segunda-feira, 14 de março de 2011

Bola de fogo.

As leis trabalhistas na Argentina dão ao trabalhador apenas quinze dias de férias, quando soube dessa informação contive meu riso diante das harmoniosas hermanas, afinal aqui no Brasil temos trinta dias de férias, não obstante à infinidade de feriados, sem mencionar o festival da carne, o nosso carnaval de Olinda de bonitas bonecas lindas, sem falar dos ritos amazonenses repletos de carnalidade, da maravilhosa concupiscência de nossas madrinhas de bateria que sambam na ponte Rio-São Paulo. Digo portanto, que o verdadeiro espírito da Saturnália está aqui no Brasil, é um período miraculoso, o mundo europeu, povos da Ásia menor, a África daqui e a de lá se compactam em terrenos santificados, esses terrenos são de asfalto, de areia e até de barro, há quem prefira dizer sambódromo, arena, praça, dentre outros.

O Carnaval Brasileiro é tão prestigioso que até os espirituais religiosos são beneficiados com esse festejo pagão, o belo feriado de quatro dias e meio concedido pelo festival da carne permite aos mortais religiosos quatro dias e meio de descanso espiritual, eles exilam-se dos que se desgastam e gastam a carne na volúpia maratona carnavalesca, eles aproveitam esse período para fortalecer a fé, o carnaval também abre precedentes a eventos prolongados, para grandes reuniões familiares com viagens fora do período de férias.

É no carnaval que surgem grandes romances, aventuras passionais típicas do verão, nele também se adquiri novos conhecimentos através de novas amizades, carnaval é uma palavra de morfologia perfeita, possuidora de tantos significados subjetivos de ação objetiva, nesse carnaval no entanto, tive que renunciar à direção de um bloco, ansiei por esquadrinhar a alegoria do sugerido enredo, porém esse hábil tempo de quatro dias e meio não permitiu que eu curtisse o carnaval como se deve, esse tempo me levou para o cemitério das locomotivas, estive diante de esqueletos de trens ancestrais, eu estava fixado e circunvizinhado por gigantescos vagões que fitavam-me sob uma tenebrosa e intensa neblina noturna, o ferrugem dos trilhos refletiam a luz da lua acompanhada de nuvens hostis, quando enfim a cancela se abriu, aceleramos o carro com destino ao subterrâneo do cemitério, a trilha de Big Bill Broonzy dentro do carro foi interrompida pelos apitos cheio de delay que ecoavam pela morada dos falecidos trens acompanhados por centenas de árvores bem vivas e esvoaçantes, curioso foi estar no subterrâneo repleto de árvores, a verdade é que em momento algum fui tomado pelo temor, extraí a experiência prática necessária para desenvolver o roteiro do curta metragem que mostrará a execução do blues brasileiro.

Já que o carnaval 2011 se foi, logo após esse documentário começará o meu, o seu, o nosso carnaval, esse sim mostrará o verdadeiro milagre da Saturnália.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Nós gostamos muito desse disco seu.




Enquanto eu praguejava contra o sinistro trânsito de São Paulo me lembrei da miséria do Haiti e  me envergonhei da barriga cheia e do desnecessário protesto. Não posso estimar o tamanho da penúria vivida por lá, enxergamos apenas uma árvore, para que vejamos a floresta é necessário que experenciemos o fardo e a dor, o julgamento baseado apenas em teorias é impreciso, portanto um julgamento equivocado, as facas que passearam pelas peles de mártires e os açoites que respigaram em negros dorsos deram às vítimas o conhecimento da redenção, da resignação derivada da tormenta, assim, não irei me atrever em avaliar a moda desesperadora de 1973.

Os calos nas mãos e a aspereza do cabo da inchada são agonias que desconheço, então eu vou falar de passeios pelas ruas de São Paulo, por entre os carros, sob a consolação do amor na Consolação, de passeios na zona leste onde nasce o sol, do romântico caminho na marginal do rio pinheiros quando se põe o sol, veja o sol que arde aí no sertão, esse sol aqui em São Paulo não racha o chão, me lembro quando partiste, foram lágrimas diluviosas, por elas nasceu um rio, e hoje eu mando um abraço pra ti menininhha da terra do frio.

Misericordiosissimamente, com muita percussão melódica, com profunda melodia percussiva, foi feito uma máquina, esse álbum é uma máquina de rock, uma fábrica de sinfonias ancestrais, uma usina brega, esse álbum voará por mil oceanos, é o ronco do passado, é como vozes de eras passadas que ecoam pela mente.

O que eu posso fazer então? Eu não posso fazer nada, irei apenas ouvi-lo, apreciar a arte clássica renascentista com profundeza nordestina com fogo urbano e arpejos violentos.

Me condeno por não fazer nada, bem pior é ignorar Belchior.

Pensando bem não ficarei de braços cruzados, disponibilizarei o link para download desse poderoso álbum: