quarta-feira, 16 de maio de 2012

Mátria Amada!



 Aqui do Pernambuco, Raimundo Nonato medita em alto rio são Francisco em como levar sua pequena primogênita de volta para a terra da garoa, ele a quer próximo do maior centro de medicina da América latina, usufruir ao lado de sua pequenina da diversidade gastronômica, levá-la nos maiores eventos, shows e atrações mundiais possíveis apenas na maior metrópole da América do sul, mas também quer que ela sinta o sabor do oxigênio, o fulgor do sol atenuado por fortes rajadas de refrescantes ventanias, pescarias matinais, cavalgadas rumo ao por do sol, olhos famintos por horizonte e qualidade de vida vividos apenas na natureza da manhã, reside então o grande impasse entre a beleza no artifício da cidade e seus valores culturais e o apaixonante calor do nordeste que aquece o sangue, dúvida entre o cancerígeno trânsito de São Paulo e a desordem da violenta Petrolina, dúvida entre as corpulentas nordestinas e as elegantes paulistas miscigenadas.


 Ele decide então ficar, sente pois então saudades do fervoroso caldeirão saopaulino em  partidas dominicais no bairro do Morumbi, parte para São Paulo, sente Saudades pois então dos terapêuticos mergulhos noturnos em vias fluviais, volta para o norte e sofre com a amplificação de suas cáries por não confiar nos dentistas locais, volta para Sampa e percebe que rede combina apenas com pomares, volta ao calor do sertão e lamenta por não poder usar aquele belo sobretudo italiano, parte então pra Itália e percebe que a pizza a exemplo do futebol que naturalizou-se brasileiro pediu junto ao consulado cidadania paulistana, de volta à São Paulo se lembra com bom grado do espírito milenar inerente ao velho continente, foge novamente para o nordeste e toma um chá quente ao lado de um magrelo negro homossexual que o ridiculariza ao ingerir uma forte dose de conhaque Dreher, envergonhado volta a residir em Higienópolis e é seriamente ferido por altivos nazistas skin reds (pseudos europeus), temeroso se refugia na Bahia e é esfaqueado pelo "upa neguinho!" na ladeira da preguiça, pede abrigo para Bárbara Oliveira em Londres e percebe que lá não tem coco, nem salsa, nem Zeca, nem pé de moleque e nem tampouco baleiro, decide então encarar  a violência por possuir braços fortes e se encanta com a bela menina que ofusca o corcovado em plena cidade maravilhosa, mas o "fainque" lá ouvido lhe afugenta novamente à São Paulo onde ele adquire o vício por mangás e karaoquês com seus amigos da academia de karatê no bairro da liberdade, tal convivência nos tatames lhe apresentou um matuto louro que o convenceu a viver no extremo sul do país, lá viu analfabetos e doutores afanados por Maradona, por ser fã de Pelé partiu para Santos e aos  poucos foi subindo até chegar no litoral norte, já nos mares azuis conheceu a Má Lila que partiu seu coração o fazendo novamente voltar ao norte onde foi chifrado por um boi bravo e assim voltou à São Paulo para se tratar no hospital das clínicas, religioso como é, atribuiu sua cura a força da alquimia praticada pela feiticeira que conheceu no avião, torna-se então discípulo de Alister Crawley e compra uma guitarra Les paul para se envenenar no heavy metal, aprende alguns acordes e abandona a guitarra para enfim buscar sua filhinha, mas dessa vez não para trazê-la de volta para São Paulo e sim para que ela o acompanhe em suas expedições mundo afora, ou melhor, para acompanhá-lo em suas expedições Brasil adentro, pois o Brasil pode ser considerado um continente por conta de sua extensão territorial e talvez até um planeta por conta de sua diversidade, quer seja ela na fauna ou na flora, no samba ou no futsal, pois na flora temos hortelã e eucalipto, na fauna temos Lapicho e Tatu, no Samba Reginho e Cartola e no futsal falcão e até gavião, violentos gaviões da fiel que mancham nossos jovens do futebol de modo independente, nesse vai e vem eterno ele desenvolve seu linguajar brasileiro de poesia crua e percebe que a pronúncia alemã e o tom nasalado do mandarim não motivariam e nem inspirariam o brado expressivo de Elis.

 Lhe exorto meu caro Raimundo Nonato! Não há para onde fugir, em Votuporanga ou em Juazeiro seus cabelos permanecerão crespos e emaranhados, no Maranhão ou no Japão seu tom permanecerá desafinado, não seja desatinado, pois "não importa onde se nasce ou onde se busca refúgio, o que importa é o pensamento", ainda que queiras enfim residir eternamente na Nova Jerusalém, lhe recomendo ficar aqui no Planeta Brasil , pois nas bodas do cordeiro temos apenas "hosana, hosana, hosana nas alturas"! havemos de convir que isso é muito chato, entediante, não tem a menor graça, não tem o mínimo tempero, diga-se de passagem que o termo "tempero" combina muito bem com os coloridos filhos desse solo, dessa mátria odiada Brasil.