
- Do you like John Lee Hooker? - Apontando seu olhar pra mim -
- Yes I love him! Why do you ask me It?
- Cause you play like him!
Emudeci, cinco segundos de silêncio, minha audição fez uma busca de trezentos e sessenta graus, nessa busca minha audição pôde identificar a qualidade de todos que ali tocavam, eu definitivamente era o pior de todos, o único que não sabia tocar violão, mas eu entendi o feeling que fora expresso no momento em que toquei aqueles acordes, em virtude da minha incapacidade de tocar violão eu busquei acordes de modo particular fora do padrão “correto”, é comum aqui no Brasil em rodas de violão tocarem blues de doze compassos, quatro por quatro, naquela pegada rock blues bem amadora e clicherosa, eu como sou do delta, como tenho enraizado em meu cérebro Son House segui um padrão rítmico mississipiano, em virtude disso a gentil belga viu em mim um estilo John Lee Hooker, após essa honrosa referência senti meu ego inflando a ponto de explodir, agradeci ao elogio e me retirei da presença das moças, guardei o violão, pedi pra moça da recepção acessar uma rádio online e trilhar o som ambiente com canções do mestre Hooker, me dirigi ao bar do hotel e cultivei o recente elogio a base de altas canecas de chope gelado.
Enquanto entornava minha terceira caneca percebi que todos os aventureiros metropolitanos que partiram em busca do paraíso natural, que buscavam se desligarem da correria urbana encontraram uma centelha nesse ambiente de caráter paradisíaco, era nítido em todos presentes o prazer proveniente do repouso de espírito encontrado no éden daquele hotel, entretanto, percebi algo perigoso em tal ambiente, havia um enorme perigo por força das peculiares personalidades que compunham aquele espaço, haviam empresários madrilenos, médicos milaneses, comerciantes cariocas, engenheiros chilenos, atrizes alemãs, argentinos rippies, cinegrafistas amadores, fotógrafos profissionais, irlandeses missionários religiosos, e muitos paulistas safados detentores de altos cargos corporativistas, todos esses fugiam da mística que caracteriza uma grande metrópole, assim portanto, foi uma fuga vã por parte de todos, pois o compartilhamento coletivo das experiências profissionais de todos que ali estavam trouxe de modo indireto aquilo que eles procuravam ocultar, a troca de contato telefônico entre todos que confraternizavam era fruto de pretensões em comum entre os forasteiros, ao avaliar a diversidade de talentos, de grandiosos talentos compactados em um mesmo complexo, consegui visualizar o surgimento de um novo império, o surgimento de um novo sistema econômico regido por uma nova filosofia política desenvolvida por esse grupo de viajantes, e é aí que habita o referido perigo, afinal haviam seres extremamente talentosos suprimidos pelo bem estar do capitalismo, pela zona de conforto do bom trabalho rentável, contudo esses bem remunerados por conta dessa força capitalista indissolúvel não podiam exercer o verdadeiro potencial oculto, bastaria alguém propor uma revolução naquele meio que todos presentes encarariam o encargo revolucionário ali proposto, seria como jogar gasolina na fogueira.
Voltarei nesse ambiente sexta-feira agora e terminarei o que ficou pendente, vou botar fogo naquele lugar, vou riscar o estopim e assistir de camarote a esplendorosa explosão, após o baixar da fumaça irei ver o que acontece.
Quero ver quem ficará de pé!
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