Em fevereiro tem carnaval, é tempo de saborear, de explorar os receptores sensoriais do paladar, muita energia é gasta nos blocos em molde de micareta nos quarteirões e esquinões de Santa Catarina, energia reposta por saborosas iguarias marinhas temperadas por especiarias indígenas, o desgaste físico é compensado pela consistente polenta que enfeita os apetitosos pedaços de suínos ao molho picante, energia renovada, inicia-se novamente o ciclo carnavalesco divido entre danças e loiras, cervejas extra e mesa farta.
Nesse período as células gustativas pedem férias, sobretudo em São Paulo, a capital mundial da gastronomia, em sampa é possível ver o samba amanhecer, pelas tradicionais quadras, altivas mulatas personificam o desgastante prazer no ato da contemplação, tanto que pela manhã um cuz-cuz recheado antecederia muito bem uma leve moqueca, a leve moqueca que prepararia o corpo para o forte ritmo das arquibancadas do Anhambi, já na Marquês de Sapucaí, na cidade maravilhosa, a maratona das arquibancadas é bem mais intensa, os foliões adentram nela empanturrados por uma deleitosa feijoada completa, transpirando os apetitosos caldos que dão energia em contribuição a exaustiva lascívia dos bastidores.
Em Minas Gerais, o sentido da visão divide com o paladar o pesado fardo da degustação em dias de carnaval, os pratos mineiros concedem à visão o direito de saboreá-los, verdadeiras obras plásticas que arrebatam o sabor por conta da beleza estética, costeletas ao forno, frutas empanadas e saladas fotográficas dão ânimo aos foliões que comem quietos por se calarem diante do eplendoroso roteiro gastronômico mineiro, já no nordeste o paladar se confronta com a verdadeira concepção de sabor, lá a sanfona canta mais vibrante, o sapateado é descalço, os bonecos são gigantes, os blocos mirabolantes, é o lugar do festival da carne, da carne seca, o delicioso mocotó de boi abastece toda a combustão do corpo nordestino que canta o frevo e dança o coco durante o cântico do galo.
Intrigante mesmo são os festivos no norte, no estado do Pará os blocos carregam a essência tupi, a alquimia de seus pratos desprovidos de influência européia se harmonizam com a particularidade de suas folias de beleza guarani, de beleza carnavalesca, de ritmo viril, beleza brasileira com o sabor do Brasil.