreiro fora interrompida por um golpe impiedoso, tal guerreiro morreu em prol da ambição da senhora do tempo que o suprimiu até a morte para concretizar suas vontades, ela no entanto, venceu a guerra ritmada pelas notas do finado trovador que de modo afinado e terno gravou em seu coração as notas daquela última canção.

3 comentários:

  1. por mais capaz que esse guerreiro fosse, jamais ele estaria com essa Deusa, o egoismo que ela traz torna impossivel que ela perca a condição de intocavel, se ele chegasse a concluir a canção, ela estaria sobre o seu "jutsu" e assim ela interompeu o ato, e os outros guerreiros cheios de virtudes sucumbem-se diate a ela, sem chamais atingir sua divindade.


    belo texto bluesman

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  2. O "Genjutso" dela rima com o choro daquele que rola no chão pedindo clemência!

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